As canções de Rui Veloso pulsaram corações de algumas centenas de portugueses e angolanos, que viveram com entusiasmo e alegria o espectáculo do cantor português, na noite de sábado, em Luanda, colorindo o show com danças e aplausos.
O espectáculo, que teve lugar no Centro de Conferências de Belas (CCB), zona sul de Luanda, começou pouco depois das nove da noite, com muitos fãs a prestigiar a ‘performance’ de Rui Veloso e sua banda, numa exibição aplaudida do princípio ao fim.
Apesar de a sala ser maioritariamente repleta de portugueses, jovens, adultos e até crianças, muitos angolanos também fizeram vénia ao “rei do rock português” e todos viveram irmanados o momento de cultura e fortes vibrações.
O cantor, compositor e guitarrista português de 65 anos, que regressou à capital angolana após quatro anos de ausência, subiu ao palco do CCB e percorreu os grandes êxitos da sua carreira, estreando-se com a música “Já não há canções de amor” e fechando a exibição com “Paixão”, mais conhecidas como “Anel de rubi” que levou ao delírio da plateia.
“Porto covo”, “O prometido é devido”, “Chico Fininho”, “Jura” e “Porto Sentido” também fizeram parte da “playlist” deste show organizado pela Terras Bela Eventos.
Entusiastas das canções de Rui Veloso celebraram, na sala do CCB, cada tema interpretado pelo “rockeiro” português, que em palco também manifestava gratidão pela presença da plateia e acompanhamento uníssono em cada música, testemunhou a Lusa.
As músicas “Chico Fininho” e “Paixão (Anel de rubi)”, bastante apreciada em Angola, dividiram as preferências dos espectadores, que enalteceram, logo ao início do espectáculo, a experiência, grandeza e o poderio vocal de Rui Veloso.
“É uma pessoa que canta muito e, por isso, representa a experiência, estamos aqui para ouvi-lo e celebrar”, disse a angolana Fernanda Correia, que trabalha no serviço de atendimento ao cliente de uma empresa privada.
Bruno Manteigas, português, chefe de cozinha do Hotel Trópico, em Luanda, também acorreu ao show para recordar o seu tempo de meninice, sobretudo nos bailes de dança com a música “Chico Fininho”.
“O Rui Veloso é um dos melhores músicos portugueses, desde miúdo que eu o ouço cantar e venho aqui ver, porque é a primeira vez que o posso ver ao vivo, eu gosto de todas as suas músicas”, disse à Lusa.
Emoção e nostalgia invadiram o coração “palpitante” da angolana Luidivina dos Santos, gestora de marketing e contabilista, que disse conhecer “muitas relíquias” de Rui Veloso, particularizando o tema “canção de rubi”.
“Muita coisa boa, muita emoção, muita nostalgia e tudo de bom, Rui Veloso é um cantor com muitos sucessos, muitas relíquias, mas estamos aqui a tentar controlar as emoções para o momento adequado”, realçou.
Já o português João Cordeiro, funcionário de supermercado, levantou a fasquia em relação à exibição de um dos maiores expoentes do rock português.
Rui Veloso “é um ícone em Portugal e já é a segunda vez que o oiço em Angola, a primeira vez foi por aí em 2013”, recordou João Cordeiro, manifestando igualmente apreço pela música “Chico Fininho”.
“Acho que ele é muito bom, tem uma grande voz e é um excelente músico”, realçou ainda.
Um dos momentos mais altos da noite foi o dueto que Rui Veloso fez, em palco, com a cantora angolana de jazz e R&B Anabela Aya, no tema “Má Fortuna”, em que a aveludada voz de Anabela Aya, associada a um toque de sensualidade, arrancou fortes aplausos do público.
O cantor português manifestou mesmo admiração pela voz e poder interpretativo de Anabela Aya, que ainda cantou de improviso o seu sucesso “Tic-Tac”.
Houve ainda tempo para um “jajão” (fingimento na gíria angolana), que terá sido protagonizado intencionalmente pela organização, em que Rui Veloso anunciava o encerramento do show sem interpretar o tão esperado “Anel de rubi”, para o espanto da plateia.
Minutos depois regressou ao palco, satisfez a vontade dos presentes e encerrou o universo de canções interpretadas na derradeira fase do espectáculo, fazendo o público vibrar, com o que era um dos temas mais esperados da noite.
O Negro Do Rádio De Pilhas
Vem descendo a avenida
O negro do rádio de pilhas
Todo contente da vida
Porque não chove e o sol brilha
Patilha comprida e carapinha
Com um visual garrido
Dançando enquanto caminha
Rádio colado ao ouvido
Sei de quem tem hi-fis
E lê enciclopédia
Mas este negro curte mais
Mesmo só com a onda média
Filho da savana
Primo de um coqueiro
Deus deu-lhe a devoção
Mas deu-lhe o ritmo primeiro
(…) No domingo vi o negro desgostoso
O quiosque estava fechado
E o velho rádio fanhoso
Sem pilhas estava calado.
Folha 8 com Lusa