A ex-eurodeputada socialista e portuguesa Ana Gomes diz que Isabel dos Santos “controla, através de um testa-de-ferro, a Global Media” — o grupo português que detém meios de comunicação como o Diário de Notícias, Jornal de Notícias e TSF. “Põe toda a gente a limpar-se na Wikipédia. Controla tudo o que sai sobre ela na imprensa. Controla através de um testa-de-ferro, a Global Media”, afirmou Ana Gomes. E quem é esse testa-de-ferro? No caso, Ana Gomes atira o calhau e esconde a mão. Estará a falar de Daniel Proença de Carvalho, de António Mosquito?
O Vaticano esteve a investigar um investimento de 200 milhões de dólares (180 milhões de euros) considerado pouco transparente, que envolveu o empresário angolano António Mosquito, o sinistro o cardeal Giovanni Angelo Becciu (bem conhecido em Angola) e, claro, a Falcon Oil, revelou no passado 18 de Outubro o jornal Financial Times.
A Secretaria de Estado do Vaticano recorreu a consultores externos, em 2012, para realizar um empréstimo de 200 milhões de dólares, com fundos que tinha em contas bancárias suíças, à Falcon Oil, uma empresa petrolífera angolana, controlada pelo conhecido empresário António Mosquito, também com negócios em Portugal.
Porém, depois de ter decidido não conceder o empréstimo à Falcon Oil, a Secretaria do Vaticano decidiu investir a verba, juntamente com um fundo italiano com sede em Londres, na compra de uma participação minoritária num imóvel que aquela entidade financeira já tinha no exclusivo bairro londrino de Chelsea.
O negócio imobiliário de Londres foi o objecto da investigação judicial da Santa Sé, no decurso da qual a polícia do Vaticano apreendeu documentos e computadores dos escritórios da Secretaria de Estado. O Vaticano recusou-se a comentar o conteúdo da investigação, limitando-se a informar que foram investigadas transacções financeiras passadas.
O empresário angolano António Mosquito, que foi accionista de referência da Global Média, proprietária entre outros títulos do Diário de Notícias, Jornal de Notícias e da rádio TSF, e possuiu a maioria do capital da construtora Soares da Costa, aproximou-se directamente do Vaticano para propor um investimento de 200 milhões de dólares, disse uma autoridade sénior da Santa Sé.
António Mosquito conhecia o cardeal Giovanni Angelo Becciu, desde que este fora embaixador do Vaticano em Angola, entre 2001 e 2009.
A Falcon Oil e o empresário António Mosquito não responderam ao pedido do Financial Times de um comentário sobre esta investigação, escreve o jornal.
Até 2018, o cardeal Giovanni Angelo Becciu era o segundo mais alto funcionário da Secretaria de Estado do Vaticano, reportando directamente a Bento XVI e, mais tarde, ao papa Francisco.
A realização do investimento imobiliário de Londres foi autorizada por aquele cardeal, disseram fontes directamente envolvidas na operação.
“António Mosquito entrou em contacto com a Secretaria de Estado, como qualquer outra pessoa poderia facilmente ter feito”, disse Alberto Perlasca, ex-alto funcionário do gabinete da Administração da Secretaria do Vaticano e actual presidente da Transparência Internacional.
“O facto de nada ter sido feito mostra que a Secretaria de Estado foi escrupulosa no exame do investimento, além de qualquer consideração de pessoa ou de amizade”, acrescentou.
Alberto Perlasca não respondeu directamente a perguntas sobre por que um empréstimo de 200 milhões de dólares para uma plataforma petrolífera angolana foi considerado um possível investimento adequado.
Em 2012, a Falcon Oil detinha uma participação de 5% num bloco de exploração offshore angolana 15/06, cujos maiores accionistas eram a petrolífera italiana Eni e a sua congénere estatal angolana Sonangol.
A Falcon Oil estava a tentar um empréstimo de 200 milhões de dólares com o objectivo de financiar a sua contribuição para a construção de uma plataforma offshore que estava para arrancar naquele bloco.
