O vice-Presidente de Angola, Manuel Vicente, exortou hoje, em Luanda, no lançamento da Bolsa de Solidariedade Social, ao apoio da sociedade angolana às populações mais carenciadas e em situação de vulnerabilidade. Nada melhor do que haver eleições para o regime se lembrar de quem precisa. Como no passado, depois da votação a memória volta a hibernar.
Esta bolsa resulta da iniciativa do Governo angolano, em parceria com as organizações da sociedade civil que se propõem acudir às camadas da população mais necessitadas, sobretudo em tempo de crise como o que o país vive.
Crise que o país vive? Então os 20 milhões de pobres que Angola tem são recentes. Pelos vistos antes da crise só seriam cerca 19.900.000…
Estimular, impulsionar e reforçar as acções de solidariedade, apoiar a criação de bancos de alimentos em todas as províncias, apoiar a criação de cozinhas voluntárias e promover um movimento de voluntariado em Angola são alguns dos objectivos da Bolsa de Solidariedade Social.
Também é verdade que, segundo o MPLA, os objectivos desde a independência, em 1975, eram transformar Angola numa democracia e num Estado de Direito. Mas, como quanto aos pobres, o regime ainda não teve tempo para isso.
Durante a sua intervenção, o vice-Presidente angolano saudou a iniciativa, da responsabilidade do Ministério da Assistência e Reinserção Social (MINARS), assinalando que o país ganha uma plataforma que “vem agilizar e distribuir melhor as ajudas a quem precisa”.
“Uma plataforma que tem nos doadores o seu centro nevrálgico, uma plataforma cujo objectivo primeiro é servir quem mais precisa de forma coordenada e transparente mostra bem que aos poucos vimos percorrendo um novo caminho e vimos igualmente vendo os seus frutos”, disse Manuel Vicente, reproduzindo ordens superiores que, no caso, não se sabe se partiram de José Eduardo dos Santos ou do general Kopelipa.
Manuel Vicente sublinhou que em Angola a solidariedade não é uma palavra vã, uma vez que muitos cidadãos assumem disponibilidade para apoiar. É verdade. Não é palavra vã por parte dos cidadãos. O problema é que os cidadãos estão maioritariamente de barriga vazia. É, contudo, palavra vã por parte dos altos dignitários do regime que vivem à grande e à… MPLA, estando-se nas tintas para todos os outros.
“Em 15 anos de paz muitas são as conquistas que nos aprazem registar. É para nós estimulante saber que podemos contar com uma sociedade civil forte e pujante, que se une para juntos caminharmos com o executivo, as pessoas singulares e colectivas, as igrejas, os empresários”, referiu Manuel Vicente.
Poderia igualmente falar que o país é um dos mais corruptos do mundo e que lidera a índice mundial da mortalidade infantil. Mas não. Ao regime só serve a verdade selectiva e, quando esta não funciona, o uso da razão da força.
De acordo com o vice-Presidente angolano, o combate à pobreza e a melhoria da qualidade de vida das populações está no centro das atenções do Governo, sublinhando que o Orçamento Geral do Estado (OGE) tem, ao longo dos anos, aumentado a verba destinada ao sector social. O que dirão a tamanha aldrabice os 20 milhões de pobres?
“Para este ano atribuiu 38,3% para este sector social o que quer dizer que esta é uma área cuja atenção e desenvolvimento tem tido particular destaque”, enfatizou Manuel Vicente, convicto de que falava para uma plateia de matumbos e de caninos sipaios.
A Bolsa de Solidariedade Social prevê criar um “Comité de Honra” composto por personalidades de “reconhecida idoneidade e autoridade moral”, para garantir a transparência das acções e assegurar o acompanhamento, monitorização e fiscalização das actividades. Entre aldrabices e anedotas, este regime merece certamente um prémio especial pela sua capacidade em julgar que só os seus dirigentes usam a cabeça para pensar. Esquecem-se que não é assim. Esquecem-se que esta estratégia pode levar muita gente a pensar que os dedos também servem para puxar um gatilho.