A língua é a nossa quê?

Angola terminou o seu diagnóstico sobre a aplicação do novo acordo ortográfico da Língua Portuguesa nas escolas, com a confirmação de alguns aspectos que já tem vindo a levantar como preocupação para a sua ratificação.

A informação foi avançada pela porta-voz do encontro da Comissão Multissectorial para a Ratificação do Acordo Ortográfico, que esteve, esta quinta-feira, reunida em Luanda, para analisar o relatório de balanço de trabalhos técnicos e formação de quadros dos ministérios integrantes da comissão.

Segundo Paula Henriques, o encontro teve como objectivo fazer o balanço das actividades desenvolvidas pela comissão e a apresentação do relatório de diagnóstico sobre o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, aplicado nas escolas, em 2016.

A responsável sublinhou que se concluiu com o estudo, realizado em várias escolas de todo o país, junto de professores e alunos do segundo ciclo do ensino secundário, “que se confirmam alguns aspectos que Angola já tem vindo a levantar como preocupação e cujo resultado do diagnóstico a comissão multissectorial encaminhará ao Conselho de Ministros”.

Paula Henriques observou que Angola levantou já desde o primeiro momento, a questão da necessidade de se regular a forma de utilização das letras k, w e y, o que o Acordo Ortográfico não faz.

De acordo com a porta-voz, este não é o primeiro estudo, daí a confirmação de questões já levantadas por Angola, como a “facultatividade” – implícita e explícita – e não sistematização do acordo.

“É uma preocupação que será submetida ao Conselho de Ministros”, disse Paula Henriques, acrescentando que enquanto aguardam por novas instruções daquele órgão, continuarão a desenvolver outros estudos relacionados com a elaboração do vocabulário ortográfico angolano.

Com esses estudos, Angola pretende analisar a viabilidade da aplicação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa nas escolas.

Há um ano, o ministro da Educação de Angola, Pinda Simão, disse que estavam em cursos inquéritos à percepção da utilização do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, no seio da população, dos estudantes e dos professores, que vão contribuir para a ratificação por Angola.

O Governo angolano ainda não decidiu sobre a ratificação do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, situação igual à de Moçambique.

Em Portugal, a moratória sobre a aplicação do novo acordo, de 1990, terminou a 13 de Maio de 2015, data a partir da qual a sua utilização passou a ser obrigatória.

Vocabulário Ortográfico Comum de Língua Portuguesa

O Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP) lançou hoje, na cidade da Praia, Cabo Verde, a plataforma digital do Vocabulário Ortográfico Comum (VOC) com cerca de 310 mil vocábulos de cinco dos nove países que compõem a comunidade lusófona.

Margarita Correia, da equipa central do VOC, disse que a página integra, por agora, cinco Vocabulários Ortográficos Nacionais (VON): Brasil, Cabo Verde, Moçambique, Portugal e Timor-Leste.

A responsável, que é também membro do Centro de Estudos de Língua Geral e Aplicada da Universidade de Coimbra (CELGA-ILTEC), afirmou que Angola, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe estão em “três situações diferentes” para adoptar os respectivos vocabulários nacionais.

“O VOC de São Tomé e Príncipe está pronto e carece ainda de validação das autoridades do país, o de Angola está a ser elaborado e, de acordo com as notícias que temos, estará pronto em 2018 e o da Guiné-Bissau não foi possível levar a cabo”, indicou.

Em relação à Guiné Equatorial, embora tenha (supostamente) adoptado o português como língua oficial e aderido à CPLP em 2014, Margarita Correia disse que “do ponto de vista técnico não faz muito sentido” ter um vocabulário porque o português “não está em uso” no país.

Neste sentido, a responsável disse que a Guiné Equatorial vai seguir o vocabulário comum aos demais membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), que reconheceu formalmente o VOC na cimeira de chefes de Estados, que teve lugar em Díli, em Julho de 2014.

No caso de Cabo Verde, Moçambique e Timor-Leste, é a primeira vez que, com recurso a um léxico gráfico específico, é feito um levantamento sistemático das palavras em uso nesses países.

Sublinhando que o VOC é um “projecto aberto”, a membro da equipa científica disse que a qualquer momento poderão ser introduzidas novas palavras, incluindo dos três países em falta e com cada país a desenvolver ou actualizar o seu vocabulário.

Margarita Correia disse que a apresentação oficial do VOC da Língua Portuguesa é a concretização de uma prorrogativa do Acordo Ortográfico e a realização de um dos objectivos do plano de acção de Brasília, que atribuiu ao IILP a responsabilidade e produzir o vocabulário.

“Para a língua portuguesa é a primeira vez que aparecem os vocabulários de vários países alinhados, seguindo uma norma ortográfica comum, mas respeitando a variação que há em cada um dos Estados-membros”, avançou a especialista da equipa científica da plataforma, que será apresentada no âmbito da XII Reunião Ordinária do Conselho Científico do IILP.

Margarita Correia disse ainda que é a primeira vez que a língua portuguesa leva a cabo um projecto multilateral de gestão da língua e da política linguística, em que todos os países foram representados em igualdade de circunstâncias.

Também sublinhou a importância da normalização e harmonização da língua portuguesa e da disponibilização da lista de palavras ao público, através de uma consulta na página oficial na Internet.

A base de dados digital tem ainda como objectivo a promoção, difusão e projecção da língua portuguesa.

Folha 8 com Lusa

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One Thought to “A língua é a nossa quê?”

  1. José Gomes Ferreira

    No texto em apreço, fala-se “esta quinta-feira”. Em português de Portugal, o correcto é escrever “nesta quinta-feira”.

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