O Presidente angolano, João Lourenço, conversou hoje ao telefone com o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, expressando preocupação com as tensões entre a República Democrática do Congo (RDCongo) e o Ruanda, que justificam a realização urgente de uma cimeira em Luanda. Quando será que Angola conseguirá ver nas costas dos outros as suas?
João Lourenço manifestou ao secretário-geral da ONU preocupação com a situação na relação entre a RDCongo e o Ruanda, “o que justifica a realização, com urgência, da Cimeira de Luanda, entre o mediador Angola” e os chefes de Estado da RDCongo e do Ruanda, refere nota dos serviços de imprensa da presidência angolana.
O Presidente da República da Angola vai enviar, na quarta-feira, o ministro das Relações Exteriores a Dacar, para apresentar ao seu homólogo senegalês, Macky Sall, na qualidade de presidente em exercício da União Africana (UA), uma nota verbal sobre os passos dados por Angola em cumprimento do mandato da Cimeira de Malabo, acrescenta a mesma nota.
João Lourenço vai mediar as tensões entre a RDCongo e o Ruanda e recebeu no início de Junho a visita do Presidente congolês, Félix Tshisekedi, num encontro em que foram debatidas várias questões no âmbito de uma resolução pacífica do diferendo entre os dois países.
Félix Tshisekedi acedeu entretanto ao pedido do seu homólogo angolano para libertar dois soldados ruandeses capturados recentemente, tendo ficado também acordada a realização de um encontro, em Luanda, entre os três chefes de Estado.
As tensões entre o Ruanda e a RDCongo agravaram-se após o reinício, em Março, de combates entre o exército e o movimento rebelde 23 de Março (M23), que, de acordo com Kinshasa, é apoiado pelos vizinhos ruandeses.
Em 18 de Maio de 2017, o MPLA lamentou que alguns sucessos alcançados na conquista da paz para a República Democrática do Congo estivessem a ser “sacrificados”, com o actual conflito armado naquele país.
A preocupação foi realçada pelo então secretário-geral do MPLA, António Paulo Cassoma, no discurso de abertura do encontro que juntou na capital angolana os seus homólogos dos antigos movimentos de libertação nacional da África austral, de Moçambique, África do Sul, Namíbia, Zimbabué e Tanzânia.
António Paulo Cassoma referiu que a reunião aconteceu num contexto regional marcado por alguns focos de tensão, augurando que os sinais de entendimento e de paz em Moçambique “sejam consolidados”, igualmente desejando “o resgate da estabilidade política na África do Sul”.
Relativamente à RD Congo, o dirigente do MPLA disse que Angola assistia com “grande preocupação ao recrudescimento de um conflito militar, que ao longo dos anos já provocou a perda de milhares de vidas humanas e obrigou que alguns dos seus cidadãos se colocassem na condição de refugiados que abandonam as suas zonas de origem para os países vizinhos em defesa das suas vidas”.
“A paz para a nossa sub-região continuará a estar no centro das nossas agendas e é neste sentido que se dirigem os esforços do Presidente José Eduardo dos Santos, na sua qualidade de presidente da Conferência Internacional para a Região dos Grandes Lagos”, referiu na altura.
Lamentou também que “alguns sucessos alcançados neste âmbito no passado, estão a ser sacrificados por força desses conflitos que assentam numa base étnica e tribal”.
“O nosso Presidente, o presidente do MPLA e da República, está determinado em prosseguir com os esforços colectivos, em coordenação com os demais chefes de Estado da sub-região, para que se alcance a paz duradoura que o povo congolês e de outros povos da sub-região que dela necessitam e merecem”, disse António Paulo Cassoma.
Participaram nesse encontro os secretários-gerais da FRELIMO (Moçambique), do ANC (África do Sul), da SWAPO (Namíbia), da ZANU-PF (Zimbabué) e da Cha Mapinduzi (Tanzânia).
E a outra face da tragédia?
Recorde-se que, em Novembro de 2016, o ministro das Relações Exteriores de Angola reiterara o claro, inequívoco e musculado empenho do Governo angolano no apoio à República Democrática do Congo (RD Congo) para resolver o conflito político que se prolonga há vários meses.
“Pensamos que tem que haver o fim da crise na RD Congo, que passa pelo respeito da Constituição tanto pelos diferentes partidos da oposição como pelo Governo”, disse Georges Chikoti à margem de um encontro que manteve com a missão do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que se deslocou a Angola, proveniente de Kinshasa, onde permaneceu durante dois dias para ouvir as partes envolvidas no conflito.
Foi fácil dizer aos outros para olharem para o que diziam e não para o que faziam. Em Angola o MPLA, o Governo e o Presidente da República (José Eduardo dos Santos, nunca nominalmente eleito, esteve 38 anos no poder) não cumprem a Constituição, mas exigem que o vizinho – sobretudo a oposição – a cumpra. É preciso muito descaramento.
De acordo com Georges Chikoti, os membros do Conselho de Segurança da ONU visitaram Angola como sinal de reconhecimento do papel que o país representava na região, sendo um dos vizinhos mais próximos e mais importantes da RD Congo, com uma fronteira comum de cerca de 2.000 quilómetros.
O chefe da diplomacia angolana frisou que Angola, como membro da comunidade internacional (quem diria!), pensa que é necessário que o Conselho de Segurança da ONU assuma o papel de trabalhar em coordenação com a região, com a RD Congo, para que possa ajudar este país amigo e servil ao regime de Luanda.
“Um papel em que o Conselho de Segurança de facto jogue o seu papel, assuma as suas responsabilidades com a região, com a comunidade internacional para ajudarmos a RD Congo na base daquilo que são os entendimentos que a oposição e o Governo estão a tentar propor”, disse Georges Chikoti.
Angola no âmbito da presidência da CIRGL (Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos) tem-se engajado para encontrar soluções pacíficas para resolução de conflitos políticos na RD Congo e que, é claro, mantendo na altura no poder o seu servil amigo Joseph Kabila.
Folha 8 com Lusa
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