As exportações angolanas de produtos agrícolas cresceram 120 vezes do segundo para o terceiro trimestre de 2017, atingindo a fasquia dos 21,1% do total de vendas ao exterior, segundo as mais do que duvidosas contas do Instituto Nacional de Estatística (INE) de Angola. Não. A terra ainda não tinha sido alimentada com esse miraculoso “adubo” chamado João Lourenço.
De acordo com dados do relatório estatístico do comércio externo do terceiro trimestre do INE, a exportação de produtos agrícolas por Angola passou de um volume total de 2.419 milhões de kwanzas (12 milhões de euros) no segundo trimestre de 2017, para uns históricos 292.479 milhões de kwanzas (1.400 milhões de euros) entre Julho e Setembro.
Face ao mesmo período de 2016, o crescimento das exportações agrícolas angolanas foi superior a 5.700%, mas o INE não adianta qualquer explicação para este aumento exponencial num curto espaço de tempo.
Contactado pela Lusa, o presidente da Associação Industrial de Angola (AIA), José Severino, desvaloriza estes números, que classifica como “bons de mais para serem verdade”, tendo em conta a pretensão, arrastada no tempo, de diversificação da economia nacional. “Não é possível um crescimento assim”, afirma o empresário.
Segundo o mesmo relatório do INE, as exportações angolanas aumentaram 3,4% entre Julho e Setembro, face aos três meses anteriores, para um volume de negócios total de 1,385 biliões de kwanzas (6.999 milhões de euros).
A balança comercial angolana registou um saldo positivo, de 873.175 milhões de kwanzas (4.400 milhões de euros), melhorando 6,8% face ao período entre Abril e Junho, e com o peso do petróleo a descer para menos de 75% do total das exportações.
O Presidente angolano, João Lourenço, afirmou na segunda-feira que é tempo de Angola passar das acções à prática no que toca à diversificação da economia, para que quando se fale das exportações nacionais não seja apenas do petróleo.
O Presidente da República falava nos jardins do Palácio Presidencial, em Luanda, na sua primeira conferência de imprensa, com mais de uma centena de jornalistas de órgãos nacionais e estrangeiros, quando passam 100 dias após ter chegado à liderança no Governo, tendo sido questionado sobre os efeitos da austeridade no processo de diversificação da economia.
“É absolutamente necessário. A nossa salvação está aí. E a autoridade não significa não diversificar a economia, antes pelo contrário. É precisamente a austeridade que nos obriga a diversificarmos a economia”, defendeu.
Até ao segundo trimestre de 2017, segundo os dados do INE, cerca de 95% das exportações angolanas eram de petróleo bruto, pelo que a economia do país se ressente, desde finais de 2014, da quebra prolongada na cotação do barril de crude no mercado internacional.
“Angola não tem outra saída senão diversificamos de facto a sua economia. Sobre isso já muito se falou, já correu muita tinta. Temos que passar a acções concretas, no sentido de fazer com que as nossas exportações não se baseiem apenas no crude, no petróleo bruto, mas quando falarmos de exportações de Angola falemos sobretudo mais de outros produtos”, defendeu João Lourenço.
Ainda assim, as receitas fiscais angolanas com a exportação de petróleo deverão atingir, em 2018, mais de 2,399 biliões de kwanzas (12 mil milhões de euros), com o Governo a estimar vender cada barril a 50 dólares.
Os dados constam do relatório de fundamentação do Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2018, que o Governo angolano entregou na Assembleia Nacional e que tem votação na generalidade prevista para 18 de Janeiro.
O documento do Governo angolano prevê que 24,8% de todas as receitas a angariar pelo Estado sejam provenientes do sector petrolífero, enquanto os impostos do sector não petrolífero deverão ascender, em 2018, a 1,740 biliões de kwanzas (8.875 milhões de euros).
A tese do Presidente
João Lourenço diz que a diversificação da economia passa necessariamente por um maior investimento na agricultura, quer em recursos técnicos, tecnológicos e de infra-estruturas.
Pela enésima vez vemos o MPLA (no poder há 42 anos) dizer que “é importante a necessidade de uma contínua oposta na mulher rural, garantindo o seu acesso à terra, à formação, ao crédito e às pequenas tecnologias de produção e transformação das colheitas”.
Segundo o regime, o lançamento do ano agrícola 2017-2018, presidido pelo Presidente da Republica, João Lourenço, mostrou que a agricultura representa uma prova inequívoca da prioridade que esta matéria ocupa na agenda do governo, na perspectiva de contribuir para a melhoria das condições de vida das famílias rurais.
