Angola encontra-se num momento crucial à medida que as dinâmicas económicas e geopolíticas globais evoluem, apresentando desafios e oportunidades. A visita do Presidente Joe Biden, a primeira de um presidente dos Estados Unidos em exercício, coincide com as ameaças do presidente-eleito Donald Trump de impor tarifas aos países do BRICS — Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Irão, Egipto, Etiópia e Emirados Árabes Unidos. Esses eventos destacam o papel de Angola na transformação da ordem global e ressaltam o potencial do país para redefinir seu futuro económico e estratégico.
Por Christopher Burke (*)
Biden está em Angola para inaugurar o Corredor do Lobito, um projecto ferroviário de 3 bilhões de dólares apoiado pelos EUA, que conecta Angola à Zâmbia e à República Democrática do Congo (RDC). Esta iniciativa é um componente central da estratégia mais ampla dos EUA para diversificar as cadeias globais de suprimentos de minerais essenciais, como cobalto e lítio, fundamentais para tecnologias de energia limpa. O Corredor do Lobito estabelece uma alternativa à Iniciativa Cinturão e Rota (Belt and Road Initiative – BRI) da China, reforça o papel de Angola no comércio global e destaca o compromisso dos EUA em fortalecer parcerias com a África.
O Corredor do Lobito simboliza a crescente importância de Angola nas redes globais de comércio. As ricas reservas de minerais críticos do país, combinadas com sua localização estratégica, posicionam Angola como um actor vital na transição global para a energia renovável. O projecto também oferece a Angola uma oportunidade de expandir a sua base económica, atrair investimentos estrangeiros e aprofundar os laços com a economia global.
O engajamento com o bloco BRICS abre caminhos adicionais para o crescimento. Embora não seja um membro formal, Angola mantém fortes relações económicas com os países do BRICS, notadamente China e Brasil. As iniciativas do BRICS, como a promoção do comércio em moedas locais e o desenvolvimento de sistemas de pagamento digital, estão alinhadas com as aspirações de Angola de reduzir a dependência do dólar americano e fortalecer a soberania económica. A adopção de ferramentas como o BRICS Pay representa mecanismos inovadores para navegar no comércio internacional.
As experiências de Angola com empréstimos apoiados pela China, vinculados a exportações de petróleo, servem como um alerta para os riscos da dependência excessiva de dívida. O Presidente João Lourenço reconheceu as limitações desses acordos e enfatizou a necessidade de parcerias mais equilibradas e mutuamente benéficas, reflectindo uma estratégia mais ampla para diversificar os laços económicos enquanto mantém uma abordagem pragmática na política externa.
Angola precisa enfrentar os desafios domésticos que há muito têm impedido o seu progresso para aproveitar plenamente esses desenvolvimentos globais. Lacunas na infra-estrutura, a alta prevalência do comércio informal e sistemas monetários desalinhados dificultam a capacidade de Angola de se integrar efectivamente nos mercados regionais e globais. Iniciativas como a Área de Livre Comércio Continental Africana (AfCFTA) e o Sistema Pan-Africano de Pagamento e Liquidação (PAPSS) fornecem estruturas para superar essas barreiras; no entanto, seu sucesso exige investimentos sustentados, coordenação de políticas e apoio institucional robusto.
O Corredor do Lobito oferece uma solução concreta para alguns desses desafios, fortalecendo o comércio regional e ampliando a conectividade de Angola aos mercados globais. O projecto tem o potencial de atrair mais investimentos em indústrias locais, permitindo que Angola faça a transição de exportador de matérias-primas para produtor de bens de maior valor agregado. Subir na cadeia de valor cria empregos, estimula a diversificação económica e promove o crescimento a longo prazo.
À medida que Angola navega nas suas relações com os EUA, a China e o BRICS, o país está exclusivamente posicionado para emergir como um actor-chave num mundo cada vez mais multipolar. A diversificação das parcerias económicas é essencial. O Corredor do Lobito promete aprofundar os laços com os EUA; no entanto, é crucial que Luanda mantenha relações construtivas com os países do BRICS. Investir na industrialização e na manufactura local é vital para reduzir a dependência dos mercados globais de commodities voláteis. A participação activa em iniciativas regionais, como a AfCFTA e o PAPSS, reforçará ainda mais a competitividade de Angola dentro da África e no cenário global.
O foco crescente em África reflecte a crescente importância estratégica do continente e apresenta a Angola uma oportunidade sem precedentes de alavancar as suas vantagens geográficas, riqueza de minerais críticos e o papel crescente no comércio regional. Com a combinação certa de políticas, investimentos em infra-estrutura, promoção da integração regional e diversificação de parcerias, Angola tem as ferramentas para navegar nesse cenário complexo e emergir como líder na construção de uma ordem económica global mais equitativa.