O vice-presidente da Associação 27 de Maio considerou que a publicação das “13 teses em Minha Defesa”, de Nito Alves, no qual este se defende das acusações do partido no poder em Angola, contribui para a busca da verdade.
O livro “MPLA – A Revolução Traída, 13 teses em Minha Defesa”, da editora Elivulu, do activista Sedrick de Carvalho, consiste na defesa de Nito Alves perante o Comité Central do partido face às injustas e caluniosas acusações de que era então alvo e estiveram na base da sua suspensão e de José Van Dúnem do comité central, mas, principalmente, por passados mais de três meses, não ter sido ouvido, pelo coordenador da Comissão de Inquérito, José Eduardo dos Santos, que deveria apurar, se o antigo ministro da Administração Interna, alguma vez, teria uma acção de confronto, contra a autoridade de Agostinho Neto, então líder do MPLA e Presidente da República Popular de Angola, regime de partido único e de ditadura do proletariado, que não se importava de julgar, com uma só sentença os adversários: pena de morte.
Nito Alves, um dos mais carismáticos dirigentes da nova gesta do MPLA, dono de uma retórica e capacidade de mobilização, pela sua verticalidade e comprometimento com o socialismo, constituía uma ameaça aos que rodeavam, Agostinho Neto, logo trataram de primeiro utilizá-lo para perseguir os membros dos CAC, OCA e Revolta Activa, para depois o acusarem de ser fraccionista, com pretensão de dar um golpe de Estado.
Sem provas, nunca foi levado a um tribunal, para se defender das acusações, porque, Agostinho Neto, na sua veia autoritária, ditatorial e genocida, disse: “NÃO VAMOS PERDER TEMPO COM JULGAMENTOS”, logo ganhou tempo com assassinatos em série, como bom nazista, engendrando um dos maiores genocídios depois dos praticados por Adolph Hitler, na II Guerra Mundial. Nito Alves, Zé Van Dúnem, Monstro Imortal, Sita Vales, Edgar Valles, Fernando e Alberto Tonet, Rui Coelho e outros cerca de 80 mil foram assassinados em 27 de Maio de 1977, para satisfação do masoquismo de Agostinho Neto, que achava ter a sua sobrevivência política assegurada, com o sangue e a vida dos adversários e inimigos.
Mas, hoje, o vice-presidente da Associação 27 de Maio, o médico Manuel Vidigal, um dos sobreviventes da purga, explicou, nunca este documento ter sido reconhecido, pelas autoridades partidárias do MPLA e da República por, de certa forma ser proscrito, sendo um “tabu, escondido pelo MPLA”.
“Houve pessoas que foram mortas por terem tido conhecimento do documento ou terem-no em sua casa”, vincou o responsável, considerando que faz sentido dar agora à estampa as teses de Nito Alves, após o discurso reconciliador do Presidente, João Lourenço, que pediu desculpas às vítimas e aos seus familiares, assumindo parcial e de forma ainda tímida, apesar do avanço, das responsabilidades do MPLA, partido no poder em Angola desde a conquista da independência, há 46 anos, mas imputando, também, e aqui a mancha, atribuindo culpas às vítimas.
Não houve, partes conflituantes, tão pouco barricadas militares, salvo as da facção Neto, logo só ele e seus sequazes engendraram um falso golpe de Estado para justificar o genocídio.
“O Presidente afirmou que a história não se apaga e que era importante cada um de nós dar o seu contributo à procura da verdade. Este foi um documento premonitório do que aconteceu a 27 de Maio”, sublinhou Manuel Vidigal, a propósito da obra apresentada hoje em Lisboa e amanhã, em Luanda.
Esta Associação, juntamente com a dos Sobreviventes do 27 de Maio, são uns dos grandes responsáveis pelo lançamento desta obra póstuma em Luanda e Lisboa, no formato livro, depois de durante muitos anos ter cabido, a espinhosa e ousada tarefa, ao Folha 8, de a partir de 1996, a muitos mãos, iniciadas com as de Salas Neto, não deixar morrer no esquecimento, este documento e concomitantemente, os assassinatos cruéis do 27 de Maio, publicando, regularmente, nas suas páginas, afrontando o regime, por altura da data e não só, as famosas e quase proibidas 13 teses, um recurso político-partidário, que deveria ser apresentado no Tribunal de inquisição, pelo valoroso comandante Nito Alves. Algumas fontes dizem terem sido, originalmente, 14, mas a última não ter seguido, por o agrafador não conseguir juntar estas últimas.
