O Presidente sul-africano, Jacob Zuma, apontou hoje a necessidade de explorar “ainda mais” oportunidades recíprocas com Angola, em áreas como a agricultura, minas, obras públicas, energia e turismo, incentivando o investimento privado entre os dois países.
O chefe de Estado sul-africano falava em Pretória, no discurso de abertura das conversações entre as delegações da África do Sul e de Angola, no âmbito da visita de Estado que o Presidente angolano, João Lourenço, está a realizar ao país, a primeira desde que assumiu o poder, em Setembro, deslocação que Zuma descreveu como “histórica”.
“Para nós, isso significa muito e, sem dúvida, afirma os laços históricos entre Angola e África do Sul”, disse o Presidente Jacob Zuma.
Na mesma ocasião, o chefe de Estado sul-africano recordou que “considerando a história” dos dois países, é necessário “encorajar” a “cooperação entre pessoas”.
“Precisamos de aperfeiçoar a nossa cooperação comercial, incentivando os nossos sectores privados a investirem nas economias de cada um. Precisamos de explorar ainda mais oportunidades na agricultura, mineração, desenvolvimento de infra-estruturas, energia, turismo, entre outros”, apontou Zuma.
A cooperação cultural, científica e tecnológica são outras prioridades, do ponto de vista do Governo sul-africano.
O Presidente angolano, João Lourenço, iniciou na quinta-feira uma visita de Estado, de dois dias, à África do Sul, prevendo-se a assinatura, entre outros memorandos de entendimento, de um acordo bilateral para a supressão recíproca de vistos em passaportes ordinários, com entrada em vigor prevista para 1 de Dezembro próximo.
O chefe de Estado sul-africano, que esteve em Luanda a 26 de Setembro, na cerimónia de posse de João Lourenço, sublinhou que a realização “bem-sucedida” de eleições “pacíficas e democráticas” em Angola afirma o “compromisso colectivo com a democracia e o Estado de Direito no continente”.
“Permita-me aproveitar a oportunidade da sua visita para agradecer ao ex-presidente José Eduardo dos Santos pelo seu inestimável contributo para o desenvolvimento de Angola como um Estado independente. Agradecemos também pela sua excelente contribuição para a libertação da África austral do colonialismo e do apartheid”, enfatizou Jacob Zuma.
Ainda sobre José Eduardo dos Santos, que liderou Angola durante 38 anos, até Setembro passado, o Presidente sul-africano afirmou que, quando for “contada” a História da região, a “contribuição do ex-Presidente dos Santos deve ser proeminente”.
Corrupção e similares
Recorde-se que a Provedoria da República da África do Sul publicou no dia 2 de Novembro de 2016 um relatório sobre acusações de corrupção formuladas contra o Presidente, Jacob Zuma, que apela para uma investigação a possíveis “crimes” de corrupção ao mais alto nível do Estado.
Bem que Zuma poderia já ter aprendido alguma coisa com o seu ex-homólogo angolano. De facto, durante os últimos 38 anos, o reino de sua majestade José Eduardo dos Santos foi (e continua a ser) um dos mais corruptos do mundo mas, com a maestria que se reconhece, não dá veleidades para que existam relatórios sobre o assunto. João Lourenço diz que, com ele, será diferente.
No documento de 355 páginas, intitulado “A Tomada de Controlo do Estado”, a Provedoria sul-africana “chama a atenção do Ministério Público” e da unidade de elite da polícia sul-africana para “problemas identificados neste relatório nos quais parece que foram cometidos crimes”.
Jacob Zuma, cuja presidência tem sido marcada por numerosos escândalos, tentou sem êxito impedir a divulgação deste relatório em que se revela que Zuma permitiu a uma próspera família indiana de empresários, os Guptas, uma influência indevida sobre o Governo, incluindo a possibilidade de escolherem ministros.
Entre as conclusões do relatório são citadas provas de que David van Rooyen visitou o bairro de Joanesburgo onde residem os Guptas um dia antes de ser nomeado ministro das Finanças.
Van Rooyen, um próximo de Zuma praticamente desconhecido do público, foi afastado do cargo apenas quatro dias depois, por causa de uma desvalorização da moeda e uma queda dos mercados que desencadearam numerosas e fortes críticas políticas ao Presidente.
Em Novembro de 2014 foi noticiado, nomeadamente pelo Folha 8, que a Polícia sul-africana estava a investigar o presidente Jacob Zuma por corrupção, depois dos partidos da oposição terem apresentado várias queixas contra o chefe de Estado.
Segundo o então porta-voz da Polícia, Salomon Makgale, citado pela agência noticiosa sul-africana SAPA, as várias queixas por corrupção apresentadas pelos partidos da oposição foram centralizadas e estavam a ser investigadas de modo conjunto.
Salomon Makgale esclareceu, no entanto, que não tinham sido, nessa altura, abertas acusações formais contra Zuma, que em 2007 enfrentou mais de 700 acusações de corrupção, lavagem de dinheiro, fraude e crime organizado, todas retiradas em 2009.
O ministro da Polícia sul-africano, Nathi Nhleko, também confirmou que “a investigação se iniciou”, sem dar mais pormenores.
De acordo com os media locais, o maior partido da oposição, a Aliança Democrática, entregou à Procuradoria gravações que supostamente provam que o presidente utilizou mais de 15 milhões de euros de fundos públicos para obras numa sua residência.
As gravações terão sido feitas pelos serviços secretos e conteriam conversas entre membros da Procuradoria supostamente leais a Thabo Mbeki, ex-presidente e adversário de Zuma.
Em Março de 2014, a Defensora do Povo sul-africana, Thuli Madonsela, pediu ao presidente para devolver parte do dinheiro público utilizado na cara e controversa remodelação da sua residência privada.
O site Answer África, especializado em temas africanos, considerou, sendo claro que na altura não ouviu os peritos dos peritos do MPLA, o Presidente José Eduardo dos Santos, que “só” estava à época no poder há 37 anos sem nunca ter sido nominalmente eleito, o quarto pior presidente do continente em 2015.
A lista era liderada por impolutos e honoráveis cidadãos, casos do sudanês Omar Al-Bashir, que tinha um mandado de captura do Tribunal Penal Internacional, seguido do rei da Suazilândia Mswati III e pelo o Presidente zimbabueano Robert Mugabe.
A propósito dos elogios de Zuma a Dos Santos, digamos que José Eduardo dos Santos foi um Presidente polivalente e para todos os gostos. A revista norte-americana Forbes, por exemplo, considerou-o o segundo pior presidente em África, logo a seguir ao seu homólogo da Guiné Equatorial (membro da CPLP), Teodoro Obiang Nguema.
Segundo o Answer África, José Eduardo dos Santos “sempre governou como se (o país) se tratasse do seu investimento financeiro pessoal e privado”, além de possuir “um ultrajante registo na área dos direitos humanos”.
Os restantes “piores” líderes são Teodoro Obiang (Guiné Equatorial), Allassane Ouattara (Costa do Marfim), Jacob Zuma (África do Sul), John Dramani (Gana) e Uhuru Kenyatta (Quénia).
Folha 8 com Lusa