Continua a dar que falar numa sociedade surda e muda o “caso Edeltrudes”. Depois de outras notícias sobre o mesmo assunto, uma reportagem da televisão portuguesa TVI denunciou um alegado favorecimento estatal ao chefe de gabinete do Presidente da República, Edeltrudes Costa, que também foi – conjuntamente com o ministro da Defesa, João Lourenço – um dos mais altos dignitários do anterior presidente, José Eduardo dos Santos.
A UNITA, principal partido da oposição que o MPLA ainda permite, mostrou esta segunda-feira preocupação com “o cercear das liberdades de expressão e de imprensa nos últimos meses” no país, apontando a “censura de conteúdos” na TV Zimbo como o caso mais recente.
“O Grupo Parlamentar da UNITA acompanha com preocupação o cercear das liberdades de expressão e de imprensa nos últimos meses, em Angola, por acção de estruturas ligadas ao Executivo Angolano“, refere um comunicado do partido, destacando o caso recente que envolveu a rubrica da TV Zimbo, “Directo ao Ponto”, com o jornalista Carlos Rosado de Carvalho, emitida habitualmente ao sábado no fim do Jornal da Noite.
Conforme o Folha 8 escreveu, no sábado passado, Carlos Rosado de Carvalho anunciou, através da sua conta no Twitter, ter posto um “ponto final” na colaboração após lhe ter sido comunicado que não era “oportuno” abordar o tema “Edeltrudes Costa” como tinha sugerido.
Edeltrudes Costa, chefe de gabinete do Presidente da República, João Lourenço, terá sido alegadamente beneficiado em contratos com o Estado que lhe renderam milhões de dólares, segundo já tinham referido outros órgãos de comunicação social e que foi recentemente divulgado pela televisão portuguesa TVI.
“Ao recusar a análise do caso que envolve o Director de Gabinete do Presidente da República, Edeltrudes Costa, a Comissão de gestão da TV Zimbo veio provar o que já se suspeitava com o confisco deste órgão e de outros que passaram para a tutela do Estado, sobre o perigo dos monopólios e o fim do pluralismo, numa autêntica violação da Constituição da República de Angola e da Lei 1/17, Lei de Imprensa”, salienta a UNITA.
O partido sustenta que existe “incongruência, quando o Executivo, a despeito da redução de despesas, está a privatizar empresas públicas e ao mesmo tempo confisca e coloca sob sua tutela empresas privadas, aumentando assim as despesas ao Estado”, recomendando, por isso, “a reprivatização urgente das empresas de comunicação social”.
Em causa está também um mais do que evidente “retrocesso quanto ao direito de informação, liberdades de expressão e de imprensa, fundamentos de um Estado Democrático e Direito”.
A UNITA denuncia no mesmo comunicado “a prática crescente de censura nos demais órgãos públicos, especialmente na TPA e RNA, onde não há igualdade de tratamento das forças políticas e dos sectores da sociedade civil críticos ao regime”, contrariando as promessas de liberalização do sector da comunicação social.
Condena ainda a “falta de vontade do Executivo” (chefiado, tal como o MPLA e a Presidência da República pela mesma pessoa, João Lourenço) em criar condições para “o bom funcionamento da Entidade Reguladora da Comunicação Social” e exorta os profissionais da classe a “não se vergarem diante de ameaças de qualquer espécie que condicionem a sua consciência no exercício da profissão”.
O Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) e o Instituto para a Comunicação Social da África Austral de Angola condenaram o “acto de censura” da TV Zimbo e solidarizaram-se com o jornalista Carlos Rosado de Carvalho. Ao que consta os dirigentes do MPLA não se fartam de rir, embora alguns digam que João Lourenço não está a achar piada e está farto de ver os seus mais próximos colaboradores a dar tiros nos pés… dele.
A TV Zimbo, a Rádio Mais e o jornal O País, todas do grupo Media Nova, foram confiscados pelo Estado (MPLA, facção João Lourenço) no final de Julho, no âmbito do processo de recuperação de activos criados com fundos públicos, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR).
Os órgãos de comunicação social eram detidos por três homens fortes do antigo Presidente José Eduardo dos Santos, hoje a braços com a justiça: os generais Leopoldino Fragoso do Nascimento “Dino”, ex-chefe do Serviço de Comunicações, Hélder Vieira Dias “Kopelipa”, antigo chefe da Casa Militar de José Eduardo dos Santos e o seu ex-vice-presidente, Manuel Vicente. Homem forte de Eduardo dos Santos foi também o seu ministro da Defesa, João Lourenço, a ponto de ter sido o escolhido pelo anterior presidente para ser o seu sucessor.
O Serviço Nacional de Recuperação de Activos entregou depois as empresas ao Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social que nomeou uma comissão do MPLA para fazer a gestão (partidária) da TV Zimbo.
Paulo Julião, o chefe do posto do MPLA mandatado para coordenador a Comissão de Gestão da Zimbo, nega qualquer acto de censura referindo que se tratou de um acto de “soberania editorial“. Pum! E siga a orgia do MPLA.
Paulo Julião explica o inexplicável: “O jornalista queria apresentar o caso de uma forma diferente daquela que estava a ser difundida pelos órgãos de comunicação social e que não era favorável à imagem da Zimbo“. Ou seja, era “uma abordagem pouco jornalística e isenta” que, segundo Paulo Julião, até “podia parecer” favorável a Edeltrudes Costa.
“Imagem da Zimbo”, “abordagem pouco jornalística e isenta”. Nem os especialistas do MPLA na ERCA, os que têm de se descalçar para contar até 12, que são invertebrados e têm o cérebro nos intestinos dariam melhor explicação.
E enquanto a orgia canibalesca do MPLA (nesta matéria não há diferenças entre facções) continua a somar pontos no bordel do Poder, o Presidente da República (com a assumida solidariedade do Presidente do MPLA e do Titula do Poder Executivo) continua a pensar se deve pensar, para pensar se pensar em agir é um pensamento que merece ser pensado.
Até agora parece ter decidido que às segunda, quartas e sextas e vai pensar se deve pensar. Sendo que às terças, quintas e sábados irá inverter a ordem dos factores. Aos domingos dedicar-se-á a fazer o balanço da semana.
Folha 8 com Lusa