Cá no Folha 8, reflectindo o que é um desejo generalizados do povo faminto e, é claro, na linha da ONU que dá toda a cobertura a José Eduardo dos Santos, reiteramos o nosso contributo para o dossier de candidatura ao Prémio Nobel do Presidente, reconhecendo – ao contrário da Forbes – que ele é, no mínimo, o “querido líder” ou “o escolhido de Deus”.
U ma das suas características genéticas, que passou ao lado da Forbes e de todos quantos teimam em denegrir a sua divina visão estratégica, tem a ver com a capacidade de adaptação, interna e externa, para não olhar a meios para atingir os (seus) fins. Sobreviveu às mutações internas do MPLA, mesmo recorrendo aos jacarés para eliminar camaradas, e às externas, mantendo-se a flutuar com a queda do Muro de Berlim.
A sua longevidade no poder é digna de registo. José Eduardo dos Santos é, por enquanto, o segundo presidente da República há mais tempo em funções em todo o mundo. Apenas por um mês perde o primeiro lugar para o seu amigo Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, da Guiné Equatorial. Nunca foi nominalmente eleito. Mas é nisso que reside o seu segredo. Como reconhece, aceitou uma “democracia que foi imposta”, sabe que um dia passará de bestial a besta mas não está preocupado. Os paraísos fiscais não falam quando são alimentados pelo dinheiro do petróleo e dos diamantes.
Passando oficialmente, até talvez com alguma glorificação, ao lado dos massacres de 80 mil compatriotas do 27 de Maio, ultrapassou pela esquerda e pela direita os potenciais candidatos à sucessão de Agostinho Neto, casos de Lúcio Lara, Ambrósio Lukoki e Pascoal Luvualu. E conseguiu tal feito porque os que mandavam no MPLA acreditaram que ele seria um mero sipaio. Enganaram-se.
“Durante os primeiros anos fingi-me de morto. Deixei que me vissem como um fiel herdeiro do falecido Presidente e, ao mesmo tempo, fui libertando sem alarde os fraccionistas que haviam sobrevivido aos fuzilamentos e aos campos de concentração. Nomeei alguns para importantes cargos governamentais. Nunca mais criaram problemas”, escreve José Eduardo Agualusa no conto “O bom déspota”.
É claro que Eduardo dos Santos tem uma visão deferente sobre o tempo que leva no poder: “Eu acho que é muito tempo, até demasiado, mas também temos que ver as razões de natureza conjuntural que nos levaram a esta situação”, disse à Bandeirantes do Brasil, acrescentando que, “depois da independência, acho que foram trinta e tal anos de guerra, em que o país ficou adiado, portanto não pôde consolidar essas instituições do Estado, nem sequer pôde tornar regular o funcionamento do processo de democratização, por isso muitas vezes as eleições tiveram que ser adiadas”.
“A queda do Muro de Berlim aconteceu no momento certo. Por um lado, permitiu-me afastar um ou outro marxista fanático, trôpegas múmias ideológicas, perdidas no tempo, que não se deixavam comprar, nem com cargos nem com bens de consumo. Por outro, permitiu-me abrir o país às delícias do capitalismo, para benefício de toda a nossa grande família e do país em geral. A abertura ao capitalismo foi também a grande machadada na guerrilha, até essa altura apoiada pelos Estados Unidos e pela direita internacional. Se nós nos juntávamos ao capitalismo, porque haveria o capitalismo de nos combater?”, interroga José Eduardo Agualusa no referido conto.
Pois é. Foi isso mesmo. Como líder do MPLA, do governo e da República, Eduardo dos Santos, enterrou Lenine, o comunismo e rendeu-se ao capitalismo, aceitando mesmo que figurativamente se desse ao país uns laivos de democracia e de multipartidarismo.
Nessa enorme capacidade de assassinar os camaras de ontem e bajular os de hoje, Eduardo dos Santos fez com que o MPLA, no III Congresso extraordinário de 1992, deixasse de ser “Partido do Trabalho”, a República deixasse se ser “Popular” e até a Assembleia do Povo passa a ser Assembleia Nacional.
Sem o fantasma de Jonas Savimbi no activo, o país cresceu, cresceu. Entre 2004 e 2008 a economia registou um crescimento médio de 17% ao ano; a crise financeira internacional provocou uma sensível desaceleração entre 2009 e 2011, com valores entre 2,4% e 3,4%; mas o índice subiu em 2012 para perto dos 7%.
Mfonobong Nsehe, articulista da Forbes, diz que ”para cumprir os seus novos desígnios, José Eduardo dos Santos passou a conduzir o governo como se fosse a sua empresa de investimentos privada”. E fá-lo “canalizando as suas energias para intimidar os média e desviar fundos para a sua conta pessoal e da sua família”.
Rafael Marques diz que, para além da família, “o círculo dos mais endinheirados empresários angolanos é fechado por pessoas muito próximas a José Eduardo dos Santos de entre as quais avultam os generais Kopelipa e Dino Fragoso e Manuel Vicente, o vice-presidente.
“José Eduardo dos Santos está há tanto tempo no cargo que passou a governar o país como um autêntico monarca”, acusa por sua vez o cientista político Nelson Pestana, da Universidade Católica de Angola, e dirigente do Bloco Democrático.