Angola colhe anualmente 6.500 toneladas de café para atender o mercado interno e externo, informou hoje, em Calandula, o secretário de Estado da Agricultura e Pecuária, Castro Camarada. Em 1974, Angola era auto-suficiente face à diversificação da economia e era o segundo produtor mundial de café Arábico.
Falando durante a abertura da Campanha Nacional de Colheita do Café, Castro Camarada disse que a cifra colhida é produzida na sua maioria pelo sector familiar.
Precisou que essa produção tem envolvido cerca de 17 mil produtores e abrange uma área de 36 mil hectares, considerando insuficiente para cobrir as necessidades do país, pelo que o Executivo (do MPLA há 49 anos) está apostado em potenciar os cafeicultores para o aumento da produção.
Castro Camarada disse haver possibilidades de se aumentar a produção, através da revitalização das antigas fazendas de café espalhadas pelo país e plantando novos campos, tendo desafiado os jovens agricultores a enveredar pelo cultivo desta cultura, com suporte do Estado e financiamentos da banca.
Recorde-se que, enquanto província ultramarina de Portugal, até 1974, Angola era auto-suficiente face à diversificação da economia e era o segundo produtor mundial de café Arábico.
Para tal, Castro Camarada fez saber que o Executivo vem trabalhando na distribuição de insumos, formação dos cafeicultores, instalação de viveiros e outras políticas que incentivam a produção, daí que em 2023, foram distribuídas cinco milhões de mudas de café aos produtores, com vista a reprodução do grão, com previsões de se melhorar a cifra de 6.500 toneladas/ano.
O governante apontou a necessidade de recuperação dos índices de produção que o país já atingiu em tempos remotos (era colonial, queria dizer mas faltou-lhe a coragem), dada a sua importância económica para o mercado nacional, tendo destacado as linhas de financiamentos do Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Agrícola (FADA) e outras criadas para o efeito.
Por outro lado, Castro Camarada enalteceu os níveis que Malanje vem registando, pelo que está a caminhar para os maiores produtores de café do país, ao lado das províncias do Uíge e do Cuanza Sul.
Por sua vez, o vice-governador de Malanje para o sector Político, Económico e Social, Franco Mufinda disse que a província conta com 530 produtores de café, que fazem uma produção anual de 33 toneladas.
Franco Mufinda manifestou a intenção do governo de continuar a interceder com vista a se apoiar cada vez mais os cafeicultores, através da formação e assistência, tendo apelado para a criação de cooperativas e legalização dos campos de cultivo de café, por forma a facilitar a aquisição de financiamentos e outros benefícios.
Entretanto, o administrador municipal em exercício de Calandula, Quita Ferreira deu a conhecer a existência de 267 produtores de café, que cultivam anualmente uma média de 21 toneladas, o que torna a região o celeiro do bago vermelho da província.
O OURO NEGRO DE ANGOLA
A produção de café angolano deve crescer anualmente 1,5% até 2025 sendo que 90% do total é feita por pequenos produtores familiares. Para nos ajudar a fazer o que, há 50 anos, faziam os portugueses, a União Europeia tem disponibilizado milhões de euros para reforçar o desenvolvimento da cadeia de valor do café.
Para o alcance deste crescimento, todos os actores do processo necessitam ter uma “visão estratégica comum”, porque Angola “tem argumentos para produzir cadeia de valor neste segmento”.
Sobre o assunto foi elaborado um estudo desenvolvido pela Aliança Europeia sobre Conhecimento Agrícola para o Desenvolvimento (Agrinatura) em colaboração com o Governo do MPLA e financiado pela Unidade de Segurança Alimentar, Nutrição e Desenvolvimento Rural da União Europeia.
Realizado em Setembro de 2019, nas províncias do Uíge, Cuanza Norte, Cuanza Sul e Huambo, a análise funcional do estudo refere que dos 24.785 produtores do café, 23.345 são pequenos agricultores familiares e os demais são produtores comerciais.
Segundo Bernardo Piazzardi, investigador da Agrinatura que apresentou a componente funcional do estudo, Angola conta com 15 unidades de descasque de café, localizadas nas unidades produtoras, mas apenas 50% das suas capacidades estão em funcionamento.
As quatro províncias angolanas, que constituíram objecto de estudo, dado o volume da sua produção cafeícola, compreendem uma área total de 79.721 hectares, mas, observou o especialista, Angola colhe apenas 38.878 hectares de café.
Para Bernardo Piazzardi, problemas de financiamento e baixo retorno económico contribuem para que Angola explore apenas 50% do seu potencial do café. As áreas de observação representam 75% de plantas antigas e o restante plantas novas, defendendo aposta na inovação.
Entre os principais constrangimentos na cadeia de valor do café angolano, no domínio da produção o estudo aponta a existência de plantas antigas, o sistema manual de produção, falta de assistência financeira, entre outras.
Matéria-prima de baixa qualidade, fragilidade dos fornecedores, infra-estruturas e serviços em condições deficientes constituem também alguns dos constrangimentos no domínio da transformação.
Para o então secretário de Estado da Agricultura e Pecuária, José Carlos Bettencourt, os resultados preliminares do estudo, financiado pela União Europeia, “estão em linha com as expectativas das autoridades” do país, admitindo a necessidade de “maior apoio” aos pequenos agricultores.
UNIÃO EUROPEIA FINANCIA A (IN)COMPETÊNCIA
Entretanto, a União Europeia (UE) disponibilizou 12 milhões de euros para reforçar o Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição das Importações (Prodesi), principalmente para o desenvolvimento da cadeia de valor do café.
