A marca angolana Café Cazengo prepara-se para exportar este mês 54 toneladas de café torrado para Portugal, China e Estados Unidos da América, anunciou hoje o responsável pelo projecto.
José Gonçalves disse em declarações à agência Lusa que estão preparados três contentores, cada um com 18 toneladas para exportação. Segundo o responsável, outras solicitações e negociações estão em curso com empresários da Espanha, Itália e Singapura, países para os quais foram já enviadas amostras do produto.
O projecto desenvolvido no município de Quiculungo, província do Cuanza Norte, foi lançado em 2010, tendo os primeiros ensaios de exportação do produto sido realizados para os Estados Unidos da América.
“Temos os contentores prontos e estamos a aguardar pela finalização do processo de despacho de mercadoria, para enviarmos os contentores para a China, Estados Unidos da América e Portugal, pensamos que nos próximos 20 dias esteja tudo tratado”, disse José Gonçalves.
Sem revelar preços, José Gonçalves sublinhou que o projecto de capital privado nacional, permitiu empregar duas dezenas de pessoas, número que atinge mais do dobro em época de colheitas.
A exportação de café rendeu a Angola mais de dois milhões de dólares em 2015, informou em Abril o director do Instituto Nacional do Café (INCA) angolano, João Ferreira.
O responsável disse que Angola está a produzir anualmente 15 mil toneladas de café, mas perspectiva duplicar essa produção nos próximos dois anos.
João Ferreira referiu que em 2013 as exportações do produto valeram ao país 650 mil dólares, e no ano seguinte 552 mil dólares.
Segundo o director do INCA, o valor contabilizado não inclui quantidades de café, que não apontou, exportadas ilegalmente pelas fronteiras sul com a Namíbia e a norte com as repúblicas Democrática do Congo e a do Congo.
Até 1974, Angola ocupava o quarto lugar na lista dos maiores produtores de café no mundo, com cerca de 250 mil toneladas anuais.
Actualmente, as tradicionais províncias do Cuanza Sul e de Benguela são as que apresentam maior produção de café, indicou João Ferreira.
Segundo este responsável, numa altura que Angola realiza esforços para diversificar a sua economia, face à crise petrolífera, o Governo tem que pensar no modelo agro-exportador para ganhar “alguma divisa na produção agrícola”, sendo que no passado já foi um dos maiores produtores mundiais de café.
“Não me parece que as outras culturas consigam impor-se no mercado internacional, até porque a competitividade de países tem custos de produção muito mais inferiores”, disse João Ferreira.
O responsável referiu que Angola tem hoje uma “fraquíssima” produção de café, de cerca de 12 mil toneladas por hectare, e regista igualmente níveis baixos de industrialização.
De acordo com o responsável, um dos desafios é munir o continente africano de tecnologia de ponta, para se passar da “cultura do café intensiva em mão de obra para uma cultura intensiva em capitais”.
“África precisa mecanizar a cultura do café, é preciso utilizar alguns agro-químicos, é preciso revermos o nosso sector do café, para torná-lo mais competitivo. O que estamos a discutir do ponto de vista da investigação é um pouco isto: que projectos fazer, que tipo de tecnologias abordar, que tipos de laboratórios termos, se vamos para o tipo de reprodução do café, por sistema de produção generativa vegetativa, que tipos de variedades conservar”, explicou.
África representa hoje cerca de 5% da produção mundial de café, tendo uma baixa competitividade, fracas produções por hectare, que variam entre as 300 e os 500 quilogramas por hectare, enquanto os outros países apresentam produções de cerca 3.000 quilogramas por hectare.
Não chega fazer o diagnóstico
Já no passo dia 27 de Julho de 2015, a ex-secretária da Organização Inter-Africana do Café (OIAC), Josefa Sacko, disse em Luanda que com uma boa transformação do café solúvel Angola terá mercado para exportar a sua produção principalmente, para os países da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral ( SADC).
Angola tem vantagem comparativa em termos económicos em relação aos países da região. Só na nossa região podemos fazer uma indústria transformadora como a que é feita em outros sectores, disse na altura Josefa Sacko em entrevista à Angop.
Segundo referiu, Angola neste momento está a ditar a sua própria sorte, pois está diante de um mercado com 160 milhões de habitantes (África do Sul e RDC com 80 milhões de habitantes cada), sem contar com os restantes membros da SADC. Angola pode aproveitar este momento para implementar um bom programa e reactivar o sector.
Por outro lado, disse, Angola tem também boas relações com a China e pode aproveitar este mercado para vender o café solúvel que é muito prático para ser confeccionado.
A título de exemplo, fez referência ao Vietname que há cerca de 20 anos não produzia café e que depois do conflito armado que o país viveu, o Banco Mundial financiou a produção e hoje é o segundo produtor mundial.
Ao referir-se aos caminhos-de-ferro reabilitados no país e aos espaços que se pretende abrir a nível regional, apontou a produção do café como uma das grandes culturas que deverá originar um negócio entre Angola e os restantes países, a exemplo do negócio activo praticado na África Ocidental entre a Nigéria e o Senegal.
Quanto à produção do café especial em Angola (chamado café nicho), referiu que este tipo de café existe normalmente em certas economias com um grande volume de produção.
Este tipo de café que Angola já teve quando a sua produção era considerável (café Ginga), tem um prémio, mercado e é cotado no mercado internacional. É um café comprado ou pelos EUA ou pelo Japão, enquanto os outros tipos de café podem atingir todos os mercados.
Entretanto, a especialista é de opinião que, para um país como Angola com potencial enorme e terras de grandes dimensões, produzir este tipo de café traria um pouco de desequilíbrio em relação aos outros produtores podendo até mesmo criar problemas sociais.
Por este facto, sublinhou, a saída para Angola neste momento seria primeiro a organização do sector e a produção.
“O grande problema do café especial é que o mesmo passa pela certificação e no continente africano existem grandes debates em relação a quem deve pagar esta certificação que é muito cara”, sublinhou.
Entretanto, frisou, “se Angola quer apostar num mercado nicho deve primeiro organizar o mercado nacional e quando chegar no mínimo em 50 mil toneladas pode dizer que já é um país médio e então ver onde se produz e onde pode fazer o café de especialidade”.
Em termos de procura, na campanha 2014/2015 a projecção de consumo estava estimada em 145 milhões de sacos enquanto a produção estava à volta de 123 milhões de sacos. O que indica que havia um défice de 2 a 4 milhões de sacos que poderá aumentar para 20 milhões até 2020.
Por isso, sublinhou, “se Angola lançar as bases em Novembro para a reabilitação da nossa cafeicultura, já que o ciclo vegetativo do café é de três anos e o seu rendimento começa em cinco anos, estaremos em condições para abastecer algum mercado, sublinhou Josefa Sacko.
Recorde-se que, em Novembro de 2014, o Governo aprovou a privatização e venda de 100% do capital da empresa pública de produção de café Liangol à Angonabeiro, unidade do grupo português Nabeiro que trabalha em Angola há 16 anos.
Aquele grupo português já tinha sido convidado pelo Executivo angolano a colaborar na reactivação da antiga fábrica de café Liangol, em Luanda, uma unidade produtiva agora com a marca Ginga. Esta será retirada à estatal Empresa de Liofilização e Moagem de Café (Limoca), conforme estabelece o mesmo decreto, e vendida à Angonabeiro.