O cardeal Alberto Becciu recusou-se a responder directamente às perguntas do Financial Times. Por seu lado, o WRM, um fundo de investimento de Raffaele Mincione que detinha a maioria do edifício londrino, admitiu que fez a análise do investimento em Angola.
“O Credit Suisse, em nome da Santa Sé, solicitou ao WRM que realizasse a devida diligência sobre o projecto de petróleo com o objectivo de investir 200 milhões de dólares”, afirmou, acrescentando: “A nossa análise foi extensa e levou-nos a recomendar ao Credit Suisse e à Santa Sé que não realizasse esse investimento”.
O Credit Suisse, banco que também está a ser investigado por suspeitas de envolvimento de alguns dos seus responsáveis no processo designado de dívidas ocultas em Moçambique, também se recusou a fazer comentários sobre a investigação do Vaticano. O Credit Suisse actuava como banco privado da Secretaria de Estado do Vaticano e assessorava os seus investimentos.
O WRM adiantou ainda que não teve conhecimento directo da investigação do Vaticano sobre o investimento da Secretaria na sua propriedade em Londres e disse estar confiante de que não cometeu nenhum erro.
Delapidar está no ADN do MPLA
O regime, que considera que Angola é o MPLA e o MPLA é Angola, tudo está a fazer para continuar a delapidar os cofres do dinheiro público, gerir mal os destinos de Angola, sem rigor, responsabilidade e sentido patriótico.
Os dados sobre como foram delapidados os cofres de dois bancos comerciais (CAP – Caixa Agro Pecuária e BESA – Banco do Espírito Santo Angola), principalmente, este último, BESA, são arrepiantes.
“Num outro país ou com dirigentes mais comprometidos com o país e o seu povo, o que aconteceu com o BESA daria, seguramente, a queda do governo e a prisão da maioria dos governantes, como no Brasil, face à podridão e ao volume da roubalheira”, disse ao F8 um antigo homem forte do BESA, que por razões de segurança pediu o anonimato.
Não se percebe, como altos dirigentes e militantes de um partido político, o MPLA, ousaram levar à falência bancos comerciais, sem que houvesse consequências criminais, tão pouco a indignação da oposição e ou da sociedade civil.
Colocado perante esta evidência, a fonte afirmou: “Não compreendo a indignação de muitos, quando tudo isso só aconteceu por ter havido ordens expressas do senhor Presidente da República, ao Álvaro Sobrinho, para a concessão dos créditos, aos dirigentes do MPLA, aos seus filhos, irmãos e outros próximos, que tinham sempre um prévio OK, para em caso de crise o gabinete presidencial garantir que assumiria. E foi o que para surpresa geral veio a ocorrer e assim, nunca mais ninguém vai devolver esse dinheiro e a dívida pública angolana vai aumentar”.
A culpa dos milhões e milhões de dólares, sub-repticiamente, roubados, por uns poucos, são responsáveis pela existência dos 20 milhões de angolanos pobres, que vivem abaixo do limiar da pobreza, sem medicamentos, assistência médica condigna, hospitais públicos decentes, enfermeiros competentes, escolas verdadeiras, professores estimulados, saneamento básico, água, luz e o sonho de terem oportunidades que lhes leve a projectar um futuro melhor.
A insensibilidade brada aos céus, mas a falta de vergonha é própria de malandros, termo superiormente colocado no léxico político, por João Lourenço, então ministro da Defesa, vice-presidente do MPLA e seu cabeça-de-lista (por escolha pessoal de José Eduardo dos Santos), às eleições de Agosto 2017.
“O dinheiro dado a estas figuras, não tinha outra garantia, senão os cartões das ordens superiores, pois em Angola, nenhuma grande operação é feita, sem que o Presidente Eduardo dos Santos tenha conhecimento e dê o seu aval. Foi o que aconteceu com os cerca de 6 mil milhões de dólares”, explicou.
Está a falar-se num montante assustador de mais de 5,7 mil milhões de dólares, distribuído por homens e mulheres do e ligados aos corredores de um poder, cada vez mais distante do povo, mas aliado fiel da corrupção, subtilmente institucionalizada.
