… E SE HITLER FOSSE POETA DO MPLA?

A Embaixada do MPLA em Portugal homenageou o professor Pires Laranjeira e a Faculdade de Letras da Universidade do Porto pelo empenho na divulgação da obra e exaltação da figura do genocida e herói nacional do MPLA, Agostinho Neto, durante o colóquio internacional “Sou Um Dia em Noite Escura”, realizado na cidade do Porto, no quadro das comemorações do centenário daquele que, em 27 de Maio de 1977, mandou massacrar milhares e milhares de angolanos.

Pires Laranjeira, académico da Universidade de Coimbra, tem sido um dos principais investigadores e promotores do papel e da importância que Agostinho Neto teve, não só para Angola, mas também para o mundo, graças à sua visão humanista (basta ver os 60 mil mortos do 27 de Maio de 1977).

O colóquio internacional “Sou Um Dia em Noite Escura”, acolhido na cidade do Porto, decorre de uma vergonhosa iniciativa da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, com o apoio da Embaixada do MPLA em Portugal, tendo juntado, para o efeito, oradores do regime.

A nota de imprensa da Embaixada do MPLA em Portugal indica que a Faculdade de Letras da Universidade do Porto abriu, há pouco mais de um ano, um espaço para ensino e investigação sobre a organização do pensamento e feitos de Neto (com exclusão da sua capacidade de genocida), com a designação “Cátedra Agostinho Neto”, um segmento científico aberto a acolher iniciativas que ajudem a branquear e a divulgar a figura do primeiro Presidente de Angola. A organização do colóquio, cujo programa foi elaborado pelos professores Francisco Topa, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, e Abreu Paxe, do ISCED de Luanda, deu lugar a diferentes intervenções por conhecidos especialistas em branqueamento de crimes contra a humanidade, entre os quais, Ana Maria Martinho, da Universidade Nova de Lisboa, Ana Ribeiro, da Universidade do Minho, Pires Laranjeira, da Universidade de Coimbra, Abreu Paxe, ISCED de Luanda, Luigia de Crescenzo, da Universidade de Roma, Nazir Ahmed Can, da Universidade Autónoma de Barcelona, Roberto Vecchi, da Universidade de Bolonha, Xosé Lois García e Francisco Topa, da Universidade do Porto.

Ao usar da palavra na cerimónia de abertura, o embaixador do MPLA em Portugal, Carlos Alberto Fonseca, sublinhou que “este acto (colóquio) constitui em si uma homenagem sublime, pela presença e participação de tão destacados académicos, docentes, ensaístas, poetas, autores, estudiosos do mundo das letras, que honram com o seu saber o estudo da vida e obra de Agostinho Neto”.

Parafraseando Francisco Topa, professor português associado da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, em declarações ao Jornal de Angola, se retirarmos a Agostinho Neto tudo o que ele fez para ser considerado, e bem, um assassino, o que sobra faz dele um herói de tudo, até mesmo da cultura.

Trata-se de uma opinião completamente independente, ou não fosse Francisco Topa o responsável, desde 2019, pela Cátedra Agostinho Neto da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

Recorde-se que Maria Eugénia Neto, presidente da Fundação António Agostinho Neto (FAAN), assinou no dia 10 de Setembro de 2019, com a FLUP – Faculdade de Letras da Universidade do Porto, um protocolo que criou a Cátedra Agostinho Neto nesta instituição de ensino superior. Assim a FLUP deu mais um contributo para o branqueamento da imagem daquele que foi o genocida responsável pelos massacres de milhares de angolanos no 27 de Maio de 1977. Só fica a faltar… Adolf Hitler ou, quem sabe, Vladimir Putin.

É tudo uma questão de, como certamente dirá Francisco Topa, relativizar os factos. No caso de Agostinho Neto, ele foi responsável pelo massacre de, pelo menos, 60.000 assassinatos. No entanto, se a essa cifra retirarmos os zeros… o que fica é irrelevante.

O acto representou uma homenagem da Universidade do Porto ao 40º aniversário da morte do poeta medíocre (segundo José Eduardo Agualusa) e do maior sanguinário da história da Angola independente, e contou com a participação do embaixador do MPLA em Portugal, Carlos Alberto Fonseca, que caucionou o acordo rubricado entre a viúva do primeiro Presidente angolano e a directora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Fernanda Ribeiro.

Maria Eugénia Neto salientou, na ocasião, “as renovadas perspectivas e investigações sobre Agostinho Neto, enquanto poeta, homem de cultura e político”, destacando que o Prémio Camões tem um significado de grande alcance para o conjunto de países que tornou sua a língua de Camões.

