O banco central angolano manteve a taxa de juro de referência em 19,5%, face à tendência de (eventual) desaceleração da inflação que prevê que se situe nos 17,5% este ano, avançou esta terça-feira o governador do Banco Nacional de Angola (BNA).
Manuel Tiago Dias, que falava em conferência de imprensa após a reunião do Comité de Política Monetária, destacou que todo o trabalho está a ser feito para se alcançar a taxa de inflação de um dígito nos próximos dois a três anos.
O comunicado saído da reunião refere que a inflação homóloga, referente aos últimos doze meses, manteve a sua trajectória descendente pelo sétimo mês consecutivo em Fevereiro, situando-se em 25,26% face aos 26,48% do mês anterior.
“Essa tendência deverá manter-se nos próximos meses, tendo em conta, por um lado, a adequação das condições monetárias ao ritmo de crescimento da actividade económica e, por outro lado, a maior disponibilidade dos produtos de amplo consumo”, considera o Banco Central.
Segundo o governador do BNA, o processo é de desaceleração, mas a inflação continua alta, realçando que em Junho e Julho de 2024 atingiu os 31% e em Agosto se iniciou o processo de desaceleração.
“É uma taxa bastante alta, razão pela qual todos os esforços do lado do Banco Nacional de Angola vão continuar a ser feitos para que passamos alcançar o nosso objectivo, de médio longo prazo, que é uma inflação de um dígito. Enquanto isto não acontece, nós temos um objectivo de uma inflação de 17,5% no final do ano em curso (…) ainda assim é alta”, salientou o Manuel Tiago Dias.
O Comité de Política Monetária do BNA decidiu manter a taxa BNA em 19,5% e a taxa de juro da facilidade permanente de cedência de liquidez em 20,5%, mas reduzir a taxa de juro da facilidade permanente de absorção de liquidez para 17,5%, com vista a “sinalizar a necessidade de uma maior dinâmica no mercado monetário interbancário”.
A nível monetário, no comunicado refere-se que a base monetária em moeda nacional contraiu 3,62% em Fevereiro deste ano, após ter contraído 0,07% em Janeiro passado, levando a variação acumulada para 3,69%.
De acordo com o comunicado, a redução da base monetária em Fevereiro deste ano reflectiu-se na diminuição das notas e moedas em circulação e também nas reservas obrigatórias em moeda nacional, em 0,45% e 10,96%, respectivamente.
Manuel Tiago Dias referiu que também o ‘stock’ de notas e moedas em poder público se reduziu em 3,21%, em Fevereiro, e em 12,38%, em termos acumulados.
O ‘stock’ de crédito à economia, em moeda nacional, atingiu 6,24 biliões de kwanzas (cerca de 5,9 mil milhões de euros) em Fevereiro de 2025, representando um aumento de 3,47%, face ao mês de Janeiro e um aumento acumulado de 3,87%, ou seja, 232,77 mil milhões de kwanzas (223,5 milhões de euros).
A próxima reunião do Comité de Política Monetária está marcada para Luanda, nos dias 20 e 21 de Maio de 2025.
Entre outras contas, no meio das encomendas superiores, registe-se que, por exemplo, a consultora Oxford Economics prevê que a inflação em Angola abrande para 19,2% em 2025, depois de subir 28,1% em 2024, e uma degradação do valor da moeda nacional, para 927,4 kwanzas por dólar.
“Projectamos que a média da taxa de câmbio da moeda nacional se enfraqueça, de 871,5 kwanzas por dólar em 2024, para 927,4 kwanzas por dólar este ano, o que vai manter a inflação sob pressão”, escrevem os analistas no comentário à evolução da inflação em Angola.
Na análise, enviada aos clientes, o departamento africano desta consultora britânica aponta para uma previsão de abrandamento da inflação para 19,2% este ano, o que compara com os 28,1% registados, em média, durante o ano passado.
“A nossa visão é que a inflação vai continuar a descer este ano, devido aos efeitos favoráveis de base e à inexistente pressão dos preços das matérias-primas”, escrevem os analistas, vincando que a desvalorização da moeda nacional, para mais de 900 kwanzas por dólar, durante o segundo semestre do ano passado, vai ajudar a abrandar a inflação este ano.
Angola não produz o suficiente para o consumo interno e isso é agravado pela proibição de importações. “Como não há produtos suficientes produzidos em Angola cria-se escassez”, explica reiteradamente o economista Heitor Carvalho, razão pela qual “quando há muita gente à procura de arroz, por exemplo, e não há arroz suficiente o preço sobe, assim acontece com todos os outros produtos”.
“Mesmo com a taxa de câmbio oficial fixa e uma enorme taxa de inflação, esse desequilíbrio entre o que produzimos e o que as pessoas procuram para comer mantém-se. Cortar a importação foi péssimo sob todos os pontos de vista”, diz Heitor Carvalho.
Para o economista, Angola não deve continuar a depender a sua taxa ao sabor do petróleo, mas na produtividade interna em relação à produtividade externa.
Heitor Carvalho rejeita acusações de que os planos do Fundo Monetário Internacional para Angola são responsáveis pela situação, afirmando que o FMI cumpriu o seu papel. “O FMI não tem culpa de nada”, afirmou.
Por seu turno, o economista Alves da Rocha pensa que “a grande razão da desvalorização do Kwanza é que a economia angolana não é forte, não é estruturada, não é diversificada”.
“Quando há um abalo no sector dos petróleos, naturalmente isso repercute-se de imediato nas finanças públicas e na própria economia”, acrescentou o economista para quem “sendo a economia dependente de importação, quando faltam divisas, para suportar estas importações, as dificuldades de funcionamento da economia nacional aumentam e como o kwanza não tem nenhum suporte estrutural, desvaloriza.”
Quanto ao papel do FMI nesta questão cambial, Alves da Rocha pensa que o problema está na fragilidade da nossa estrutura económica.
“O FMI na altura fez o seu papel com os acordos assinados, só que a economia angolana não tem fundamentos, não tem retaguarda, para interiorizar o que de positivo essas medidas tinham, mas é a nossa economia que não tem retaguarda, logo os efeitos perdem-se, não se verificam”, afirmou.
Do ponto de vista do general dono de Angola, nada disto é importante porque o MPLA fez mais e 50 anos do que os portugueses em 500.