A necessidade da permanente protecção do ambiente e do ecossistema da costa marítima angolana dominou hoje, em Luanda, a audiência que a Vice-Presidente da República, Esperança da Costa, concedeu à ambientalista Fernanda Renée.
Na ocasião, a ambientalista apresentou à governante o seu recente livro sobre a protecção dos mangais em Angola, lançado em Setembro deste ano, na sede da ONU, em Nova Iorque, EUA, durante a Cimeira do Futuro e 79ª a sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas.
Fernanda Renée disse à imprensa que o livro aborda a biodiversidade dos mangais, os desafios que esses ecossistemas enfrentam e as medidas que Angola tem adoptado para a sua conservação. “É um livro pedagógico, que visa aumentar a consciência pública sobre a importância desses ecossistemas”, sublinhou.
Fernanda Renée, também conselheira da República, acrescentou que os mangais desempenham funções essenciais, como a protecção da orla marítima contra a erosão, o suporte às comunidades de pescadores e a captura de carbono em níveis superiores aos das florestas.
Contudo, alertou que esses ecossistemas continuam ameaçados pela poluição, ocupação desordenada e práticas predatórias, enfatizando a importância de conjugação de esforços entre comunidades, associações, sociedade civil e governos para garantir a sua protecção.
A ambientalista enalteceu – como não poderia deixar de ser – o esforço conjunto do Executivo, das comunidades e da sociedade civil na conservação dos mangais, e disse que um dos maiores problemas é a ocupação de terrenos nas zonas costeiras.
Para Fernanda Renée, a visita do Presidente da República, João Lourenço, acompanhado pelo Presidente do MPLA e pelo Titular do Poder Executivo aos mangais reforça o compromisso do Executivo com a conservação ambiental.
Durante a audiência, contou, a Vice-Presidente lançou-lhe o desafio de expandir a literatura ambiental, incentivando-a a explorar os mangais de outras regiões do país, como de Cabinda e Zaire.
Angola (mais exactamente o MPLA) plantou em 2021 um milhão de mangues, no quadro de uma campanha de reflorestamento das zonas de mangais em toda a orla costeira do país, divulgou na altura o Governo. E, louvado seja Deus!, já aprenderam a plantar com as raízes para baixo…
De acordo com um comunicado de imprensa da vice-presidência de Angola, foram plantados cerca de 50.000 mangues, na comunidade do Quilómetro 26, comuna do Ramiro, tendo assim o país atingido a meta de plantação um milhão de mangues.
O desafio para a plantação de um milhão de mangues até Dezembro de 2021 foi lançado à sociedade angolana pelo então vice-presidente da República, Bornito de Sousa, durante o primeiro Workshop sobre Zonas Húmidas de Interesse Internacional, por ocasião do Dia Nacional do Ambiente, realizado em Fevereiro de 2021.
O mesmo apelo foi lançado à sociedade durante a Conferência sobre o Reforço dos Compromissos Políticos para a Melhoria e Conservação dos Mangais em África, iniciativa co-organizada pela União Africana e Governo angolano, no quadro da celebração do Dia Africano do Ambiente e Dia de Wangari Maathai.
Na altura, Bornito de Sousa defendeu ser necessário cuidar dos poucos mangais que ainda restam. “E aí onde, por acção humana, directa ou indirecta, deixaram de existir: vamos restaurar os mangais!”, referiu o vice-presidente, em Fevereiro de 2021.
De acordo com a nota oficial então divulgada, durante meses foram realizadas várias campanhas em Luanda, Bengo, Benguela, Cabinda e Zaire, envolvendo entidades públicas e privadas, voluntários, organizações nacionais, com destaque para a Organização Otchiva, que lidera o processo de mobilização da sociedade civil e parceiros.
“O posicionamento das autoridades angolanas face às questões climáticas, em particular os ecossistemas de mangais, tem servido de exemplo e inspiração para outras lideranças africanas e para o mundo inteiro, conforme referiu a União Africana”, sublinha o comunicado.