A lista arrepia, por quase ninguém das superestruturas partidária e governamental, estar imune, as mãos untadas com óleo de uma roubalheira consciente, danosa, premeditada e dolosa.
Consciente, por terem ciência que lhes faltava experiência de gestão comercial, para em tempo oportuno, procederem ao pagamento dos juros; logo danosa, por causar prejuízos ao financiador; premeditada, por terem previsto e planificado o procedimento e doloso, uma vez saberem que a irresponsabilidade pelo não pagamento causaria consequências difíceis de reparar.
O antigo economista do BESA diz ainda “que muitos milhões de dólares eram dados, com um simples telefonema da Presidência da República, ao PCA, Dr. Sobrinho, que por sua vez, baixava ordens aos órgãos do Banco para procederem à entrega de milhões de dólares em cash, ou através de transferência bancária, sem que, muitas vezes, os beneficiários assinassem documento escritural algum”.
Ora, com todos estes ingredientes, os políticos de todos os quadrantes ante a descarada violação das leis e da Constituição, por um grupo reduzido de cidadãos, deveriam, publicamente, indignar-se exigindo não só uma auditoria internacional, para se apurarem responsabilidades individuais e colectivas, ante tão grande rombo financeiro de privados ao Estado, como os devidos procedimentos criminais.
“Na minha opinião”, disse o economista, “nunca mais esse dinheiro será recuperado, pois havendo impressões digitais do Presidente da República, a implicar os filhos, irmãos, amigos e dirigentes, a culpa vai morrer solteira, tal como aconteceu com o banco CAP, porque infelizmente Angola não tem verdadeiros políticos da oposição, que saem para a rua, em manifestações pedindo justiça e cadeia para com os gatunos e corruptos”.
Para nossa desgraça colectiva nada disso foi feito, mesmo depois de uma fonte do ex-BESA ter colocado a lista com parte dos grandes devedores na rua, bem com os montantes astronómicos levantados e não pagos.
Destacam-se Marta dos Santos (com um financiamento de 800 milhões de dólares) e Álvaro Sobrinho (745 milhões de dólares), antigo CEO do BESA, seguindo-se até nomes que muitos consideravam insuspeitos, como o do actual ministro da Defesa, que trata os políticos da oposição de Moçambique e Angola de “malandros”, talvez, por o silêncio destes ser tão comprometedor, ao ponto de desconseguirem chamar de corrupto, quem como João Lourenço se apossou de mais de 40 milhões de dólares. Será que alguém com este pesado passivo, pode arrogar-se em chamar nomes aos outros, quando não é um poço de virtudes?
Mas ainda assim faça-se justiça a João Lourenço, pois não navega sozinho no alto mar da corrupção institucional. É, superiormente, secundado por Roberto de Almeida, Manuel Nunes Júnior, Julião Mateus Paulo Dino Matross, entre outros.
É verdade estarem muitos a questionar a autenticidade da lista, mas, logo ao subir da onda, intriga o papel do “surfista mor”, que resolveu, sem qualquer justificativa, assumir o prejuízo, apagar as dívidas e inocentar os devedores, atirando os prejuízos para os contribuintes pobres, que devem contentar-se com a falta de tudo, enquanto uns poucos, sem mérito se divertem com o transbordar das contas, com dinheiro furtado.
“Seria bom que os angolanos despertassem do sono e, nas próximas eleições dessem um verdadeiro basta à corrupção, porque senão o futuro será pior, uma vez que a comunidade internacional, continuará a impor restrições à venda de divisas a Angola, não se descartando mesmo a aplicação de sanções económicas internacionais, se José Eduardo dos Santos e os filhos continuarem a controlar a riqueza do petróleo, dos diamantes e a dominar a banca e as telecomunicações”, assegurou o economista.
Xeque à rainha em Angola, santificação em Portugal
No dia 30 de Dezembro de 2017, Paulo de Morais (Presidente da Frente Cívica, de Portugal) publicou no Folha 8 o artigo que a seguir se transcreve na íntegra:
«Isabel dos Santos foi a angolana mais favorecida pelo regime corrupto de seu pai, José Eduardo dos Santos, no poder durante quase quarenta anos. Tornou-se, sob a protecção do regime, na mulher mais rica de África. Mas parece agora ser persona non grata do novo poder do presidente João Lourenço. Foi despedida da Sonangol, a sua carreira empresarial em Angola está a esboroar-se. Passou de bestial a besta.
