PONTO PRÉVIO: Os leitores merecem o nosso maior respeito e, quando alguns, ainda hoje, perguntam, qual a posição do Folha 8, sobre a guerra na Ucrânia, mesmo depois de a termos expresso, textualmente, respondo: PLURAL! Somos um jornal onde existe a liberdade de expressão e de opinião, sem filtros. A democracia é a bússola.
Por William Tonet
Não existe entre nós, a cultura do unanimismo, mas do consenso, enquanto “ferramenta” maior das liberdades plurais. A Rússia invadiu a Ucrânia. Existe uma guerra. Putin é visto como louco. Infelizmente, os não loucos, pouco fizeram para impedir a guerra, pelo contrário, lançavam, lançam, todos os dias fagulhas, gasolina, para o fogo, que não apaga, desta forma.
Macron da França começa a definir o ângulo e distancia-se das bombas verbais de Joe Biden dos Estados Unidos, reconhecendo ser mais fácil, alguém fora da Europa agitar o fogo. Guterres, também, já viu que a banalização da ONU, sendo parcial não é o caminho. Ouviu-nos e já fala em lançar sementes de conciliação entre Moscovo e Kiev. Aleluia! A energia, sobe todos os dias, atingindo terceiros de boa-fé, inocentes que não precisam de ser refugiados, mas estão nas retaguardas de 30 soberanias.
Nesta hora, não existem vencedores, todos somos derrotados. A diabolização não ajuda! É preciso que os não Putin mostrem ter mais elevação que este e sejam, mas se forem capazes, agora, depois de tanta destruição material e imaterial, verdadeiros agricultores de PAZ, CONCILIAÇÃO e AMOR. O resto é falácia. É barbárie! Nós somos, definitivamente, pela PAZ!
O cinismo político, em Angola, está no auge e um mero encontro, entre o Presidente da República que, qual Nero, antigo imperador de Roma, que a incendiou para acusar os cristãos e o indesejável, para o MPLA, líder da UNITA, Adalberto da Costa Júnior será bastante, por si só, para devolver a confiança, que calcorreia nas duas barricadas.
Nas nossas culturas, quando a tensão paira na sanzala, compete ao soba grande descer a estrada da humildade, em direcção da embala, com novas propostas, para, diante de todos, amainar a crise.
João Lourenço levou um monte de nada… E, assim, os dois, no nada ficaram, durante aqueles minutos, em que, no subconsciente de cada um imperava o “vais ver que ainda te lixo”…
Em suma, mudou o que nada mudou.
Dúvidas? Excessos? Basta interpretar a navegação a vela de Adalberto da Costa Júnior, que quis apenas ser politicamente correcto, pois nada de substantivo trouxe para tranquilizar, pelo contrário, mostrou ter ido mais para a fotografia do que para o esgrimir de argumentos de aproximação e fim da crise.
“As eleições devem decorrer num ambiente aceitável em todos os níveis”, afirmou, na condicional, de forma isolada e desolada o líder da UNITA, acrescentando: “temos responsabilidades acrescidas e, da nossa parte, não existe nenhuma limitação de melhorar substantivamente aquilo que for necessário fazer”, concluiu.
É o império do cinismo, que nada abona para estancar o clima de desconfiança mútua e de guerra pós eleitoral. Os ensaios já começaram, com os esquadrões da morte da Polícia Nacional, a assassinarem descaradamente, com a bênção do Titular do Poder Executivo, que não muge, nem tuge. Assina por baixo? A verdade é que os homens da farda, matam a céu aberto, a luz do dia, tendo protecção institucional.
Em suma, o MPLA manteve a sua agenda de ataque e diabolização do(s) adversário(s) e a UNITA de contenção e resistência.
Qual das duas estratégias vingará, aos contendores, pouco importa, desde que a factura seja paga pelos cidadãos inocentes, explorados e escravizados.
O encontro do cinismo gerou mais dúvidas do que certezas, pois a sua concretização só se deveu a pressão interna e internacional, que alertaram sobre os riscos da conflitualidade estar a subir em demasia e o regime poder ser alvo de sanções, mais cedo do que o esperado. Mas nada tranquiliza as mentes dos cidadãos.
JLO sente-se bem em exibir uma cultura intelectual anti-conciliadora, sem viés de humildade. Para ele, o jogo da democracia é uma falácia, aliás, quando se esperava uma palavra para serenar as águas turvas, remeteu-se ao silêncio dos arrogantes.
Era preciso o emergir do Chefe de Estado, mas infelizmente, uma vez mais desembarcou o comandante em chefe das FAA, que viola o apartidarismo do artigo 207.º da Constituição.
É o apogeu do atipismo, incapaz de vislumbrar uma alternância pacífica, daí a linguagem torpe, dos turcos do MPLA e do apontar de armas ante um iminente cenário de derrota.
O presidente do MPLA, João Lourenço, o Presidente da República, João Lourenço, o Titular do Poder Executivo, João Lourenço assenta o poder em cima de um bulldozer, triturando o poder judicial, intoxicando o legislativo, atrelando as Forças Armadas, Policiais e de Segurança de Estado, todos numa procissão, onde os contrários são ouvidos apenas na Lei da Bala.
É a “demotadura” (democracia+ditadura) ou para inglês ver a “democracia da mordaça” onde impera o monopólio sobre a comunicação social pública, que desde 1975, tem tido um papel de atiçar o ódio entre os cidadãos, demonizando os adversários e transmitindo os seus assassinatos ao vivo. Puro masoquismo.
João Lourenço e Adalberto da Costa Júnior não falaram sobre as bases fundantes das eleições, que tanto preocupam os cidadãos: CNE; Manuel da Silva Manico; INDRA; composição dos comissários; Tribunal Constitucional; prisões ilegais de membros da UNITA; Tribunal Supremo. Um erro político que pode custar caro…
A popularidade dos dois políticos pode ter sido a grande responsável, estando a de um em baixo e a de outro em alta.
João Lourenço, ao fim de cinco anos de governação é menos popular, inclusive que José Eduardo dos Santos, que diabolizou, de Marimbondo, no início do consulado (2017), prendendo um filho, confiscando a riqueza das filhas, familiares e próximos, transferindo-a para pessoas e empresas de sua inteira conveniência.
Dividiu o próprio MPLA, expulsando e intimidando de cadeia, antigos camaradas, sob a pala de combater a corrupção, onde todos beneficiar da mesma gamela. Ao trocar 6 por meia dúzia, no final de mandato, apenas exibe um exército de 10 milhões de desempregados, outro de 20 milhões de pobres, mais de 5 mil empresas encerradas e uma recuperação pífia de património ilicitamente em posse de camaradas do MPLA.
As empresas arrestadas, hoje geram prejuízo, aumentam as dívidas do Estado numa bestialidade sem precedentes, própria de autores cuja boçalidade arruína o país.
É neste ambiente em que João Lourenço se encontra refém de uma máquina que não admite a derrota e uma UNITA que navega sonhos na bolsa de insatisfação popular. Em Agosto, só mesmo a comunidade internacional será capaz de salvar o processo e impedir o retorno das armas russas, para uma nova guerra. Os sinais estão aí…