A informação foi transmitida na altura, em Luanda, pelo embaixador da União Europeia em Angola, Tomas Ulicny, na abertura de um ‘workshop’ de apresentação e validação dos resultados preliminares sobre o estudo da cadeia de valor do café em Angola.
Ao longo de cinco anos da sua implementação, o estudo pretende “melhorar o crescimento” e o “contributo” da cadeia de valor do café na diversificação da economia angolana, através do “reforço da capacidade” de instituições como o Instituto Nacional do Café de Angola e a Agência de Investimento Privado e Promoção das Exportações de Angola.
Enquanto província ultramarina de Portugal, até 1974, Angola era auto-suficiente, face à diversificação da economia. Os angolanos que dirigem o país têm medo de aprender com quem sabe mais e fez melhor, muito melhor. Mas só assim poderemos ensinar a quem sabe menos.
Angola era o segundo produtor mundial de café Arábico; primeiro produtor mundial de bananas, através da província de Benguela, nos municípios da Ganda, Cubal, Cavaco e Tchongoroy. Só nesta região produzia-se tanta banana que alimentou, designadamente a Bélgica, Espanha e a Metrópole (Portugal) para além das colónias da época Cabo-Verde, Moçambique, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe.
Era igualmente o primeiro produtor africano de arroz através das regiões do (Luso) Moxico, Cacolo Manaquimbundo na Lunda Sul, Kanzar no Nordeste Lunda Norte e Bié.
Ainda no Leste, nas localidades de Luaco, Malude e Kossa, a “Diamang” (Companhia de Diamantes de Angola) tinha mais 80 mil cabeças de gado, desde bovino, suíno, lanígero e caprino, com uma abundante produção de ovos, leite, queijo e manteiga.
Na região da Baixa de Cassangue, havia a maior zona de produção de algodão, com a fábrica da Cotonang, que transformava o algodão, para além de produzir, óleo de soja, sabão e bagaço.
Na região de Moçâmedes, nas localidades do Tombwa, Lucira e Bentiaba, havia grandes extensões de salga de peixe onde se produzia, também enormes quantidades de “farinha de peixe”, exportada para a China e o Japão.
Em 2019, o ministro da Agricultura e Florestas, António de Assis, procedeu no município do Mungo (Huambo), ao lançamento do Programa de Revitalização da Cultura do Café Arábica no sector familiar, com o objectivo de contribuir para as estratégias de combate à pobreza e, ao mesmo tempo, garantir a segurança e a qualidade alimentar.
Decorrido na aldeia de Beteleme, a 157 quilómetros da cidade do Huambo, o acto, testemunhado pela então governadora do planalto central, Joana Lina, ficou marcado pela distribuição de 15 mil mudas de café arábica a 30 famílias camponesas desta localidade, que possui três mil moradores que têm a agricultura como fonte de sustento. Quanto não vale o simbolismo!
O programa iria beneficiar, numa primeira fase, os municípios do Bailundo, Chicala-Cholohanga, Londuimbali, Huambo e Mungo, com a selecção de 30 famílias camponesas de cada uma das localidades, num total de 150, com vista a evitar a monocultura e a criar sustentabilidade dos sistemas de produção no país.
Na época colonial, estes municípios eram capazes de produzir 1.600 toneladas de café comercial, cultivadas numa extensão de cinco mil hectares. Desde então, sob a égide sempre do mesmo partido, o MPLA, e ao fim de 49 anos de governação e, sobretudo, de 22 anos de paz total, ainda continuamos a não fazer o que os colonos portugueses faziam antes da independência.
Na ocasião, o ministro António de Assis disse tratar-se de um projecto de “extrema importância”, sobretudo quanto ao aumento do rendimento económico-financeiro das famílias, daí a razão de os camponeses cuidarem bem das plantas, para que elas possam dar os frutos desejados.
“A partir deste momento, as famílias que beneficiaram de uma muda de café devem ter em conta que receberam mais um filho. Então, precisam de saber se esse filho precisa de alguma coisa ou de correcção para crescer de forma saudável e a família sentir o orgulho de ter um membro capaz de resolver os seus problemas”, elucidou.
Deste modo, o governante pediu aos camponeses para estarem mais unidos e coesos, para fazer face aos desafios da diversificação económica e combate à pobreza, pois que o café é uma cultura de rendimento que, além de aumentar a possibilidade de as famílias ganharem mais dinheiro, pode potenciar o sector industrial.
Noutra parte da sua intervenção, o ministro da Agricultura e Florestas realçou que os técnicos do Instituto de Desenvolvimento Agrário (IDA) devem estar bem capacitados, para melhor contribuírem para a eficiência e eficácia do programa de desenvolvimento rural, numa altura em que o país se debate com a falta de fertilizantes.
António Francisco de Assis lembrou que Angola precisa, anualmente, em média, 170 mil toneladas de fertilizantes ou, no mínimo, 75 mil, para fazer face às necessidades do sector, daí a razão de estes profissionais serem mais patriotas, responsáveis, dedicados e rigorosos na gestão dos meios postos à disposição, para tornar a agricultura na base da economia nacional.
O ministro referiu que eles têm a missão de transmitir conhecimentos técnicos aos camponeses, a fim de aumentar a produção das principais culturas que concorrem para a redução da pobreza, sobretudo agora com a implementação do programa de revitalização do café.