O Presidente angolano “actualizou” o modelo da Comissão Interministerial de Acompanhamento das Implementações do Projecto de Requalificação da Vila e do Santuário de Muxima, revogando um decreto de 2014 e dando 24 meses para a conclusão das obras. Ajoelhemo-nos. João Lourenço esteja convosco. Ele está no meio de nós. Amém.
A decisão está contida num decreto presidencial de 27 de Julho último, lançado três semanas depois de o Gabinete de Obras Especiais (GOE) do Governo ter oficializado os concursos públicos de requalificação da vila e do Santuário da Muxima, o maior centro mariano da África subsaariana, prevendo a construção de uma basílica para 4.600 fiéis.
No decreto, João Lourenço determina que a nova comissão interministerial é liderada pelo ministro da Administração do Território e Reforma do Estado, Adão Francisco Correia de Almeida, a quem cabe também actualizar o modelo de acompanhamento do processo de requalificação da Vila Muxima, “para garantir a harmonia que merece no contexto histórico e turístico”.
Segundo João Lourenço, o actual projecto do Grupo de Obras Especiais (GOE), definido em 2014 pelo ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos, exclui obras importantes de requalificação, razão pela qual é necessário englobar a restauração de edifícios existentes, como o templo da Igreja Católica e o Forte da Muxima.
Por outro lado, a nova comissão interministerial tem também como prioridade “negociar os preços relativos às empreitadas”, bem como “todos os aspectos relevantes” para a execução e materialização do processo de requalificação, tendo, para tal, 24 meses para a conclusão dos trabalhos.
Em 18 de Junho último, o Governo lançou “concursos públicos limitados por prévia qualificação” para a empreitada de construção da basílica de nossa Senhora da Muxima e áreas externas contíguas e para a empreitada de construção das infra-estruturas daquela vila, a 130 quilómetros de Luanda.
Os concursos, aguardados há vários anos e cujas obras foram sendo atrasadas devido à crise económica e financeira em Angola, têm como critério de adjudicação a “proposta economicamente mais vantajosa”.
No anúncio dos concursos não são adiantados valores para estas obras, mas o Governo inscreveu no Plano de Investimentos Públicos (PIP) de 2018 uma verba de 713.452.079 kwanzas (2,5 milhões de euros) para estes trabalhos.
O projecto foi lançado em 2008 pelo então Presidente José Eduardo dos Santos que, cerca de um ano depois, aquando da visita pastoral de Bento XVI a Angola, mostrou a maqueta ao papa e ofereceu a futura basílica à Santa Sé.
A vila foi ocupada pelos portugueses em 1589, que, dez anos depois, construíram a fortaleza e a igreja de Nossa Senhora da Conceição, também conhecida como “Mamã Muxima”, que na língua nacional quimbundu significa “coração”.
O projecto visa a intervenção numa área de 40 hectares e só a basílica será edificada num espaço de 18.000 metros quadrados, tendo capacidade para acomodar 4.600 pessoas sentadas, bem como o seu arranjo urbanístico. Prevê, no exterior da basílica, a construção de uma praça pública para receber até 200.000 peregrinos.
Envolve ainda infra-estruturas rodoviárias em torno do perímetro deste santuário e várias áreas de estacionamento para 3.000 viaturas.
A vila da Muxima transformou-se no maior centro mariano da África subsaariana, mas o templo actual tem apenas capacidade para 600 pessoas sentadas, insuficiente, por exemplo, para a anual peregrinação de Setembro que leva àquela vila, junto ao rio Kwanza, mais de um milhão de fiéis.
O executivo decidiu, em Outubro de 2014, reestruturar o projecto do novo santuário, da autoria do arquitecto português Júlio Quaresma, prevendo a implantação do novo santuário numa área de 18.352 metros quadrados, tendo a nova catedral capacidade para acomodar 4.600 devotos sentados, além de contemplar a construção da vila Nossa Senhora da Muxima.
No mês seguinte, José Eduardo dos Santos criou uma comissão interministerial para acompanhar e executar o projecto de requalificação da vila, mas as obras ainda não foram para o terreno, numa altura em que o Governo limitou as despesas públicas, face à crise com a quebra das receitas petrolíferas.
Recorde-se que no dia 18 de Junho o GOE lançou os concursos públicos de requalificação da vila e do Santuário da Muxima, abertos à participação de empresas estrangeiras, tendo como critério de adjudicação a “proposta economicamente mais vantajosa”.
Durante uma visita recente à Muxima, no município da Quissama, província de Luanda, a ministra da Cultura de Angola, Carolina Cerqueira, admitiu que a requalificação da vila, do santuário e a construção da nova basílica tornará aquele espaço num postal para Angola, potenciando o turismo religioso.
Hoje sem espaços e serviços de apoio, na Muxima sonha-se com a concretização das prometidas obras de requalificação daquela vila angolana, que vão permitir transformar aquele santuário no primeiro com o estatuto nacional em Angola, por decisão da Igreja Católica.
“Esperamos que mude não apenas com a nova basílica e todas as infra-estruturas de apoio, como transporte, hospedagem, informação, parque de estacionamento e albergues para passarem a noite, mas também ao nível da pastoral e do acolhimento e atendimento ao peregrino”, explicou anteriormente o padre Albino Gonçalves, de uma congregação de missionários mexicana e responsável por aquele santuário desde 2010.
Além das estruturas, a mudança anunciada passa também pela disponibilização de serviços a peregrinos estrangeiros noutras línguas, nomeadamente com o reforço da presença missionária internacional no santuário.
Além das peregrinações semanais e da grande procissão anual que leva milhares de fiéis a acompanhar nos arredores do santuário, onde chegam a pé, de carro ou por barco através do rio Kwanza, também mais de 5.000 cartas com pedidos de peregrinos são enviadas todas as semanas para a igreja da “Mamã Muxima”.
“Sentem que têm de agradecer, que não podem vir ao santuário de mãos vazias, porque daqui também não vão vazios, saem com a bênção e com a paz no coração”, rematou o pároco da Muxima, que se manifestou ansioso pelo início da empreitada que promete mudar o rosto do maior templo angolano.
Notícia de Janeiro de 2015
As obras de requalificação vão permitir transformar aquele santuário no primeiro com o estatuto nacional em Angola, por decisão da Igreja Católica. A informação foi avançada pelo porta-voz da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé e Príncipe (CEAST), o arcebispo José Manuel Imbamba, que projectava a conclusão dos trabalhos naquela vila até ao ano de 2020.
“Logo que termine a construção física daquela área, o santuário passará a ser nacional, o primeiro e único. Será elevado a santuário da CEAST”, explicou o arcebispo angolano.
“É um processo que vai envolver muita transformação da localidade e por isso está a ser feito com todas os pormenores. O importante é que está em marcha, o santuário vai ser construído e a vila toda requalificada”, defendeu na altura o porta-voz da CEAST e arcebispo da província de Saurimo.
“Penso que é um projecto para realizar dentro de quatro ou cinco anos, face à grandiosidade que envolve”, rematou José Manuel Imbamba.
Folha 8 com Lusa