Augusto Santos Silva, ministro de Estado e Negócios Estrangeiros de Portugal, putativo Presidente da Assembleia da República e eventual candidato socialista ao lugar de Marcelo Rebelo de Sousa, defendeu hoje que a experiência de Portugal “contém ensinamentos” úteis à cimeira entre Europa e África, nomeadamente com o acordo de mobilidade assinado no ano passado pelos países de língua portuguesa. Cuidado!
“Portugal não só é um contribuinte evidente para este esforço de cooperação entre Europa e África, como o faz de uma forma que, do nosso ponto de vista, contém ensinamentos para todos”, disse Augusto Santos Silva em declarações à Lusa por telefone, a propósito da cimeira União Europeia-União Africana, que decorre entre quinta e sexta-feira em Bruxelas.
O governante sublinhou que o primeiro-ministro, António Costa, que presidirá à delegação portuguesa na cimeira, assegurará uma das co-presidências da mesa-redonda sobre educação, migrações e mobilidade e também intervirá na mesa-redonda sobre questões de paz e segurança.
A escolha destes dois enfoques, explicou, tem a ver com os temas em que Portugal mais pode contribuir.
No caso das migrações, lembrou, Portugal assinou em 2021 o acordo sobre mobilidade entre os Estados-membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que já se encontra em vigor desde o início do ano e envolve os seis Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa – Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique e São Tomé e Príncipe.
“Esse acordo de mobilidade facilita imenso a circulação das pessoas entre estes países para efeitos de estudo, de ensino ou de trabalho e, portanto, é uma maneira de um país europeu e vários países africanos cooperarem entre si para facilitar a mobilidade legal segura e ordenada entre o espaço europeu e o espaço africano”, sublinhou.
Santos Silva lembrou que desta mobilidade “há de resultar mais emprego, mais trabalhadores para a economia, mais qualificação de recursos humanos, portanto, melhor dotação em capital humano”.
Recordando ainda o acordo bilateral com Marrocos para a mobilidade laboral, assinado em 12 de Janeiro pelos governos de Lisboa e Rabat, Santos Silva disse que ambos são exemplos de como avançar “na gestão da mobilidade de forma a que ela seja útil para todos, que respeite os direitos de todos e para que se faça de forma segura e não seja pretexto para redes de tráfico, de contrabando, de exploração de pessoas, que (…) são das mais cruéis que o mundo conhece”.
Já sobre as questões da paz e segurança, Santos Silva lembrou o “grande protagonismo de Portugal” no acordo alcançado com Moçambique, no ano passado, sobre o apoio europeu em matéria de formação e treino militar no combate ao terrorismo.
“Sob a presidência portuguesa da União Europeia, a UE soube ouvir as necessidades e os objectivos de Moçambique, soube acordar com Moçambique um programa específico de apoio à formação de forças especiais moçambicanas no combate ao terrorismo, soube acrescentar a esse apoio específico em matéria militar o reforço da acção humanitária e da cooperação para o desenvolvimento”, afirmou.
E concluiu que esse esforço de Lisboa “produziu resultados”, visto que a situação de segurança que hoje se vive em Cabo Delgado “é completamente diferente, para melhor, da situação de segurança que se vivia, por exemplo, em 2019”.
Os chefes de Estado e de Governo da União Europeia e da União Africana reúnem-se entre quinta e sexta-feira em Bruxelas para a sua sexta cimeira, quatro anos e meio após a última devido a adiamentos provocados pela pandemia de Covid-19.
Só mudou o rei, a bajulação tuga é a mesma
Augusto Santos Silva afirmou no dia 30 de Setembro de 2021 que Portugal e Angola atravessam um momento “absolutamente excepcional” do seu relacionamento bilateral, destacando a cooperação na área da saúde e no combate à pandemia, em particular na vacinação.
“Portugal e Angola vivem um momento absolutamente excepcional no seu relacionamento bilateral”, disse Santos Silva, acrescentando que “entre 2018 e a actualidade são já 50 os instrumentos de cooperação que foram assinados entre os dois países”. De facto, os “instrumentos” angolanos têm grande aceitação nos areópagos políticos e prostibulares de Lisboa
As declarações de Santos Silva foram feitas numa conferência de imprensa conjunta, em Lisboa, com o seu homólogo angolano, Téte António, após uma reunião da Comissão Mista Intergovernamental Portugal-Angola (CMI).
Entre esses instrumentos assinados nos últimos anos, Santos Silva destacou a convenção para evitar a dupla tributação, o acordo para facilitação de vistos e salientou igualmente a cooperação na área da saúde e no combate à pandemia de Covid-19, que “hoje é a mais relevante das áreas relevantes”.
