Gostaria de responder que não até porque silogisticamente seria uma contradição – na medida em que ser-se boa pessoa implicaria não ter preconceitos raciais – mas de facto há sim, e, de ambos os lados da barricada.
Por Brandão de Pinho
O que não há, garanto, é pessoas boas e inteligentes e honestas que sejam racistas. Mas nem todas as pessoas são inteligentes (até acho que somos uma minoria), e há mais pessoas más do que boas e quanto à honestidade… bem nunca saberemos, pois as pessoas só a poderiam revelar se expostas às circunstâncias apropriadas, pelo que há mais pessoas desonestas do que aquilo que possamos ajuizar.
O tema da guerra colonial ou de libertação conforme o ponto de vista, ainda é nas gerações nascidas antes da década de setenta ou nos cidadãos mais informados, um tema polémico, uma ferida aberta, enfim um desastre pior que Alcácer-Quibir e que todos os erros que sucessivos governantes lusos (reis em sua maioria) realizaram.
Ou de forma não propositada apenas por falta de qualificações ou excesso de romantismo patriótico e demasiada leitura de clássicos da cavalaria (como D. Sebastião); ou por incompetência e ignorâncias puras quase a roçar a demência senil e a menoridade intelectual (como D. Henrique I), ou por excesso de “magnanimidade” e mais zelo nos engates e “affaires” do que nas questões do reino (como D. João V), ou por outros defeitos de outros reis dos quais há quem aponte (eu não) D. José I por ter posto o despótico Marquês a mandar nos Tugas ou o meu homónimo D. Fernando I, último rei da I dinastia, por basicamente tudo o que fez ter sido errado, mesmo o facto de não ter filhos ou ter casado com uma espanhola.
Mas há dois governantes em plena república que ainda foram piores. Salazar, no século passado, é óbvio pela forma como manteve o país na ignorância e o transformou numa plutocracia (governo do país pelas famílias ricas e poderosas) e porque não compreendeu que o Império tinha acabado, arrastando portugueses e africanos para um carnificina que ainda hoje condiciona o desenvolvimento de Portugal, Angola, Moçambique e Guiné-Portuguesa.
Desenvolvimento inexistente mesmo que portugueses celebrem hoje o seu dia com pompa e circunstância e tenham ganho a Liga das Nações da Europa (com representantes de Cabo Verde, Guiné, Angola, Brasil, dos arquipélagos e da diáspora – eis o verdadeiro Portugal), dia que outrora chamavam Dia da Raça Portuguesa (conceito eivado de imperiosidades ridículas, imprecisões biológicas e históricas gritantes, para não falar do racismo subjacente) mas Portugal, bem lá no seu fundo, ainda é aquele Portugal Imperialista que explorou durante séculos os angolanos e que – orgulhosamente só – não deixa de ser o país mais atrasado da Europa dentre os países mais desenvolvidos do velho continente.
Desenvolvimento inexistente igualmente em Angola e Moçambique que devido à teimosia de Salazar que transformou estas duas nações em dois autênticos fantoches de EUA e URSS e que a seguir a uma guerra de libertação tiveram uma guerra civil, mais uma vez como parte de uma grande experiência para aferir quem mandava mais nesses tempos de guerra fria, se os capitalistas se os socialistas… tudo – na sua origem – por culpa da teimosia de Salazar e Marcelo.
Já do desenvolvimento da Guiné – rodeada de países francófonos libertados do jugo gaulês muito antes do 25 de Abril e com os quais, atempadamente, começaram a ter intrincadas relações – pode dizer-se que não existe. Nem muito, nem pouco. É um não país. É uma Somália ou uma Líbia. Um narco-estado. Culpados?: os portugueses.
Mas o pior de todos eles, o mais miserável e corrompido dos governantes, já neste século e milénio, – com tentáculos no Brasil, Angola, Venezuela e em qualquer coisa vagamente similar a um estado que tivesse ladrões e corruptos preferencialmente de esquerda – foi Sócrates (o filósofo que escrevia livros sem saber sequer do que falavam e depois os mandava comprar aos magotes para liderar os “ranking’s” de não-ficção). Esse mesmo Sócrates que esteve, juntamente com Ricardo Salgado e o seu lacaio Álvaro Sobrinho, o pessoal da PT, e dos bancos, e dos meios de comunicação social, e o das empresas de construção e tudo o que desabou após a queda do BES, envolvido em todas as grandes trafulhices que quase comprometiam Portugal como nação soberana. Suponho que pouco tempo lhe sobrasse para tratar do governo da nação com tantos esquemas e segredos que ocupariam, certamente, muito tempo e mil cuidados.
Mas esse pouquíssimo tempo sobejante, que deveria dedicar à pátria, esse infame, aplicava-o doutra maneira como se pode ouvir nas escutas que “vazaram”, aplicava-o de tal maneira e com tanta frequência em casos com mulheres, amantes, namoradas, meretrizes, rameiras, senhoras jornalistas amancebadas e chupistas e familiares (alguns foragidos cá em Angola) e também em decoração de interiores, que verdadeiramente não teria um minuto para fazer a única coisa para a qual democraticamente o povo português o elegeu: governar Portugal.
Sócrates foi o pior dos piores, desde Afonso Henriques até António Costa e Ticelito. Mérito lhe seja reconhecido pelo menos por isso.
Portugal, hoje, dia 10 de Junho de 2019, celebra o seu dia mas também o dia das suas comunidades na diáspora, o dia de Camões e sobretudo o dia da Língua Portuguesa.
