Há alguns anos acompanhamos o trabalho do caricaturista angolano Sérgio Piçarra. Consideramo-lo uma das grandes figuras de Angola. A sua crítica incisiva, mordaz, muito inteligente e construtiva coloca-o no mais alto patamar da actividade que desenvolve, a nível mundial, ainda que a sua principal especialização se concretize principalmente no palco do tecido político-social do nosso país.
Por Domingos Kambunji
Se Angola se encontrasse nos universos politico, social e económico ao mesmo nível em que se encontra a actividade profissional do Sérgio não estaríamos no centésimo quadragésimo primeiro lugar, entre 149 países, em termos de prosperidade e desenvolvimento. Este número reflecte o enorme anquilosamento mental governamental no país das “ordens superiores”, emitidas por seres muito inferiores.
A realidade angolana situa-se em patamares muito aquém no nível que evidencia o Sérgio Piçarra. A situação do país é mais espelhável nos cartoons e nas crónicas de opinião matumbas publicados pelo Jornal de Angola ou nos noticiários sanzaleiros e fanáticos da RNA ou da TPA.
É óbvio que o “re(i)gime” beneficia pelo facto de apresentar um elevado número de cartoons vivos e falantes, caricaturas tristemente cómicas pela ambiguidade e contradição e, sobretudo, pelo analfabetismo sistémico e megalomania parola, como são os casos dos directores dos órgãos de comunicação oficial do “re(i)gime”, deputados, ministros, politólogos matarruanos, governadores e muitos generais: Paihama, Higino Carneiro, João Pinto, Bento Kangamba, Louvalozédu, Tchizé dos Santos, Isabegalinha, Belarmino Van-Dúnen, entre muitíssimos outros. Só estes cartoons vivos do MPLA, anedotas ambulantes, conseguem fazer alguma concorrência aos trabalhos do Sérgio Piçarra.
Os cartoons do Sérgio Piçara distinguem-se pela inteligência. A as personagens dos cartoons vivos do MPLA destacam-se pela arrogância, petulância e, principalmente, pela ignorância.
Se compararmos as caricaturas do Jornal de Angola com as do Sérgio Piçarra, enquanto as do Sérgio se revelam excelentes, as do Jornal de Angola estão situadas três dedo abaixo de cu de cão, em arte, linguagem e opinião. As caricaturas do Sérgio destinam-se a pessoas inteligentes. As caricaturas do JA destinam-se a gentes subservientes.
É óbvio que o Sérgio Piçarra nunca será humilhado com a atribuição de um dos troféus dos Torneios José Eduardo dos Santos (que vão passar a chamar-se Jôjo Lô), porque se situa num nível intelectual muitíssimo superior.