“A nossa cooperação na área da saúde tem particular expressão no apoio à vacinação. Com o lote que chega hoje a Luanda ultrapassamos as 700 mil doses de vacinas doadas a Angola”, disse o ministro luso.
Depois de uma reunião inicial em Luanda, em Dezembro de 2019, esta foi a segunda reunião da CMI “um novo instrumento que tem como objectivos principais promover o desenvolvimento da relação bilateral, fazer o seguimento dos instrumentos bilaterais assinados e em negociação e permitir consultas sobre temas de interesse comum também no plano internacional”, refere o comunicado final da reunião.
“Todas as áreas relevantes de cooperação foram avaliadas”, disse o ministro português.
No dia 6 de Janeiro de 2020, Augusto Santos Silva, assegurou que a cooperação entre Portugal e Angola “estende-se a todos os domínios” e “está a funcionar”. Os sipaios dizem sempre o que o chefe do posto (seja ele quem for) quer ouvir. Ontem era José Eduardo dos Santos, hoje é João Lourenço. Ontem era Santos Silva, hoje é… Santos Silva.
Augusto Santos Silva falava à imprensa à margem do Seminário Diplomático, que então decorreu em Lisboa, e respondia a uma pergunta sobre a disposição de Portugal para colaborar com o processo de arresto de bens lançado pelo Presidente angolano (via sucursal para a justiça) à empresária Isabel dos Santos, com interesses em várias empresas portuguesas.
“Nós hoje cooperamos com Angola em todos os domínios: político, diplomático, político-militar, educativo, cultural, económico. E também há cooperação entre as duas administrações fiscais e entre as autoridades judiciárias”, disse o ministro socialista português.
Paralelamente ao facto de, como fez a troika, a Europa ter decidido, e bem, acabar com os intermediários, o que a levou durante anos a debater com Isabel dos Santos a resolução dos problemas de Portugal, os ministros lusos vêm regularmente a despacho (“resolução de autoridade superior sobre pretensões ou negócios”) com sua majestade o rei angolano. Antes era com José de Eduardo dos Santos, agora é com João Lourenço.
É isso que o sipaio servil e bajulador ministro português dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, faz com Angola. E, sem meias palavras, o perito dos peritos lusos disse em Fevereiro de 2017: “O presidente José Eduardo dos Santos mandatou-nos a nós para acertarmos a data da visita do primeiro-ministro português a Luanda”.
Ora aí está. O ministro Santos Silva foi, finalmente, mandatado por quem mandava (também) no seu país para tratar da agenda do bajulador-mor, o primeiro-ministro António Costa.
Embora estas vindas a despacho não sejam novidade, pelo contrário, foi a primeira vez que um ministro português reconheceu que foi mandatado pelo presidente de um outro país. O respeitinho (e a subserviência) é muito bonito e sua majestade o rei José Eduardo dos Santos gostava. E, como qualquer outro rei, João Lourenço também gosta. E para Portugal o que conta é estar sempre com quem está no Poder.
Recorde-se que Augusto Santos Silva gostava, ao mesmo tempo que aumentava os decibéis da sua bajulação a Eduardo dos Santos, de passar atestado de menoridade intelectual aos angolanos. É, sabemos, uma forma de agradar ao rei, mas se calhar deveria ao menos fingir que tem coluna vertebral. Além disso não deve esquecer-se que os angolanos (até mesmo os 20 milhões que são pobres) têm memória.
No dia 3 de Fevereiro de 2017, Augusto Santos Silva considerou que a decisão do então Presidente José Eduardo dos Santos de não se recandidatar era “mais um sinal de que Angola (leia-se regime) segue os melhores padrões internacionais”.
Estar há 38 anos no poder sem nunca ter sido nominalmente eleito era também “mais um sinal de que Angola segue os melhores padrões internacionais”? Para Augusto Santos Silva era.
Dirigir um país rico que não soube gerar riquezas mas apenas ricos, estando no top dos mais corruptos do mundo é também “mais um sinal de que Angola segue os melhores padrões internacionais”? Para Augusto Santos Silva era e continua a ser.
Ser o país que, segundo a Organização Mundial de Saúde, tem uma nas maiores taxas de mortalidade infantil do mundo é também “mais um sinal de que Angola segue os melhores padrões internacionais”? Para Augusto Santos Silva era e continua a ser.
A Freedom House demonstra regular e recorrentemente preocupação pela a influência de Angola (leia-se e entenda-se influência do MPLA) nos meios de comunicação social portugueses. É também “mais um sinal de que Angola segue os melhores padrões internacionais”? Para Augusto Santos Silva era e continua a ser.
A Freedom House diz também que Angola é considerado um “país não livre”, denunciando perseguições a jornalistas, activistas políticos e líderes religiosos angolanos. É também “mais um sinal de que Angola segue os melhores padrões internacionais”? Para Augusto Santos Silva era e continua a ser.
