Usando, como esperado, a máquina do regime/Estado, o MPLA traçou hoje, no arranque da campanha eleitoral, o objectivo já definido nos bastidores com a sua sucursal eleitoral (CNE), de atingir uma “vitória qualificada” nas eleições gerais angolanas de 23 de Agosto. Assim, aos 42 anos de poder, o MPLA quer somar mais uns anitos, e depois mais outros e outros.
A posição está expressa numa declaração oficial do Bureau Político do MPLA sobre o início da campanha eleitoral, que se vai prolongar até 21 de Agosto, e antecede o primeiro acto formal com o cabeça-de-lista do partido, general e ministro da Defesa, João Lourenço, um comício agendado para 25 de Julho, na cidade do Huambo.
Na mesma declaração, o partido, no poder em Angola desde 1975, afirma que “uma vez mais, o povo angolano vai mostrar a África e ao mundo a sua maturidade e responsabilidade política”, dando às eleições gerais que se realizam dentro de 30 dias “a real dimensão que o processo democrático da República de Angola merece”.
Recorde-se que, segundo o próprio José Eduardo dos Santos, a democracia em Angola foi imposta e não correspondeu, nem corresponde, a uma opção voluntária do regime. Aliás, na velha tradição de outros ditadores africanos, não há problemas em adoptar a democracia desde que sejam eles a continuar a mandar. Simples.
“O MPLA vai fazer da sua campanha eleitoral um momento de festa, de elevado sentido patriótico e democrático, alicerçada nas suas propostas para o quinquénio 2017-2022 e com respeito à diferença e ao próximo”, sublinha a declaração do Bureau Político.
Sentido patriótico que passa por ter, sem rodeios e de forma oficial, a Polícia (que deveria ser Nacional) e as Forças Armadas (que deveriam ser do país) a apoiar o candidato do regime. Tal como tem o apoio da Comissão Nacional Eleitoral, bem como de todos os outros órgãos de soberania que, em teoria, deveriam ser independentes.
Como se isso não fosse bastante, o MPLA exorta ainda os “militantes, simpatizantes e amigos” do MPLA a que, no dia das eleições, “compareçam massivamente e sejam os primeiros a marcar presença nas assembleias de voto”, de forma a “garantir a vitória qualificada” do partido e do seu candidato, João Lourenço, que, como cabeça-de-lista, concorre à eleição, por via indirecta, para o cargo de Presidente da República.
Recordando tratar-se da quarta vez, na história multipartidária de Angola, que os eleitores são chamados a votar, o partido presidido por José Eduardo dos Santos insiste que “o voto de cada angolano é importante, constituindo um direito inalienável de cada cidadão eleitor, que deve ser exercido de forma livre e secreta, sem qualquer constrangimento”.
Aos cidadãos eleitores e ao povo angolano em geral, “o MPLA reitera a sua disposição de continuar a trabalhar, no sentido de eliminar a fome, de reduzir substancialmente a pobreza e de conduzir o país para o desenvolvimento e o bem-estar, melhorando o que está bem e corrigindo o que está mal”.
Ou seja, o MPLA reitera a (in)disposição de fazer o que promete há 42 anos e que nunca cumpriu. Alguém, no regime ou fora dele, se lembra que Agostinho Neto disse que o importante era resolver os problemas do Povo?
As duas principais forças de oposição mais ou menos domesticada, UNITA e CASA-CE, anteciparam o arranque da campanha eleitoral e realizaram no sábado, respectivamente em Luanda e no Lubango, comícios que juntaram milhares de pessoas.
O arranque da campanha da FNLA vai decorrer no Bié e a da Aliança Patriótica Nacional (APN) no Uíge.
Angola contará com 9.317.294 de eleitores nas eleições gerais de Agosto, segundo os dados oficiais da Comissão Nacional Eleitoral angolana.
A Constituição angolana aprovada em 2010 prevê a realização de eleições gerais a cada cinco anos, elegendo 130 deputados pelo círculo nacional e mais cinco deputados pelos círculos eleitorais de cada uma das 18 províncias do país (total de 90).
O cabeça-de-lista pelo círculo nacional do partido ou coligação de partidos mais votado é automaticamente eleito Presidente da República e Titular do Poder Executivo.
Folha 8 com Lusa
Com o número de militantes que possui o MPLA se todos eles votarem é claro que já tem uma vitória garantida. Precisam é de trabalhar para convencer aqueles que não são afetos a nenhum partido a votarem ao seu favor.