Moçambique e a vizinha Tanzânia podem chegar a produzir energia equivalente a 800 mil barris de petróleo por dia em 2025 se conseguirem equilibrar a competitividade com a melhoria das condições de vida dos cidadãos, diz a consultora IHS.
M oçambique, e também a Tanzânia, “têm de manter o país competitivo, do ponto de vista das multinacionais que querem investir, mas por outro lado os recursos naturais têm de beneficiar o orçamento e melhorar a vida das pessoas, por isso os termos são apertados, há novos impostos, novas dificuldades, e é fundamental encontrar o equilíbrio entre a competitividade e a utilização dos recursos localmente”, disse o analista da IHS Stanislas Drochon, em declarações à Lusa.
“É muito importante pensar que as grandes companhias internacionais de energia não estão apenas nestes países do leste de África, estão no mundo inteiro e precisam de fazer escolhas de investimento, não podem ‘ir a todas’, têm de optimizar o portefólio, por isso será crítico para o Governo e para os reguladores continuarem a manter o país atractivo”, salienta o analista, referindo-se especificamente a Moçambique.
“Em Moçambique, as empresas e o Governo estão muito entusiasmados, até as pessoas nas ruas”, com a possibilidade do grande desenvolvimento de projectos de exploração dos recursos naturais, mas há “muitos desafios” ainda a superar, alerta.
“Há muitos desafios, como a falta de infra-estruturas, e há sítios onde não há nada, tudo terá de ser construído, e também por isso tudo é muito caro, há que criar todas as condições para a exportação” de gás natural, acrescenta o analista.
Construir uma central de gás natural liquefeito (LNG) “é tremendamente caro, e isso é uma questão sensível para as empresas, ainda para mais num contexto onde há falta de capacidade institucional”.
“Há biliões de dólares debaixo da terra, mas a grande questão é saber como monetizar isso e, ao mesmo tempo, desenvolver o país, criando emprego e dando mais poder às pessoas”, afirma.
Nas declarações a propósito das últimas projecções da consultora para o Leste de África, que apontam para uma produção de gás equivalente a 800 mil barris de petróleo em 2025, com o início da produção em 2019, Stanislas Drochon defende que o leste de África é o próximo ‘hot spot’, “uma das últimas fronteiras” em termos de exploração de recursos naturais.
Esta designação, aliás, aplica-se também aos países vizinhos de Moçambique, porque como as descobertas foram feitas perto das fronteiras, é provável que haja também recursos naturais passíveis de serem explorados nesses países, o que contribui para que a região possa acelerar o seu desenvolvimento: “A descoberta de novas reservas é muito importante porque foram feitas perto da fronteira com outros países, países a quem ninguém estava a ligar, mas que agora, por causa das descobertas, podem também transformar-se em ‘hot spots'”.
A descoberta de reservas pode, assim, fazer com que a produção de energia possa chegar a 1 milhão de barris de petróleo por dia na região em 2025, uma vez que “o tempo entre a descoberta e a comercialização pode demorar uma década”.
O valor de 1 milhão de barris por dia, apesar de elevado para os padrões atuais desta zona de África, é cerca de metade da produção diária de Angola e menos de metade da produção de Nigéria, o maior produtor africano.