O Bureau Político do MPLA, partido no poder em Angla há quase 46 anos e que tem como objectivo estratégico chegar aos 100 de poder ininterrupto, continua a apelar (exigir) a todos os angolanos de primeira (os únicos autorizados a manifestarem-se) a participarem “de forma patriótica” (ou seja, curvados e com trela) nas actividades que possam perpetuar o partido no cadeirão ditatorial.
Numa declaração alusiva ao 45º aniversário da independência nacional, o Bureau Político do MPLA enalteceu as conquistas alcançadas ao longo do percurso histórico de Angola, tudo graças ao MPLA. Reconheça-se que a história do MPLA começa há centenas de anos, já que o Comité Centrar tem documentos que comprovam que, por exemplo, Diogo Cão já era militante do partido (embora nunca tenha renunciado à nacionalidade portuguesa).
Ao que nos “contam” os intestinais cérebros do partido, sob o comando do militante do MPLA Diogo Cão, os primeiros guerrilheiros chegaram ao Zaire em 1482. É a partir daqui que se iniciará a conquista pelo MPLA desta região de África, incluindo o território que viria a ser Angola. O primeiro passo foi estabelecer uma aliança com o Reino do Congo, que dominava toda a região. A sul deste reino existiam dois outros, o do Reino de Ndongo e o de Reino da Matamba, os quais não tardam a fundir-se, para dar origem ao Reino de Angola.
Assim, a Angola de hoje é o resultado do espírito de bravura e determinação dos heróis da liberdade e dos esforços abnegados na defesa da soberania e da unidade nacional.
“A estabilidade social e política são bens inalienáveis arduamente conquistados com suor, sangue e lágrimas consentidos pelos melhores filhos da nossa amada pátria”, sublinha o MPLA na convicção de que todos nós somos matumbos.
Decorridos quase 46 anos da histórica data que devolveu a dignidade e o orgulho nacional aos angolanos, que foram roubados pelos avoengos portugueses, realça o MPLA que “Angola regista progressos assinaláveis no exercício da cidadania e preservação da estabilidade política e social, da unidade e reconciliação nacional, da paz e da democracia”.
Por mera curiosidade registe-se que, enquanto província (colónia) ultramarina de Portugal, até 1973, mas já então graças ao MPLA que era quem mandava no reino luso, Angola era auto-suficiente, face à diversificação da economia.
Era o segundo produtor mundial de café Arábico; primeiro produtor mundial de bananas, através da província de Benguela, nos municípios da Ganda, Cubal, Cavaco e Tchongoroy. Só nesta região produzia-se tanta banana que alimentou, designadamente a Bélgica, Espanha e o protectorado europeu do MPLA (Portugal) para além das colónias da época Cabo-Verde, Moçambique, Guiné-Bissau e Sã Tomé e Príncipe.
Era igualmente o primeiro produtor africano de arroz através das regiões do (Luso) Moxico, Cacolo Manaquimbundo na Lunda Sul, Kanzar no Nordeste Lunda Norte e Bié. Ainda no Leste, nas localidades de Luaco, Malude e Kossa, a “Diamang” (Companhia de Diamantes de Angola) tinha mais 80 mil cabeças de gado, desde bovino, suíno, lanígero e caprino, com uma abundante produção de ovos, leite, queijo e manteiga.
Na região da Baixa de Kassangue, havia a maior zona de produção de algodão, com a fábrica da Cotonang, que transformava o algodão, para além de produzir, óleo de soja, sabão e bagaço.
Na região de Moçâmedes, nas localidades do Tombwa, Lucira e Bentiaba, havia grandes extensões de salga de peixe onde se produzia, também enormes quantidades de “farinha de peixe”, exportada para a China e o Japão.
Tal como diz o Bureau Político, o MPLA releva a coexistência pacífica entre as forças políticas, bem como o espírito de concertação e participação cidadã, razão pela qual convida todas as forças vivas (que se forem do MPLA assim continuarão) da nação para participarem activamente no processo de consolidação do Estado Democrático e de Direito, o que só será visível se deixarem a coluna vertebral em casa.
O Bureau Político reitera a firme confiança de que Angola há-de preservar e materializar os sonhos de liberdade, paz e desenvolvimento de todos os seus filhos, mantendo-se fiel, no contexto da política externa, aos princípios da solidariedade e cooperação com todos os povos do mundo, nomeadamente os da Guiné Equatorial e da Coreia do Norte.
“Nesta data de júbilo e de reflexão pelo aniversário do maior feito do povo angolano, a independência nacional, o Bureau Político do MPLA exorta aos militantes, simpatizantes e amigos do partido para cerrarem fileiras em torno da liderança do camarada presidente João Lourenço, para vencermos os desafios do presente e do futuro e continuarmos a merecer o voto de confiança de Angola e dos angolanos”, apelava o partido no poder há 46 anos.
