O que está acontecer entre a Rússia e a Ucrânia não é estritamente um “conflito”. Qualquer conflito supõe, uma ameaça comprovada ou mesmo, uma contradição antagónica.
Por Osvaldo Franque Buela (*)
Acompanhamos o presidente francês em um breve discurso proferido na quarta-feira, 2 de Março de 2022, dizendo claramente que “a Rússia nunca sofreu uma agressão, ele é o agressor e que as operações que os militares russos estão realizando actualmente na Ucrânia têm um nome na lei internacional: “Uma agressão”.
Esta agressão russa contra a Ucrânia que o Ocidente condena e exorta todos os países do mundo a condenarem é um acto de guerra que viola o princípio da intangibilidade das fronteiras, tal como Angola fez contra Cabinda em 1975 com o apoio dos mesmos russos e cubanos, e que até hoje nunca sofreu uma condenação unânime da comunidade internacional, quando esta mesma comunidade internacional havia fixado as fronteiras de Cabinda, e reconhecido Cabinda como o 39º território a ser descolonizado distintamente de Angola. Por quê?
Se de forma esquemática, a Rússia nega esta ex-república soviética – que se tornou independente desde 1991 – Angola e Portugal continuam a fazer o mesmo por Cabinda, querendo a todo o custo apagar a sua história, continuam até hoje.
Direito soberano de escolher livremente seu destino e de optar por valores em voga no mundo ocidental; nomeadamente: democracia, liberdade e respeito pelos direitos humanos. Valores não reconhecidos tanto em Moscovo como em Luanda, precisamente no momento em que João Lourenço se prepara para visitar a sua colónia neste mês de Março, depois de se ter abstido de condenar a invasão russa da Ucrânia.
Se para mim este é o lugar para saudar a coragem e resiliência do povo ucraniano, reitero também neste artigo de opinião, a coragem do povo de Cabinda, um povo que há mais de quarenta anos só pede para viver em paz e não só com o povo angolano com quem teceu laços de consanguinidade mas também com outras nações do mundo.
Gostaria mais uma vez de lembrar a todo o mundo, e aos angolanos em particular, que o que está a acontecer na Ucrânia é literalmente o que o MPLA fez em 1975 e continua a fazer em Cabinda, ou seja, um Estado militarmente mais forte trouxe a sua armada para esmagar outro povo mais fraco. Nada de novo.
As relações entre os Estados sempre foram baseadas em relações de poder: os mais fortes esmagam os mais fracos. A invasão da Ucrânia pelo exército russo inspira uma lição fundamental: Sem um exército forte (terrestre, aéreo, marítimo), bem treinado, bem equipado e dotado de grande poder de fogo, a soberania é apenas um conceito filosófico.
Os Cabindenses sofrerão sempre a lei do mais forte em silêncio, entre a hipocrisia política da comunidade internacional na defesa da intangibilidade das fronteiras e o direito de viver livremente no seu próprio território
(*) Activista e refugiado político na França
Nota. Todos os artigos de opinião responsabilizam apenas e só o seu autor, não vinculando o Folha 8.
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