Ao longo das peripécias travadas nos confrontos contra os próprios patrícios, o MPLA foi, escrupulosamente, adulterando todos os episódios, passando-nos a ideia de que o herói era o vilão e o vilão o herói. Nesta ordem de adulteração dos factos, a mais penalizada acaba sendo a História de Angola. Um dos factos que, como pulga na orelha, continua irrequieto, entretanto, longe de um ponto parágrafo, é o ataque ao comboio no Zenza do Itombe, na província do Kwanza-Norte. Quem foi, verdadeiramente, o responsável?
Por Domingos Miúdo
Sem a pretensão de ser objectivo na resposta, o General Kamalata Numa, ex-comandante das FALA – Forças Armadas de Libertação de Angola (UNITA), disse que a história do Zenza do Itombe, como muitas outras ocorrências, foi inventada pelo MPLA na justificativa de enterrar cada vez mais o apoio do Ocidente à UNITA.
O ex-companheiro de Jonas Savimbi, em conversava com os estudantes universitários sobre a História de Angola, disse que a equipa de reconhecimento do MPLA em Calomboloca já havia detectado rastos de militares da UNITA a penetrarem no interior, daí que se soube que haveria um ataque ao comboio ou às condutas de energia.
Kamalata Numa acredita que o Governo tinha preparado tudo, pois, por mais que soube que haveria uma emboscada pôs as pessoas lá com os materiais de guerra e combustíveis.
“O objectivo da operação era fazer arder aquelas pessoas, não importasse como. Não se pode misturar transporte de pessoas com combustíveis e munições”, referiu.
A ideia, conforme referiu José Gama num artigo publicado a 4 de Agosto de 2021, fazendo referência à entrevista dada pelo general Numa no Mambos com Chefe Indígena da TV8, foi colocar, propositadamente, civis no comboio para serem alvo de ataques e, portanto, criar comoção nacional colocando a UNITA na condição de assassinos das populações. E funcionou mesmo!
O ataque ao comboio no Zenza do Itombe ocorreu a 10 de Agosto de 2001, tendo ceifado mais de 250 vidas humanas.
Em memória, Kamalata Numa disse que a melhor operação já feita pela UNITA foi quando retiraram Savimbi de Luanda após as eleições de 1992. A manobra aconteceu na rota da Funda onde atravessariam o rio Bengo até a Petrangol, numa operação onde introduziriam três pelotões de comando.
“Quando Savimbi estava num avião sul-africano que o levava a Bicesse para a assinatura dos acordos, ao passar por Luanda chamaram-no à cabine de piloto para lhe mostrar um ponto preto, era a Petrangol. Os sul-africanos disseram-lhe que tinham sido os americanos que lá atacaram. Entretanto, Savimbi disse-lhes que não foram os americanos, que, portanto, o grande problema dos brancos era de não acreditar nas capacidades dos negros”, contou.
No diálogo, o político reiterou que com o MPLA, como já se sabe, não se faz acordos, tão pouco se faz cumpri-los. Nesta ordem, deixou um apelo aos jovens: “Se o MPLA continuar daqui a mais 50 anos no poder, os jovens que lutam para que Angola seja, na prática, um país democrático e igual também serão os culpados pelo atraso do país”.
Num oceano de tentativas para diabolizar Jonas Malheiro Savimbi, fundador e primeiro presidente da UNITA, existem gotas que defendem que, apesar dos seus erros, foi um dos líderes mais humano que a África já teve, e uma dessas gotas é o general Abílio José Augusto Kamalata Numa, que conviveu por anos com Savimbi, por isso, vaticina que o continente africano vai ficar muito tempo para ter um revolucionário como ele.
Nas palavras do general, Savimbi foi o único que ficou com o povo, lutou pelo e para o povo, sujeitou-se a perigos imensos e chuvas. Algo que ele não suportava era alguém pisar sobre o pobre. O seu propósito de vida era exactamente defender os menos equipados. “Foi a bandeira da sua luta”.
Para Savimbi, os dirigentes tinham que estar no interior, pois, era necessário estar com o povo e ensiná-lo conscientemente sobre questões de luta política, social e de luta pela democracia, algo que levava tempo ensinar a maior parte da população angolana que era analfabeta lá no interior.
Vale recordar que, Abílio José Augusto Kamalata Numa, em 1974, incorporou as fileiras da UNITA. Foi militar, frequentando cursos de Comando e Estado-maior, cursos de Estratégia e formação superior em Ciências Políticas no centro de estudos Comandante Kapessi Kafundanga. Atingiu o posto de General de quatro estrelas. Em 1991, incorporou o projecto de fundação das FAA (Forças Armadas Angolanas), onde foi co-fundador – conjuntamente com o General João de Matos (já falecido) -, com o posto de General de três estrelas.