Tal como o seu novo colega das Finanças, também o novo ministro da Agricultura, Marcos Nhunga, descobriu a pólvora que, por sua vez, fora inventada pelo seu antecessor, Afonso Pedro Canga, que por sua vez…
Então, como grande novidade, Marcos Nhunga, apela à participação activa dos intervenientes no sector agrário para o processo de diversificação da economia, tendo em vista melhorar as condições de vida da população.
Originalidade não falta. O novo ministro da Agricultura, ao falar na cerimónia da sua apresentação, disse que o facto de o país estar a atravessar um momento de crise financeira, precisa-se buscar força e inteligência para concretizar os objectivos que o país se propõe, a criação das melhores condições de vida. Quem diria?
De acordo o governante, deve-se prestar atenção especial a todos os quadros desta área e moralizá-los, de modo a trabalhar mais para o cumprimento dos objectivos traçados.
Marcos Nhunga diz que deve haver maior motivação a nível dos quadros do Ministério, um diálogo interno e permanente nos órgãos internos, assim como com os empresários, para que todos se revejam nos programas deste sector.
Marcos Nhunga, referiu ainda que o sector da agricultura é chamado para arranjar soluções. Apelou aos membros do Ministério a não se aproveitar das respectivas funções para a resolução dos problemas pessoais. Boa!
“Vamos pautar por uma gestão rigorosa e transparente para que os poucos e parcos recursos que forem arrecadados possam ser aplicados para o alcance dos objectivos traçados”, disse Marcos Nhunga, acrescentando que deve ver união e todos os que trabalham para a mesma causa.
No passado dia 11 de Outubro iniciou-se um novo ano agrícola que foi marcado por um discurso do Presidente da República, João Lourenço, no município do Cachiungo, província do Huambo, perante milhares de pessoas.
Nessa mesma altura, no Cuanza Norte os agricultores manifestaram o seu apoio ao Presidente, lembrando que não tinham catanas, enxadas, limas, ancinhos, machados, sachos etc.. Também os camponeses do município da Cameia, província do Moxico, estão solidários e dizem que vão deixar de produzir arroz na presente campanha agrícola, por falta de máquinas de descasque do cereal.
Acrescentaram que a decisão se devia ao facto de as 23 toneladas produzidas na última época continuarem nos armazéns do município por falta de máquinas…
João Lourenço exortou o sector agrícola a colocar o país a “produzir a comida de que precisa”, estimulando a produção em grande escala, para acabar com a importação de alimentos e produtos agrícolas. Por outras palavras, realçou o fracasso da anterior, e da anterior, e da anterior, governação do MPLA e de José Eduardo dos Santos.
“Vamos fazer tudo que está ao nosso alcance para não importar alimentos, porque temos capacidade de produzir comida, temos de ser nós a produzir a comida que precisamos, bem como exportar e angariar divisas com o excedente”, afirmou João Lourenço.
Na sua intervenção, João Lourenço enfatizou que é chegada a hora de “semear para depois colher” (pelos vistos até agora o regime colhia antes de… semear), de forma a tirar maior proveito da terra, ao ponto de produzir bens alimentares não só para o próprio consumo, mas também para exportação.
João Lourenço garantiu que o Governo vai manter a aposta na agricultura como uma das principais apostas como alternativa ao sector petrolífero no processo de diversificação da economia nacional, apesar de dificuldades como a escassez de sementes, adubo e de instrumentos de trabalho.
Nesse sentido, a prioridade vai para a captação de investimento para o país, que permita a produção nacional de insumos agrícolas, mas também para o aumento da produção de cereais como milho, soja, feijão, de forma a potenciar igualmente a pecuária, com a auto-suficiência alimentar para o gado.
Números governamentais recentes indicam que mais de dois milhões de famílias angolanas vivem da agricultura, sector que emprega no país 2,4 milhões de pessoas e que conta com 13.000 explorações empresariais.
O país tem uma disponibilidade de 35 milhões de hectares de terras aráveis para a prática da agricultura, sobre uma superfície cultivada de cinco milhões de hectares (14%), além de uma faixa irrigável de sete milhões de hectares, metade dos quais ainda de exploração tradicional.
Angola tem uma rede hidrográfica constituída por 47 bacias e com um potencial hídrico estimado em 140 mil milhões de metros cúbicos.
Ou seja, Angola tem tudo o que precisa. Tudo não é bem. Falta-lhe ter políticos que vivam para servir e não para se servir.
Folha 8 com Lusa