Uma das figuras mais marcantes do século XX, a princesa Diana morreu faz amanhã, quinta-feira, 20 anos, mas não sem antes devolver a realeza britânica ao mundo moderno, aproximando-a do povo e promovendo causas como a luta contra as minas terrestres. Angola está-lhe (e)ternamente grata.
Grande parte da admiração que (quase) todos temos por ela resulta do forte empenho que dedicou à caridade e às causas humanitárias, em especial pelo grande envolvimento que demonstrou no combate ao HIV/SIDA e na Campanha Internacional pela Proibição de Minas Terrestres (ICBL, sigla em inglês). Mas sobretudo pela forma como se relacionava com o povo.
A guerra civil em Angola prolongou-se entre 1975 e 2002, mas desde então estima-se que a desminagem apenas tenha chegado a metade do país, com mais de mil campos identificados que permanecem por desminar.
Desde a visita de Diana de Gales ao Huambo, a 15 de Janeiro de 1997, alvo na altura de uma cobertura mediática internacional, Angola garantiu mais de 100 milhões de dólares de financiamento para desminagem, 60% proveniente dos EUA.
O apoio financeiro internacional às operações de desminagem em Angola e Moçambique diminuiu 80 e 70%, respectivamente, segundo o Relatório Minas Antipessoais 2016.
Quando comparado com 2014, o apoio que os doadores internacionais canalizaram para a região da África subsariana em 2015 diminuiu mais de 40%, contabiliza o relatório ICBL.
Se se olhar para os resultados de cada país da região, essa diminuição é mais visível em dois Estados de língua portuguesa: Angola (-80%) e Moçambique (-70%), ambos signatários do Tratado sobre a Proibição das Minas Antipessoais, em vigor desde 1999.
O relatório alerta que as acções de desminagem sofreram “uma redução acentuada de financiamento em 2015” e que, em Angola, essa situação é considerada “um desafio” ao cumprimento dos prazos estabelecidos no Tratado sobre a Proibição das Minas Antipessoais, que conta com 162 Estados signatários.
Angola — que está entre os países de “contaminação generalizada” (mais de 100 quilómetros quadrados do total do território) — é o beneficiário que mais apoio internacional perdeu.
Para além disso, “a crise económica resultante da redução dos preços do petróleo” traduziu-se num corte dos fundos de assistência estatal angolanos, que “quase pôs fim à maioria dos programas de assistência a vítimas”, destaca o relatório.
“O governo [angolano] remodelou algumas clínicas ortopédicas e de reabilitação, mas falhou em fornecer os produtos e materiais necessários para prestar os serviços”, concretizam os autores do relatório.
Essa diminuição “resulta grandemente do menor apoio estatal ao programa de desminagem nacional”, que, em 2015, arrecadou metade do montante de 2014.
Ora, até Outubro de 2016, 64 Estados e territórios estavam ameaçados por minas antipessoais, um aumento em relação a 2015, resultado da entrada de Palau e do regresso à lista de Moçambique – que se declarou “livre de minas antipessoais” em 2015 – e Nigéria.
Tanto Angola como Moçambique surgem entre os 15 Estados que não fornecem “um panorama completo da dimensão da contaminação” por minas antipessoais.
O Governo angolano, que ratificou em 2002, a Convenção de Otava, solicitou em 2012 uma moratória de cinco anos para a continuação das suas operações de desminagem e segurança das zonas minadas e pretende uma nova extensão até 2025.
Angola tem actualmente 1.858 áreas livres de minas e 1.435 por limpar, contando apenas com apoio financeiro dos EUA, Japão, Suíça e União Europeia.
Angola precisa de 253 milhões de euros para eliminar as minas terrestres no país, mas tem disponível menos de um quinto desse valor. O alerta foi lançado pelo director do Mines Advisory Group, Chris Loughran, que defendeu que a comunidade internacional, em especial o Reino Unido, deve rever as suas prioridades.
Segundo o activista, Angola tem prometido apenas 19% do valor necessário para a desminagem, frisando que são necessários 34,37 milhões de dólares (31,59 milhões de euros) por ano para atingir o objectivo até 2025.
Chris Loughran fez estas declarações num evento no edifício do parlamento britânico, organizado pelo grupo parlamentar de amizade com Angola, intitulado “Acção sobre as Minas em Angola: O Papel da Comunidade Internacional”.
Actualmente, a Mines Advisory Group é uma das três organizações não-governamentais estrangeiras que mantêm actividades para a desminagem em Angola. Há também brigadas dirigidas pelas autoridades angolanas, que se têm centrado em limpar áreas estratégicas com maior interesse económico.
Porém, os angolanos “mais rurais, mais desfavorecidos, não tiveram a atenção das autoridades”, lamentou o director do programa África do Instituto Real de Relações Internacionais, Alex Vines, dizendo que o Reino Unido deve investir na “desminagem humanitária”.
Desde 2010 que o governo britânico deixou de dar apoio humanitário a Angola para priorizar países com menos rendimentos, mas recentemente prometeu 100 milhões de libras (118 milhões de euros) para aplicar na limpeza de minas terrestres nos próximos três anos, estando por decidir quais os países onde vai intervir.
A ligação especial de Diana com os plebeus fez escola, e hoje é seguida pelos seus dois filhos: William, o herdeiro real, e Henrique. Ambos adoptaram a abordagem mais intimista de Diana, prosseguindo a tarefa de humanizar a instituição real britânica.
O maior legado de Diana, no entanto é a ideia de que as celebridades e as figuras com popularidade podem usar a sua “ligação” – real ou percepcionada – com milhões de pessoas para funcionar como agente de mudança.
Tendo sido engolida pela máquina real britânica quanto tinha apenas 20 anos, Diana encontrou o seu caminho na vida ao perceber que o público ficava fascinado com tudo o que fazia ou dizia, considera o sociólogo Ellis Cashmore.
Diana conseguia manipular esse interesse público e usá-lo a seu favor, promovendo causas beneméritas, mas também puxando o povo para o seu lado, como quando o casamento com Carlos colapsou, devido ao relacionamento do príncipe com Camilla Parker Bowles.
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