O ex-Presidente angolano e Presidente Emérito do MPLA, José Eduardo dos Santos, negou no dia 21 de Novembro de 2018, ter deixado a Presidência/Governo/MPLA com os cofres vazios, garantindo que deixou pelo menos 15 mil milhões de dólares ao executivo do seu escolhido, João Lourenço, mostrando que o seu sucessor fazia da mentira uma poderosa arma.
Foi, é e será caso para perguntar: Afinal quem é o ladrão? João Lourenço já disse que viu roubar, participou nos roubos, beneficiou dos roubos. No entanto, garante que apesar disso tudo não é ladrão…
“Não deixei os cofres do Estado vazios. Em Setembro de 2017, na passagem de testemunho, deixei 15 mil milhões de dólares no Banco Nacional de Angola como reservas internacionais líquidas a cargo do um gestor que era o governador do BNA sob orientação do Governo”, disse José Eduardo dos Santos.
Numa declaração aos jornalistas sem direito a perguntas, na sede da Fundação Eduardo dos Santos, em Luanda, o antigo Presidente afirmou a necessidade de “prestar alguns esclarecimentos” sobre a forma como conduziu a coisa pública durante os 38 anos de Governo.
Numa entrevista ao jornal português Expresso (teve de ser a um órgão estrangeiro porque no país não há… jornais), o Presidente João Lourenço disse que quando assumiu o poder encontrou os cofres vazios ou a serem esvaziados.
Segundo Eduardo dos Santos, o Orçamento Geral do Estado é aprovado pela Assembleia Nacional e todas as receitas e despesas do Estado devem estar obrigatoriamente inscritas.
“O OGE de 2017 tinha um défice de 6% e a cobertura desse défice era suportada com a venda de títulos do tesouro aos bancos comerciais, dívida que tinha de se pagar mais tarde com juros e o dinheiro depositado no tesouro”, justificou Eduardo dos Santos.
Por sua vez, João Lourenço também criticou a forma como o seu antecessor procedeu na fase de transição do poder, dizendo que não houve uma “verdadeira passagem de pasta”, o que o obrigou, nos primeiros meses no Palácio da Cidade Alta, a um trabalho redobrado para se inteirar da real situação do país.
“Esperava uma verdadeira passagem de pasta em que me fosse dado a conhecer os grandes dossiês do país e isso, de facto, não aconteceu”, lamentou João Lourenço, que aproveitou ainda para dizer que esse momento de transição foi quando se deu conta da “anormalidade” dos últimos actos do ex-Presidente José Eduardo dos Santos.
“Anormalidade” que, convenientemente, passou ao lado de João Lourenço que, sendo uma virgem inocente, nada notou mesmo sendo ministro da Defesa de Eduardo dos Santos e vice-presidente do MPLA. Quem quiser pode acreditar, obviamente.
João Lourenço também desafiou Eduardo dos Santos a denunciar os corruptos e os traidores da pátria. O Presidente Emérito (do MPLA) esta disposto a fazê-lo, mas não com a metodologia que João Lourenço quer. Tanto quanto é possível saber, Eduardo dos Santos quer apresentar essa longa lista de corruptos, começando pelos que mais responsabilidades políticas e governativas tiveram, o que coloca João Lourenço no pódio, já que foi, para além de ministro, vice-presidente do MPLA.
“Como vocês (Folha 8) escreveram, é claro que João Lourenço apostou tudo em passar a imagem, interna e externamente, de político impoluto, íntegro e honorável que nada tem a ver com traidores ou corruptos”, disse ao F8 , em Novembro de 2018, um dos generais da “velha-guarda” que se mantém fiel a José Eduardo dos Santos.
Um outro incondicional de JES que, aliás, integrou o governo em que João Lourenço foi ministro da Defesa, acredita que “os novos dirigentes do MPLA, assim como os velhos que estão a pôr a barba de molho e a ajoelhar-se perante o novo presidente, vão tentar calar Eduardo dos Santos, evitando que ele revele tudo o que sabe”.
Mas quem são esses “velhos”? “São quase todos os que agora integram o séquito do novo presidente, e que têm (tal como tem João Lourenço) rabos-de-palha que nunca mais acabam”, refere a mesma fonte.
Se dúvidas existissem, analisando as afirmações de João Lourenço confirma-se que ele rasgou o acordo de compromisso negociado com José Eduardo dos Santos. Mas, tal como Folha 8 já revelara em 22 de Novembro de 2017.
Mais do que o conteúdo dos pronunciamentos e das decisões já tomadas, muitos dos dirigentes do MPLA que até eram – embora moderadamente – críticos de JES, contestam a avidez e os “ataques kamikaze” de João Lourenço que relembra uma “tese marxista de que o importante não é a sociedade que se quer construir mas, apenas, a que se quer destruir”.
João Lourenço tem, de facto, demonstrado que quer, pode manda, mesmo que isso mais não seja do que a passagem de um atestado de incompetência ao anterior executivo ao qual, aliás, pertenceu enquanto ministro da Defesa e como alto dirigente do próprio MPLA.
A interpretação de que João Lourenço só responde perante a Constituição, que solenemente jurou cumprir, esbarra e colide nas regras partidárias que fizeram jurisprudência nas últimas décadas e que dizem que todas essas decisões de Estado não podem contrariar a soberana orientação do partido.
Habilmente, embora sem efeitos práticos, João Lourenço conseguiu nos dois primeiros anos de (suposta) governação cativar a simpatia de velhos “inimigos” do MPLA. Bastou-lhe, para isso, pôr a correr pelo mundo que iria liderar um sério e decisivo combate à corrupção, branqueando a sua própria participação nesse cancro.
Meio mundo (o Folha 8 está no outro meio) acredita que João Lourenço vai aniquilar José Eduardo dos Santos. Nessa ofensiva supostamente contra a corrupção em Angola, o actual Presidente do MPLA, procura vender gato por coelho pois sabe por experiência própria que se acabar a corrupção… acaba o próprio MPLA.
O poder político em Portugal sempre teve, tem e terá uma relação oportunista com Angola, privilegiando ligações com a elite angolana, independentemente de considerações sobre corrupção.
É exactamente isto que João Lourenço espera, foi exactamente isto que aprendeu com o seu grande mestre e mentor, José Eduardo dos Santos. Isto é, que os seus principais “advogados” de defesa sejam aqueles que acusam quem está dentro do galinheiro a roubar as galinhas, esquecendo os que estão, ou estiveram, à porta… de guarda.
Mas a verdade é que, até agora, João Lourenço não ganhou a guerra e, aliás, tem estado a perder uma série de batalhas importantes. Veja-se o caso da ex-ministra das Pescas escolhida por João Lourenço, Victória de Barros Neto, que tem as contas bancárias bloqueadas por ordem da Procuradoria-Geral da República, ao mesmo tempo que contra ela foi instaurado um processo-crime.
João Lourenço quis caçar leões, preparou toda a comitiva, mostrou armamento pesado e atiradores de alto gabarito. Todos, ou quase, acreditaram que seria desta que os leões virariam troféus. Chegados ao local, os leões apareceram, os caçadores fizerem pontaria e puxaram o gatilho.
Resultado? Os leões comeram os caçadores. Porquê? As armas de elevado calibre não tinham balas…