O ministro de Estado para Coordenação Económica explicou com rara assertividade a razão pela qual Angola está, em matéria de desenvolvimento económico (entre outras questões), em estado calamitoso. Manuel Nunes Júnior afirma que a confiança, a segurança, a credibilidade e a reputação são elementos fundamentais para atracção de investimentos e financiamentos.
Confundindo o fundo do corredor com o corredor de fundo, o governante, que falava na sessão de abertura da Reunião do Comité de Supervisão da Unidade de Informação Financeira (UIF), disse que Angola tem registado progressos no combate às más práticas no sistema financeiro angolano. A bajulação fê-lo escarrapachar-se.
Nesta perspectiva, Manuel Nunes Júnior disse que o país precisa evidenciar mais, aos seus parceiros e aos organismos internacionais de supervisão financeira, o progresso que tem registado no combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo. Tem razão. Os organismos internacionais, ao contrário do governo (que em quatro anos já teve quatro ministros da Economia), sabem a diferença entre dormir com a Maria José ou com o José Maria. João Lourenço não sabe.
“Temos de ser capazes de demonstrar, neste processo de avaliação, o progresso que o país vem evidenciando na aérea de combate ao branqueamento de capitais, financiamento do terrorismo e a proliferação de armas de destruição em massa”, expressou o governante. Bem que poderia dar o exemplo daquele emérito militante do MPLA que “viu roubar, participou nos roubos, beneficiou dos roubos” e que hoje, sem devolver o que roubou, comanda a luta contra os ladrões.
Deste modo, prosseguiu Manuel Nunes Júnior, pretende-se assegurar a confiança do resto do mundo, sobre o sistema financeiro nacional. E, é claro, por este andar já está a meio da ponte que atravessa o rio. Chato vai ser quando descobrir que não existe ponte…
Recordemos Mia Couto: «A verdade é esta: são demasiado pobres os nossos «ricos». Aquilo que têm, não detêm. Pior: aquilo que exibem como seu, é propriedade de outros. É produto de roubo e de negociatas. Não podem, porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram. Vivem na obsessão de poderem ser roubados. Necessitavam de forças policiais à altura. Mas forças policiais à altura acabariam por lançá-los a eles próprios na cadeia. Necessitavam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade. Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem.
«O maior sonho dos nossos novos-ricos é, afinal, muito pequenito: um carro de luxo, umas efémeras cintilâncias. Mas a luxuosa viatura não pode sonhar muito, sacudida pelos buracos das avenidas. O Mercedes e o BMW não podem fazer inteiro uso dos seus brilhos, ocupados que estão em se esquivar entre chapas, muito convexos e estradas muito concavas. A existência de estradas boas dependeria de outro tipo de riqueza. Uma riqueza que servisse a cidade. E a riqueza dos nossos novos-ricos nasceu de um movimento contrário: do empobrecimento da cidade e da sociedade.
As casas de luxo dos nossos falsos ricos são menos para serem habitadas do que para serem vistas. Fizeram-se para os olhos de quem passa. Mas ao exibirem-se, assim, cheias de folhos e chibantices, acabam atraindo alheias cobiças. Por mais guardas que tenham à porta, os nossos pobres-ricos não afastam o receio das invejas e dos feitiços que essas invejas convocam. O fausto das residências não os torna imunes. Pobres dos nossos riquinhos!
São como a cerveja tirada à pressão. São feitos num instante mas a maior parte é só espuma. O que resta de verdadeiro é mais o copo que o conteúdo. Podiam criar gado ou vegetais. Mas não. Em vez disso, os nossos endinheirados feitos sob pressão criam amantes. Mas as amantes (e/ou os amantes) têm um grave inconveniente: necessitam de ser sustentadas com dispendiosos mimos. O maior inconveniente é ainda a ausência de garantia do produto. A amante de um pode ser, amanhã, amante de outro. O coração do criador de amantes não tem sossego: quem traiu sabe que pode ser traído.»
Ora então, para o Ministro de Estado para Coordenação Económica, “no mundo financeiro e de negócios a confiança, a segurança, a credibilidade e a reputação constituem-se como elementos fundamentais para atracção de investimentos e financiamentos”. E é aí que está o “calcanhar de Aquiles” do MPLA e, obviamente, de Angola. Não temos nada do que é essencial, temos tudo o que é supérfluo.
“Está reunião preparatória para a avaliação que Angola será submetida em Junho de 2022, pelo Grupo de Acção Financeira Internacional (GAFI), deve implicar a garantia da conformidade técnica das regras e procedimentos que o país aplica”, referiu Manuel Nunes Júnior.
Neste sentido, argumentou o ministro, é preciso evidenciar-se a eficácia do sistema de combate ao branqueamento de capitais, financiamento ao terrorismo e a proliferação de armas de destruição. É claro que o ministro, como excelente “cirurgião” formado pelo MPLA, faz o diagnóstico certo ao dizer que o doente necessita de um transplante de coração. Mas chato é que, depois do óbito do doente, os médicos-legistas fazem a autópsia e verificam que foi feito o transplante de… fígado.
De acordo com o governante, “por altura da avaliação, em 2022, será levado em conta a forma de como o sistema reage face às irregularidades eventuais, pois isso determinará a uma avaliação positiva, como prova que o nosso sistema é forte, fiável e sólido”.
Manuel Nunes Júnior explicou que tal avaliação assenta sobre as regras e procedimentos teóricos e práticos, na sua actuação sobre os ilícitos, com vista a aumentar a credibilidade do sistema financeiro angolano, no sentido de cada vez mais atrair investimento para Angola.
Neste seguimento, Manuel Nunes Júnior, apelou ao grupo técnico de trabalho da UIF, composto por membros dos ministérios do Interior, das Finanças, do Banco Nacional de Angola (BNA) e da Procuradoria-Geral da República (PGR), a uma estreita colaboração para que haja consistência e Angola obtenha uma avaliação positiva.
“Este comité tem a missão de assegurar que os avaliadores do Grupo de Combate à Lavagem de Dinheiro da África Austral e Oriental reconheçam o progresso significativo que o país vem implementado”, clarificou.
Segundo o Ministro de Estado, a UIF desempenha um papel essencial para que Angola seja cada vez mais respeitada e credível no mundo dos negócios, em particular no seu sistema financeiro.
“O país está a desenvolver reformas importantes, mormente no sector da economia e finanças, de modo a se tornar mais dinâmico, eficiente e mais produtivo, para um futuro melhor, na base da criação de empregos, bem como melhores rendimentos para as famílias”, concluiu.
Nota. “Xibata já mundu, ya ajibanda, ya ajikulumuka”, proverbio kimbundu (Nas escadas do mundo, uns sobem outros descem).