A consultora NKC African Economics considerou hoje que as recentes manifestações e os confrontos mortais em Angola mostram que o descontentamento popular deverá continuar, oferecendo um terreno fértil para a oposição capitalizar a insatisfação dos eleitores.
“Não é claro se os eventos em Cafunfo vão levar a mais instabilidade na região ou noutros sítios em Angola, mas o que é claro é que a insatisfação com o Governo de João Lourenço não mostra sinais de desvanecer, o que oferece aos partidos de oposição e aos movimentos independentistas a oportunidade para mobilizarem os apoiantes e aproveitarem o descontentamento geral”, disse o analista Louw Nel.
Pelos vistos não adiantou a ordem dada ao pasquim oficial (Jornal de Angola) para divulgar a tese de que havia estrangeiros envolvidos na rebelião…
O analista da NKC African Economics, a filial africana da britânica Oxford Economics, escreve que “o aumento das acções de protesto do Movimento do Protectorado Português da Lunda Tchokwe (MPPLT) coincidiu com uma subida generalizada das manifestações anti-Governo em Angola no ano passado, que estavam relacionadas com a deterioração das condições socioeconómicas agravadas pela pandemia e pela quebra dos preços do petróleo”.
As autoridades, lembra Louw Nel, “responderam de forma pesada, com a brutalidade policial a aumentar ainda mais o vigor dos protestos”, a que se juntou o adiamento das eleições municipais, um revés para estes movimentos, que “são os que mais têm a ganhar com a participação popular na escolha dos seus representantes municipais e distritais”.
A Polícia do MPLA reprimiu violentamente no passado sábado uma manifestação convocada pelo Movimento do Protectorado Português da Lunda Tchokwe (MPPLT), na vila de Cafunfo, na província da Lunda-Norte, para assinalar o 127.º aniversário do reconhecimento internacional do tratado de protectorado português da Lunda.
A polícia acusa elementos do MPPLT de terem tentado invadir uma esquadra policial de Cafunfo, incidente que foi reprimido resultando em pelo menos seis mortes e vários feridos. O MPPLT contraria a versão policial, alegando que as forças de segurança do MPLA dispararam indiscriminadamente contra manifestantes desarmados, provocando 15 mortos e dez feridos, entre os quais uma criança.
A autonomia da região das Lundas (Lunda Norte e Lunda Sul), rica em diamantes (mas não só), é reivindicada por este movimento que se baseia num Acordo de Protectorado celebrado entre nativos Lunda-Tchokwe e Portugal nos anos 1885 e 1894, que daria ao território um estatuto internacionalmente reconhecido.
Recorde-se que, segundo os génios do partido que está no Poder há 45 anos (o MPLA), o verdadeiro e mais antigo acordo de protectorado, sobre Angola e terras adjacentes, que os dirigentes do MPLA assinaram data de 1485 e foi assinado pelo próprio Diogo Cão…
Portugal, como faz parte do seu ADN, ignorou a condição do reino quando (tal como fez em relação a Cabinda) negociou a entrega (chamou-lhe eufemisticamente independência) de Angola entre 1974/1975 apenas ao MPLA, simulando que o fazia também com a UNITA e a FNLA.
Na segunda-feira, a polícia do MPLA também impediu e deteve seis activistas de Cabinda, que tentaram realizar uma manifestação em frente à Embaixada portuguesa em Luanda, para exigir a Portugal o cumprimento do acordo que permitia (permitirá um dia) a independência do enclave.
Os independentistas de Cabinda defendem que o território era uma colónia independente de Portugal e deveria ter sido tratada enquanto tal no processo de independência de Angola.
Cabinda, onde se encontram a maior parte das reservas petrolíferas do país, não é contígua com o resto do território e desde há muitos anos que líderes locais defendem a independência, alegando (o que é verdade) uma história colonial autónoma de Luanda.
Entretanto, a Polícia continua à procura das “armas de fogo do tipo AKM, caçadeiras, ferros, paus e outras armas brancas, bem como pequenos engenhos explosivos artesanais” que disse estarem na posse dos “terroristas” que atacaram a esquadra policial de Cafunfo.
Folha 8 com Lusa