Em face deste processo, o Presidente João Lourenço foi distinguido com um prémio “pela sua dedicação às questões de defesa do Ambiente, em Washington, Estados Unidos da América, durante a Gala anual da International Conservation Caucus Foundation (ICCF)”.
“A 23 de Outubro de 2021, o Presidente João Lourenço, acompanhado da primeira-dama, Ana Dias Lourenço, participou numa campanha de plantação de mangues, no mesmo dia em que testemunhou a assinatura do acordo entre a Sonangol e a Organização Otchiva para o projecto “Sonangol Carbono Azul”, que tem impulsionado a restauração dos mangais com o envolvimento das comunidades locais”, salientava a nota.
Mais de 200 voluntários mobilizados pela Otchiva estiveram no terreno envolvidos na plantação dos cerca de 50.000 mangues.
Recorde-se que, no dia 23 de Outubro de 2021, o Presidente João Lourenço, ladeado da sua esposa, Ana Dias Lourenço, participou da campanha de reflorestação dos mangais, na comunidade do Tapu, distrito urbano dos Ramiros, litoral sul de Luanda.
Ao contrário das instruções de “plantação” que os peritos do MPLA aconselham, por oposição genética às regras dos portugueses, João Lourenço plantou as mangueiras com a raiz para… baixo.
Após calçar botas de borracha, João Lourenço, Ana Dias Lourenço, activistas ambientais e demais membros da sua delegação fizeram-se à zona húmida daquela localidade e procederam no perímetro, em quase meia hora, à plantação de mangais.
Pelo menos 300 mil pés de mangais deveriam ser plantados naquela localidade de Luanda, no âmbito de um acordo assinado entre a petrolífera estatal Sonangol e a associação ambiental Otchiva, que trabalha na plantação e conservação dos mangais.
Questionado pelos jornalistas sobre os conflitos do homem e o ambiente, sobretudo na ocupação de espaços para construção em zonas protegidas, João Lourenço disse que “não há razões para conflitos” porque “o que não falta em Angola são terras”. Verdade. O que falta é governantes sérios.
“O que não falta em Angola são terras, há muita área para construir, é uma questão de as autoridades competentes instruírem os investidores onde construir, não só resorts como casas de habitação e outro tipo de infra-estruturas, portanto não há razões para haver conflitos”, notou.
Em relação ao acordo rubricado entre a Sonangol e a Otchiva, que visa a implementação do projecto “Carbono Azul”, iniciativa da petrolífera em parceria com a associação, João Lourenço referiu que se enquadra na política do seu Governo para a protecção do planeta.
A Sonangol “é uma empresa pública, representa interesses do Estado, está a disponibilizar recursos, não importa se são volumosos ou não, mas são recursos públicos em prol da defesa do clima, da defesa do ambiente, portanto este projecto em concreto já se enquadra nesta política de se investir dinheiro para proteger o nosso planeta”, sublinhou.
O acordo entre a Sonangol e a Otchiva, que visa a reflorestação dos mangais no litoral de Angola, sobretudo nas províncias de Luanda, Bengo e Namibe, tem a duração de cinco anos renováveis. Sebastião Gaspar Martins, presidente do Conselho de Administração da petrolífera do MPLA, e Fernanda René, presidente da associação Otchiva, foram os signatários deste acordo que definiu já “acções prioritárias”.
A identificação de espécies de fauna e flora para a construção de uma base de dados regional, a sensibilização e promoção da educação ambiental, a realização de campanhas de reflorestação e de campanhas de limpeza nas zonas de mangais são algumas das “acções prioritárias”, como referiu, na ocasião, o director de Segurança, Saúde e Qualidade da Sonangol, Luís Fernandes.
Fernanda René enalteceu presença de João Lourenço nesta acção, falou da importação da protecção e restauração dos mangais para o ecossistema, exortando a todos a “se reconciliarem com a mãe natureza”. Defendeu ainda, na sua intervenção, a aprovação de uma legislação no país sobre a conservação dos mangais.