Mas, em Portugal, o poder de Isabel dos Santos parece manter-se intacto, apesar dos seus dissabores na sua terra Natal. Pelo menos para já. Em África os percalços são muitos, mas, na Europa, Portugal é a colónia de Isabel.
A nível empresarial, o poder de Isabel dos Santos parece ir de vento em popa. Tem participações de relevo na energia, nas telecomunicações ou na Banca – na Galp, na NOS, no EuroBIC, na Efacec. Tem sociedade com as famílias mais ricas de Portugal: com os herdeiros de Belmiro de Azevedo partilha a NOS, com os herdeiros de Américo Amorim a Galp.
São muitos os seus empregados e apoiantes, que ao longo dos anos vem pagando a peso de ouro. Contrata e controla políticos, firmas de advogados famosos, políticos-advogados e manipuladores de informação.
Ao seu serviço, Lobo Xavier, conselheiro de Estado e confidente do Presidente Marcelo, administra a sua empresa de telecomunicações, a NOS. Nesta empresa, Paulo Mota Pinto foi também empregado de Isabel durante anos, enquanto exercia a função de deputado. Nuno Morais Sarmento, político actualmente muito activo, e José Miguel Júdice, – os dois advogados e comentadores, ambos sócios na mesma sociedade de advogados, a PLMJ – defendem Isabel dos Santos enquanto representantes do Grupo Santoro, a holding angolana de Isabel dos Santos.
A estes advogados junta-se, enquanto defensor do clã “Dos Santos & Amigos”, o famoso causídico Rui Patrício; este, sendo advogado de Manuel Vicente, ex-vice-Presidente de Angola, conseguiu assim mesmo ser nomeado para o Conselho de Prevenção da Corrupção português, em representação da ordem dos Advogados (!). Patrício partilha aliás o escritório com o já referido conselheiro de Estado Lobo Xavier.
E, claro, até o mais poderoso advogado português, Daniel Proença de Carvalho tem defendido os interesses de Isabel dos Santos, desde as telecomunicações na ZON, de que era Presidente; até às negociações com o Caixabank – sempre se destacou a ligação entre o todo-poderoso Proença e Isabel dos Santos. E quem haveria de ser o actual chairman do banco EuroBic e da NOS? Precisamente Jorge Brito Pereira, sócio de Proença de Carvalho e funcionário de Isabel dos Santos.
Na fileira dos comentadores televisivos fiéis a Isabel dos Santos – Júdice na TVI, Xavier na SIC e Morais Sarmento na RTP – junta-se o jovem Rodrigo Moita de Deus na mesma pública RTP, um dos muitos que estão ao serviço da poderosa agência de comunicação LPM; que por sua vez está ao serviço da ainda mais poderosa… Isabel dos Santos.
Nada lhe escapa. Também a nível autárquico tem apoiantes vários em Portugal, o mais famoso dos quais é Rui Moreira. O Presidente da Câmara do Porto não só acolheu no Porto a colecção de arte de Sindika Dokolo, marido de Isabel, como ainda lhe atribuiu a medalha da cidade.
Com problemas em Angola, Isabel dos Santos encontra em Portugal o paraíso para o seu dinheiro sujo; dinheiro que vem sendo recusado em outras partes do mundo mais sérias e civilizadas. Com uma classe política subserviente ao capital (de qualquer origem), Isabel dos Santos tem, aparentemente, o seu futuro garantido. A menos que… a menos que todos os seus apoiantes lusitanos se verguem, por um bom preço, ao novo poder de João Lourenço. Nesta eventualidade, Isabel dos Santos cairá em desgraça em Portugal, mas a máquina de subserviência e tráfico de influências continuará a funcionar, desta vez, ao serviço do novo “rei” de Angola.
Se valer a pena, os peões sacrificam a Dama.»