Língua Portuguesa essa que é reconhecidamente – por todos os linguistas que conheço – melhor tratada em Angola do que na própria nação mau-grado todo o esforço do MPLA em tentar manter os angolanos ignorantes para melhor os dominar, da mesma forma que repetia incessantemente pelos seus meios que a UNITA tinha matado, comido criancinhas, atacado aldeias inocentes, e, feito todo o tipo de maldades para fazer uma lavagem cerebral os jovens de então, adultos de hoje, de tal forma que como num reflexo de Pavlov, o nome de Savimbi os faz pensar em coisas más tal como a campainha fazia o cão salivar.
Mas dediquemo-nos ao tema do título deste híbrido de ensaio, artigo de opinião e crónica que já tenho poucas linhas e se começo a divagar não o faço pouco e nada devagar. Adiante.
Eu posso falar de racismo porque já fui vítima dele. Apesar do meu irmão ser loiro, de olhos azuis e branco, já eu tenho um perfil mais mediterrâneo e apanhando sol e com o cabelo meio encrespado, rapado e de barba farta como costumo andar, posso passar por uma espécie de não europeu e foi o que aconteceu uma vez numas férias na Turquia numa instância frequentada sobretudo por iranianos, russos e escandinavos.
Dessa forma quando eu não andava acompanhado pela minha ebúrnea companheira de então, o que era sempre para ser honesto (a paciência afinal tem finitude), muitos russos catalogavam-me logo como iraniano, e ouvia-os a sussurrar quando eu passava, ou as mulheres a apertar mais os filhos para me cederem passagem, ou quando eu aparecia num bar as pessoas instintivamente pegavam nos seus pertences, ou a ficarem espantadas por me verem ler um livro ou a escrever, ou então como achavam estranho eu ser tão gentil para os empregados, ou como ficavam assustadas quando entabulava uma qualquer conversa em inglês para matar o tédio.
Mas o auge, foi num jogo de futebol onde se escolhiam 5 elementos para cada equipa apesar de sermos 12 e necessariamente um de cada equipa ficar de fora como suplente… de repente instala-se uma preocupação nos restantes dez “companheiros” todos eles russos ou ex-soviéticos, ou finlandeses ou noruegueses e talvez um inglês ou dois (afinal eles são uma praga que está em todo lado desde que haja sol e cerveja) porque as carteiras e os telefones iriam ficar pousados num sítio, à sombra, onde provavelmente ficariam os jogadores suplentes, que iriam rodando estando assim à mão de serem roubados, por alguém porventura com mais melanina na cara do que qualquer um deles. Obviamente recusei-me a jogar e pedagogicamente insultei-os em todas as línguas que sabia e que pudessem compreender não deixando de dar uma entediante palestra sobre biologia, genética, moral, filosofia e história.
O que me levou a esta tema foi o facto de um meu fornecedor de serviços muito competente, ter respondido na semana passada -à minha pergunta sobre se iria trabalhar hoje – que não trabalhava no Dia da Raça (por acaso ele foi ex-combatente na Guiné-Bissau, na área vagamente médica onde tratavam tão bem os feridos portugueses como os -ao tempo – inimigos guineenses, como ele não se cansava de me dizer amiúde) e a partir daí – e eu que o tinha como bom, inteligente e honesto – me ter dito toda uma sorte de impropérios sobre africanos e negros em geral, que visivelmente me incomodavam, mas que ao invés de o deter, lhe espicaçou mais a verborreia estridente e que culminou com o seu aforismo: “ A mim não me incomoda ver um branco a andar com uma preta e até acho bem (usou aqui linguagem vernacular que prefiro não reproduzir) mas quando vejo um preto a –digamos – andar com uma branca, fico doente, não concebo, não me entra na cabeça…”
Estive a pensar nessa frase até ao dia em que escolhi o tema para o meu artigo de opinião e até discuti com alguns doentes, retornados sobretudo, que fui atendendo, o que eles achavam dos nativos e todos me disseram que eram seus iguais e semelhantes, mas claro que no contexto em que estava não poderia aprofundar a questão: “O que achava se a sua filha branca como a neve namorasse com um preto como o azeviche…?”
Porque a questão do racismo, meus caros, resume-se a duas coisas.
A primeira é não falar dela, eliminar a palavra, parar de a usar para desculpar ou especular qualquer coisa ou o que quer que seja.
A segunda tem a ver com o que é que um pai faria se a sua filha escolhesse para companheiro um ser humano de uma cor diferente, de uma outra etnia, de uma cultura distinta.
A haver dia da raça portuguesa, seria um dia de todas as raças do mundo, porque os portugueses primeiro, são fruto de todos os fugitivos da Europa, Médio-Oriente e Norte de África que chegando a Portugal não tinham mais para onde fugir, e estou a citar o grande historiador José Hermano Saraiva, segundo porque – não num sentido literal (as pessoas usam esta palavra bem como o adverbio “literalmente” pensando que significa exactamente o contrário do que quer dizer) mas num sentido estrito – os portugueses estiveram em todo o mundo e miscigenaram-se com todos os povos.
Mas lá está, eram marinheiros e aventureiros: homens; que cortejavam as mulheres de todas as raças e de qualquer latitude e mais que houvessem. Gostaria de saber se em circunstâncias contrárias, se as senhoras portuguesas os acompanhassem nas suas demandas marítimas, os tugas seriam assim tão liberalmente multi-culturais ou multi-étnicos ao ponto de se ufanarem de serem os criadores de mulatos e mestiços por essas duas vias?