Eugénia Neto confirmou que a FAAN, no âmbito do pré-centenário de Agostinho Neto, assinou o protocolo de cooperação com a Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), para a criação da Cátedra Agostinho Neto com o intuito de promover o estudo de Agostinho Neto, das línguas, da literatura e da cultura angolanas, através do estabelecimento de um programa próprio de investigação e ensino na área dos Estudos Africanos. É intuito louvável se – seguindo a tese de Francisco Topa – se excluir o facto ser de ser necessário ser do MPLA para se ser fazedor da cultura.

Para além do simbolismo da efeméride de lavagem da imagem do herói do MPLA, a criação da Cátedra marcou o encerramento do colóquio “Agostinho Neto e os Prémios Camões Africanos”, que teve o seu início a 9 de Setembro de 2019 e em que participaram especialistas culturais, voluntariamente ignorantes quanto aos crimes cometidos pelo homenageado, de Angola, Portugal, Brasil, Cabo Verde e da China e que abordaram aspectos ligados ao tema do evento.

O reitor da Universidade do Porto, João Veloso, considerou o acto um feito internacional, tendo saudado muito entusiasticamente a assinatura do protocolo que homenageia a mais tenebrosa figura da História e da cultura angolana que, pelo seu papel de poeta e homem de cultura, todos procuram dizer que é um dos maiores escritores da língua portuguesa. E será com certeza se, de facto, se considerar que escreveu com o sangue de milhares e milhares de angolanos.

Por seu turno, recorde-se, o embaixador Carlos Alberto Fonseca agradeceu a homenagem ao Patrono da Poesia (sanguinária e criminosa) Angolana, que conduziu o país à independência e foi o primeiro Presidente de Angola, para além do ter sido o maior genocida da nossa história pós-independência.

Para além de cidadãos do MPLA residentes ou a estudar em Portugal (quase todos ignorantes ou cobardes), participaram neste evento a vice-presidente da FAAN, Irene Neto, e seus acompanhantes, membros do corpo docente e discente da FLUP (igualmente ignorantes e cobardes quanto à verdade dos factos), convidados e os escritores escolhidos a dedo.

Ajuda às teses de branqueamento da FLUP

Fruto da entrega de Agostinho Neto à causa libertadora dos povos, o Zimbabué e a Namíbia ascenderam igualmente à independência, assim como contribuiu para o fim do apartheid na África do Sul.

Agostinho Neto foi também, segundo uma cartilha herdada do regime de partido único (hoje em termos práticos assim continua), “um esclarecido homem de cultura para quem as manifestações culturais tinham de ser antes de mais a expressão viva das aspirações dos oprimidos, arma para a denúncia dos opressores, instrumentos para a reconstrução da nova vida”.

Continuemos, contudo, a ver a lavagem cerebral que o regime do MPLA insiste em manter, isto porque terá informações dos seus serviços secretos que dizem que somos todos matumbos: “Dotado de um invulgar dinamismo e capacidade de trabalho, Agostinho Neto, até à hora do seu desaparecimento físico, foi incansável na sua participação pessoal para resolução de todos os problemas relacionados com a vida do partido, do povo e do Estado”.

Numa coisa a cartilha do MPLA (adoptada pela FLUP) tem toda a razão e actualidade: “como marxistas-leninista convicto, Agostinho Neto reafirmou constantemente o papel dirigente do partido, a necessidade da sua estrutura orgânica e o fortalecimento ideológico, garantia segura para a criação e consolidação dos órgãos do poder popular, forma institucional da gestão dos destinos da Nação pelos operários e camponeses”.

É verdade também (segundo o MPLA) que foi graças a Agostinho Neto que Portugal aboliu a escravatura, que os rios começaram a correr para o mar, que o homem foi à Lua e que os europeus deixaram de viver na pré-história.

Também é claro (sempre segundo o MPLA) que Agostinho Neto nunca foi um ditador. Sobretudo depois de morto.

Supostamente, Neto “foi eleito líder do MPLA pelos seus pares do Comité Director, quando uma facção defendia que o movimento devia fundir-se na UPA e os brancos e mestiços não podiam participar na luta armada. Neto triunfou! O líder de uma organização revolucionária que luta pela libertação do seu povo, não pode ser ditador. O libertador pode ser tudo, menos ditador!”

Mais. “Um Chefe de Estado que está quatro anos no poder e tem de lutar contra exércitos invasores e matilhas de mercenários, não tem tempo para ser ditador”.

Aliás, só mesmo um democrata, idealista, defensor dos direitos humanos e dos angolanos como era Agostinho Neto poderia ter ordenado – nesse 27 de Maio de 1977 – o massacre de milhares e milhares de angolanos, na sua esmagadora maioria militantes e simpatizantes do MPLA. Nenhum ditador seria capaz de tal façanha…

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