Isabel levou ao campeonato do mundo de futebol, no Brasil, 600 convidados. Casou com Sindika Dokolo, coleccionador de arte e filho de um empresário de diamantes. Contou com 800 convidados, entre os quais vários presidentes africanos. É a mulher mais rica da África e arredores (Portugal, por exemplo).
Nascida em 1973 em Baku (Azerbaijão, ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a URSS), é a primeira filha de José Eduardo dos Santos, presidente de Angola desde 1979, formado – diz-se – em engenharia petrolífera e comunicações por radar. Foi por lá que conheceu a jogadora de xadrez russa Tatiana Kukanova, a primeira das suas três esposas, mãe de Isabel.
Perante a separação dos pais, Isabel foi viver com a mãe em Londres, onde estudou engenharia no King’s College, e conheceu seu futuro marido, Sindika Dokolo, com quem se casou em 2002.
Nessa época, contam os cronistas do reino, Isabel abriu o seu primeiro negócio, um bar na baía de Luanda. Terá sido nos recantos desse negócio que descobriu a mina que a transformaria na mulher mais rica do continente africano… e arredores.
Os cronistas anti-regime (leia-se defensores de um Estado de Direito) falam que o autor do milagre é, isso sim, o seu pai que, no uso dos seus poderes (que gosta de dizer que são democráticos), tem uma comissão em tudo quanto envolva dinheiro.
A ideologia socialista/comunista de Eduardo dos Santos só durou até o final dos anos 1990, altura em que já tinha quase 20 anos de comando do regime. Foi então que, por obra divina, abraçou o capitalismo e começou a assinar contratos de concessão com o capital privado estrangeiro para a exploração dos inesgotáveis recursos naturais que deveriam ser de todos mas que, obviamente, passaram a ser seus e dos seus comparsas.
Por alguma razão, afirmam os cronistas anti-regime, cerca de 70% da população sobreviva com menos de dois dólares por dia e, segundo a organização Transparency International, no mundo há apenas 10 países mais corruptos que Angola (posição 168 no ranking entre os 178 países analisados).
Passada a fase do bar, Isabel entra de alma, coração e tudo o mais no negócio dos diamantes. O presidente cria a Endiama, empresa estatal para a exploração dos mesmos, aparecendo a sua filha como proprietária de 25% da sociedade.
Por outro lado, já incapaz de dar luz ao seu Povo, muito menos – como outrora – ao mundo, Portugal regressa em força a Angola. Foi o caso no “descobridor” Américo Amorim que, abordo de uma lucrativa nau de cortiça, consegue que Eduardo dos Santos conceda uma licença a um banco privado, o BIC. E, na velha tradição, Isabel dos Santos lá aparece com 25%. E, ganhando-lhe o gosto, Isabel leva tudo à sua frente.
Na Amorim Energia 45% são de Isabel, formalmente sob a holding holandesa Esperanza. Por meio dessa sociedade, controla a petrolífera portuguesa Galp, onde Eduardo dos Santos tem uma participação directa de 7%. Já então Isabel dos Santos era a mulher mais poderosa de… Portugal.
Isabel dos Santos, como bem defendem os cronistas e arautos do regime, rejeita as insinuações de que seus negócios estão muito relacionados com os 35 anos de presidência do seu pai. Faz sentido. Importa não esquecer que, como ela disse ao “Financial Times”, aos seis anos de idade vendia ovos como uma qualquer zungueira dos nossos dias.
O seu marido é mais assertivo quando fala da Isabel: “É muito tranquila e muito estável, gosta de ter uma perspectiva a longo prazo. Possui três qualidades que a transformam na grande força de Angola: autoconfiança, estabilidade e ambição.”
Enquanto isso, no final do século passado nasceu, obviamente por decreto presidencial, a primeira operadora de telecomunicações privada de Angola, a Unitel. Em 2001, entrou no negócio de telefonia móvel, já com 25% nas mãos de Isabel dos Santos. Apenas um ano depois, a Portugal Telecom (PT) pagou uma batelada de dinheiro para ficar com 25% da empresa angolana.
A Unitel é a maior operadora privada de Angola, com mais de 10 milhões de clientes, quase metade da população, e com lucros elevados.
E é assim que, há poucos dias, se chega à Terra Peregrin, a empresa que Isabel dos Santos usou para lançar a OPA (Oferta Pública de Aquisição) à PT SGPS. Foi criada no dia 7 de Novembro de 2014 e tem um capital social de 51 mil euros.
Alguns supostos especialistas portugueses revelaram, indignados, que a Terra Peregrin possui dois administradores, Isabel dos Santos e Mário Leite, o homem forte da filha do Presidente de Angola para os negócios em Portugal, e que o capital social é ridículo tento em conta que ofereceu 1,21 mil milhões de euros pela Portugal Telecom, 1,35 euros por acção.
Para que a OPA seja considerada bem-sucedida, a empresa de Isabel dos Santos teria de adquirir pelo menos 50,01% das acções e dos direitos de voto correspondentes ao capital social da PT SGPS.
Ao que parece, os areópagos políticos e jornalísticos de Lisboa estão a duvidar da sustentabilidade financeira da Terra Peregrin (pelo seu parco capital social, 51 mil euros), bem como da sua idoneidade empresarial, por ter sido fundada há poucos dias.
Ledo engano. Dinheiro é coisa que não falta a Isabel dos Santos. Para ela tanto faz ter um capital social de 51 mil euros, 510 mil, ou cinco milhões. O montante foi escolhido por que era suficiente para mexer com as águas putrefactas em que se encontra a PT. Dessa forma já conseguiu que os bagres (Oi, fundos de investimento, Presidente da República de Portugal, sindicatos etc.) viessem à tona
Quanto a ser uma empresa recente, não parece ser um argumento válido. Em Angola, por exemplo, até seria possível à filha do Presidente avançar com uma empresa a constituir futuramente.
Além disso, como cortina de fumo (espesso e opaco) foi uma jogada de mestre. Enquanto o pessoal anda entretido com estas histórias de embalar (tolos, sipaios e similares), Isabel está calmamente a preparar outras jogadas, outras compras. É só esperar.