O ministro Augusto Santos Silva, um dos mais emblemáticos perito dos peritos de toda a mixórdia política gerada nas mais putrefactas latrinas de Portugal, afirmou também que “já era conhecida a vontade do Presidente de se afastar da vida política mais activa”, reiterando que “esse é mais um sinal de que Angola segue os melhores padrões internacionais”.
É de crer, fazendo fé na bajulação do ministro português, que o facto de 68% da população angolana ser afectada pela pobreza, “é mais um sinal de que Angola segue os melhores padrões internacionais”.
Também é de crer que quando apenas 38% da população angolana tem acesso a água potável e somente 44% dispõe de saneamento básico, isso “é mais um sinal de que Angola segue os melhores padrões internacionais”.
Também “é mais um sinal de que Angola segue os melhores padrões internacionais”, quando se sabe que apenas um quarto da população angolana tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade.
Também “é mais um sinal de que Angola segue os melhores padrões internacionais”, quando se constata que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos.
Também “é mais um sinal de que Angola segue os melhores padrões internacionais”, verificar-se que 45% das crianças angolanas sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos.
Também “é mais um sinal de que Angola segue os melhores padrões internacionais”, saber-se que, em Angola, a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos.
Também “é mais um sinal de que Angola segue os melhores padrões internacionais”, saber-se que, em Angola, o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.
Augusto Santos Silva é o chefe de posto em Portugal e sipaio em Angola que sabe de tudo, que fala de tudo, que conhece tudo, que sabe mais do que todos os outros, quer fale como cidadão, quer opine enquanto ministro.
“Não tenho o mínimo de consideração nem de respeito intelectual pelo saloio que detém no Governo a pasta da Comunicação Social…; pelas baboseiras e falta de rigor que punha nas crónicas do ‘Público’, pela arrogância e pesporrência que exibia quando era ministro da Educação e logo a seguir da Cultura, sem ter feito nada, mesmo nada, nem pela educação nem pela cultura, porque o considero um dos ministros mais incompetentes do Governo de José Sócrates…”, escreveu – há já uns anos – o saudoso Emídio Rangel, referindo-se a Augusto Santos Silva.
Que Augusto Santos Silva nos passe um atestado de menoridade e assuma que, ao contrário do comum dos mortais, é catedrático em tudo, seja na comunicação social, na educação, na cultura, na economia, nas finanças, no desporto, na defesa, nas negociatas… é lá com ele.
Hoje como ontem, Santos Silva debita regularmente eruditas pérolas, fazendo lembrar o tempo em que tinha a pasta, entre outras, de dono da comunicação social portuguesa.
Talvez por saber disso, de vez em quando ele aparece – mesmo sendo ministro – para malhar em todos aqueles que têm a ousadia de pensar de forma diferente da dele e da dos seus amigos.
No seu período áureo, dizia Augusto Santos Silva, certamente respaldado na cartilha do até então também perito dos peritos, José Sócrates, que a oposição “sucumbia à demagogia”. Demagogia que, como todos sabem, é uma característica atávica de todos os portugueses de segunda, ou seja, de todos aqueles que não são deste PS… nem deste MPLA.
“A direita falha em critérios essenciais na resposta à actual crise, começando logo por falhar no requisito da iniciativa”, sustentava o maior perito dos peritos portugueses, considerando que a oposição não assumia uma defesa do princípio da “equidade social”.
Será com certeza por isso que, em Portugal como em Angola, os poucos que têm milhões, mais milhões continuam a ter, e que os milhões que têm pouco ou nada… ainda têm menos, se é que isso é possível.
Embora hoje oculte essa faceta, quando se virava para a esquerda, Santos Silva também batia forte e feio. Em relação ao PCP gostava de atirar a matar, tal como fazia quanto ao Bloco de Esquerda. Eram todos da “esquerda extremista” que “propõe o regresso ao paradigma colectivista”.
“Estão cegos por preconceitos ideológicos que os impediram de perceber o quanto foi essencial estabilizar o sistema financeiro para responder à crise”, disse em tempos, entre outras sábias alusões, Augusto Santos Silva.
Ora aí está. Bons só mesmo os socialistas, sejam do PS ou do MPLA. Nem todos, mas sobretudo os que, por terem coluna vertebral amovível, veneram o líder… Todos os outros são uma escumalha que não merece sequer ser considerada como portuguesa… ou angolana.
Para finalizar, recordam-se que Augusto Santos Silva disse que que havia professores em Portugal (não socialistas, obviamente) que não sabiam distinguir entre Salazar e os democratas? Também há ministros que não sabem distinguir entre ditadores e democratas.
Folha 8 com Lusa