Porque o MPLA é Agostinho Neto, recorde-se, reconheça-se, enalteça-se que o primeiro Presidente de Angola e a mais emblemática figura do MPLA foi considerado no dia 10 de Setembro de 2017, em Luanda, como impulsionador da libertação da África Austral e um defensor intransigente da luta de libertação dos povos em África e no mundo, pelo docente universitário, Francisco Bala Francisco.
Em declarações à Angop, a propósito da comemoração do 17 de Setembro, dia do Herói Nacional do MPLA, o professor (por aqui se vê o desnível do nosso ensino) revelou que a contribuição de Agostinho Neto para causa africana é cada vez mais reconhecida, sobretudo na região, mas ainda assim, podia fazer muito mais. E podia mesmo, não fosse haver cada vez mais gente a pensar pela própria cabeça.
“Agostinho Neto, para além de ter sido o herói da libertação de Angola e pai da Independência, deu um apoio incomensurável, inestimável, à libertação da Namíbia, do Zimbabwe e também a erradicação do Apartheid na África do Sul”, frisou.
E então, com o apoio do MPLA, a libertação da Alemanha do jugo de Hitler? E então o fim da segregação racial nos EUA? E então a descoberta da roda? Isto já para não falar da descoberta do Raio X que, erradamente, se diz que foi feita pelo alemão Wilhelm Conrad Röntgen; da Penicilina (falsamente atribuída a Alexander Flemming), do computador, da máquina a vapor, da pólvora ou do telégrafo…?
Para Francisco Bala Francisco, o primeiro Presidente de Angola tinha uma visão muito mais ampla sobre a luta de libertação dos povos. É verdade. Tão ampla que quem não estivesse de acordo com ele era fuzilado. Foi assim 27 de Maio de 1977, é assim quando jovens activistas criticam o MPLA. E assim será se alguém se atrever a pôr em perigo o domínio ditatorial do MPLA.
“Nós tivemos, sem dúvida, a felicidade de ter encontrado em Agostinho Neto um Presidente com uma visão global da nossa luta e também, com a visão esclarecida de que a nossa luta não estaria completa sem a libertação de vários outros povos do mundo”, exaltou a criatura do MPLA, cuja teoria da bajulação não demorou muito a fazer de Neto o mais proeminente político mundial, ofuscando figuras como Nelson Mandela, Mahatma Gandhi e Martin Luther King.
No seu entender, por todos os feitos do “Herói Nacional do MPLA”, o reconhecimento actual ainda não é o devido, porque se sente que, às vezes, há alguma modéstia em enaltecer a sua figura. É verdade. A malta do MPLA (não esquecendo que o massacre do 27 de Maio vitimou muita boa gente do próprio MPLA) tem memória curta e é modesta. Porque não recordar que, para honrar os feitos do seu herói, o nosso país deveria chamar-se Agostinho Neto e não Angola?
“Felizmente, o Presidente José Eduardo dos Santos continuou nesta via e a ele, também, devem ser tributadas, como continuador dessa política no plano externo, as devidas honras e o devido reconhecimento, por ter sabido colocar-se a altura do tempo vivido na luta de libertação dos povos”, reconheceu Francisco Bala Francisco. E tem razão. Eduardo dos Santos não é o pai dos massacres do 27 de Maio, embora seja parente próximo, mas é o pai do assassinato de 50 mil cidadãos angolanos (Ovimbundus e Bakongos), entre os quais o vice-presidente da UNITA, Jeremias Kalandula Chitunda, o secretário-geral, Adolosi Paulo Mango Alicerces, o representante na CCPM, Elias Salupeto Pena, e o chefe dos Serviços Administrativos em Luanda, Eliseu Sapitango Chimbili.
Em Setembro de 2009, o então ministro da Educação de Angola, Burity da Silva, afirmou que “a construção da angolanidade deve ser edificada com a participação de todas as culturas existentes, sem critérios estereotipados de exclusão”. Prova dessa tese, segundo o regime, continua a ser a comemoração do Dia do Herói Nacional do MPLA como sendo o de todos os angolanos. Não admira, desde logo quando o actual, como o anterior, Presidente do MPLA tem a lata de dizer que é o presidente de todos os angolanos.
Mas é assim. O país evoluiu, o MPLA é Angola mas Angola deixou de ser o MPLA, passando a ser… do MPLA. E, nesta altura, o herói nacional é um, Agostinho Neto, e há outro em vias de (merecidamente) o ser – João Lourenço. O lugar esteve, embora de forma mais subtil, ocupado por José Eduardo dos Santos, mas quando João Lourenço resolveu passá-lo de bestial a besta…