O MPLA fez as contas e diz que conta nas suas fileiras com cinco milhões de militantes. Só? Nas nossas contas são mais de 21 milhões. Mas a ser verdade o que diz o partido do regime, isso quer dizer que há mais de 15 milhões que ainda o não são. E isso é grave. Muito grave.
Por Orlando Castro
N o dia 10 de Dezembro de 2011, já o secretário-geral do MPLA, Julião Mateus Paulo “Dino Matrosse” falava dos tais cinco milhões, apontando isso como resultado – pois claro – do bom desempenho do partido. Então como é? Três anos depois o número de militantes é o mesmo?
Dizia nessa altura um dos órgãos oficiais do partido/regime (a Angop) que o político “fez esta afirmação durante o acto central de massas em alusão às comemorações dos 55 anos da fundação do MPLA, acrescentando que o partido sempre soube adaptar e ajustar as grandes transformações decorrentes no país e no mundo, sendo por isso considerado uma organização dinâmica e atenta”.
“Dino Matrosse” disse que o sistema político adoptado no primeiro Congresso Ordinário do partido, em 1977, já não correspondia à nova realidade mundial e limitava o crescimento do MPLA, daí ter decidido passar de partido único e selectivo para o de massas. De massas e com (muita) massa, entenda-se.
Uau! De partido único e selectivo para o de massas. Por este andar, a bem da democracia – que não existe – e de um Estado de Direito – que Angola não é – não tardará muito que o número de militantes supere os 100 por cento da população.
“Mercê da sua abertura, o número de militantes cresceu consideravelmente e foi a partir desse momento que se passou a integrar nas suas fileiras membros saídos de outras forças políticas identificadas com o seu programa, quando até ao seu 3º Congresso, em 1991, contava apenas com 65.362 militantes”, realçou “Dino Matrosse” em 2011.
É só a somar. De facto, quem tem barriga necessita – regra geral – de comer alguma coisa. E se os angolanos sabem que, mesmo sendo apenas para conseguir um prato de pirão, é preciso ser militante do MPLA, então não têm outro caminho. E fazem bem.
“O MPLA é, por isso, um partido nacional, independente, progressista e moderno, cuja política assenta no socialismo democrático”, disse há três anos Julião Mateus Paulo “Dino Matrosse”, acrescentando que desde a sua fundação, em 10 de Dezembro de 1956, é a força política que mais tem marcado a história de Angola.
Dizer que o MPLA é um partido progressista, moderno, defensor do socialismo democrático é o mínimo dos mínimos dos qualificativos. Do mesmo modo, dizer que o partido foi a força que mais tem marcado a história de Angola, peca por defeito e demasiada modéstia.
É que o MPLA é a força política que mais tem marcado a história de Angola, de África, da Lusofonia e do mundo. Todos sabem que é um paradigma que todos querem seguir, seja em matéria de equidade social ou de luta contra a corrupção…
“Dino Matrosse” disse também que com o MPLA e sob a liderança do presidente José Eduardo dos Santos, o povo angolano conquistou a paz em 2002, feito que permitiu a realização de eleições e a implementação efectiva do processo de construção e reconstrução nacional já plasmado no seu programa.
E tanto assim é que só existem 68% de angolanos afectados pela pobreza, a taxa de mortalidade infantil só é a terceira mais alta do mundo, com 250 mortes por cada 1.000 crianças, só 62% da população angolana não tem acesso a água potável, só 45% das crianças angolanas sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos.
“Dino Matrosse” sustentou ainda que as sucessivas vitórias do MPLA (democráticas, transparentes e credíveis) confirmam a sua forte ligação ao povo traduzida, na palavra de ordem “O MPLA é o povo e o povo é o MPLA”.
Estranha-se, contudo, que esse povo não se tenha filado em massa no MPLA. Mas para ganhar eleições e manter-se no poder o partido não precisa de militantes, simpatizantes ou votantes. Necessita apenas de boletins de voto.