Sobre a promessa de João Lourenço relativamente à entrega dos restos mortais das vítimas dos conflitos às famílias, incluídas os dos mártires do 27 de Maio de 1977, o também médico, Vidigal acredita que será cumprida, por, na sua opinião, também, ser importante, apurar toda a verdade dos factos e responsabilizar os autores dos crimes, mas “o objectivo não é nenhuma revanche, mas é importante saber quem fez, quem cometeu os crimes”.
Os sobreviventes do 27 de Maio de 1977 lembram que conseguir, reunir em livro, as “13 Teses em Minha Defesa” de Nito Alves foi, “mais do que um propósito, uma obsessão”, tendo para além de páginas comentadas no Folha 8, desde 1966, uma cópia do documento publicada no site da Associação 27 de Maio.
Recorde-se que o documento é a resposta de Nito Alves ao conjunto de acusações que lhe dirigiram durante a Terceira Reunião Plenária do Comité Central do MPLA, que teve lugar em Outubro de 1976 e, segundo os sobreviventes, contém todo um manancial de provas que “se tornaram incómodas para aqueles que, no Comité Central, o combateram e acabaram por assassinar”.
“Publicá-las (as 13 teses) é também para nós, Associação 27 de Maio e Sobreviventes do 27 de Maio, uma forma de homenagear o nacionalista e revolucionário angolano que foi Alves Bernardo Baptista, o ‘Nito Alves’, um mártir da revolução angolana”, salientam, a propósito da edição do livro.
Em 27 de Maio de 1977, Agostinho Neto simulou, com a ajuda da sua polícia política, integrada por masoquistas e verdadeiros assassinos, uma alegada tentativa de golpe de Estado, que nunca existiu, para assassinar Nito Alves, Zé Van-Dúnem, Monstro Imortal e outros, para se perpetuar no poder, não tendo pejo em mandar assassinar, por intermédio de Onanbwe e Tony Laton seu braço direito, os comandantes, Bula Saydi Mingas e outros, para correndo sangue, justificar depois a monstruosa barbárie que se seguiu, em que terão morrido cerca de 80 mil jovens, todos do MPLA, pelo crime de pensarem diferente e muitos com estrutura intelectual e moral superior a de Agostinho Neto e seus “Tontons Macoutes”.
Quando no dia 21 de Maio, Agostinho Neto decide expulsar do comité central, Nito Alves e José Van Dúnem, já tinha assinado as suas guias de morte, tendo nos dias seguintes, Artur Pestana Pepetela escrito e publicado um texto apócrifo, no Jornal de Angola, com ilustração do seu director, à época, Costa Andrade Ndunduma, onde este textualiza, precisamente, tudo que viria a ocorrer naquele fatídico dia e seguintes. Coincidência? Não, pois elas não existem em política, estes intelectuais faziam parte dos comités da morte de Neto, no caso a famigerada Comissão das Lágrimas. Fosse outro angolano e nunca ganharia o Prémio Camões, tendo as mãos banhadas de sangue de inocentes, Pepetela que nunca foi capaz de se desculpar, ante as vítimas e sobreviventes. Recorde-se que Nito Alves foi ministro da Administração Interna, uma espécie de Administração do Território, que não tinha sob sua dependência directa ou indirecta as forças policiais e de Segurança de Estado.
Por outro lado, nunca os ditos fraccionistas atacaram a Rádio Nacional e uma outra instalação governamental ou policial, pois, esta prova o regime e seu governo têm sido incompetentes em provar, alimentando-se de mentiras. Se os fraccionistas ocuparam a Rádio Nacional, porque não fizeram uma declaração de incitação e mobilização as suas forças? Uma resposta: ninguém invadiu a RNA, para tomar o poder e difundir mensagens contra a direcção do MPLA.
Agora uma verdade, as tropas cubanas, enviadas por Fidel de Castro comportaram-se como autênticos mercenários, pois, como estrangeiros, lideraram, também, os assassinatos de milhares de angolanos, logo, um dia, também terão de ser julgados, para se saber das motivações, que os levaram a actuar tão severa e cegamente a favor de Agostinho Neto.
Folha 8 com Lusa