O líder do maior partido que, aliás, está no poder desde 1975, é uma pessoa extremamente crítica quando se refere à governação do país, quase parecendo que, para além de líder do MPLA, não é também Titular do Poder Executivo e Presidente da República.
Por A. Queirós Ribeiro
A única ideia que retive das longas declarações que José Eduardo dos Santos manda os seus sipaios transmitir é que ele considera megalómanas as alternativas da Oposição.
Aproveitando agora o tempo das vacas magras, Eduardo dos Santos, volta a jogar com a sua teoria do caos e da confusão, lançada sempre que é conveniente, nomeadamente em 2012 em cima do primeiro dia da deslocação dos eleitores às urnas.
Desta vez, Eduardo dos Santos – sempre pelos seus sipaios do Boletim Oficial, da TPA, da RNA ou da Angop – finge ignorar o efeito causado pelo choque externo da descida do preço do petróleo no mercado internacional e acaba por misturar as condições económicas do passado e do presente do país, confundindo conjunturas favoráveis e adversas. Quer tudo igualmente bem em todas as circunstâncias.
Esta liderança feita de uma geometria de critérios muito variável é o verdadeiro MPLA que conhecemos. Não gostará certamente Eduardo dos Santos que se recorde que o seu partido político obedeceu a uma estratégia colonial e do apartheid (vidé, por exemplo, o 27 de Maio de 1977) , enquanto simultaneamente reivindicava a independência nacional e exigia o melhor que a democracia mundial tem para oferecer.
Quem classifica de megalómanas as alternativas nacionais propostas pela Oposição mostra que não tem ainda a dimensão de destruição a que o país chegou, nem faz ideia do esforço tecnológico e cultural que este país precisa de fazer para virar o estado em que as coisas ficaram.
Com regularidade os sipaios do MPLA apresentam essa face do seu partido, misturando o que mais jeito lhe dá, seja o fim do paludismo, da febre-amarela e a baderna que UNITA criou no Cubal, com três dos seus militantes mortos, só para se fazer de vítima.
A estratégia da liderança do MPLA de querer ter tudo e o seu contrário é muito habilidosa e faz lembrar alguém que está em estado de insatisfação e de ansiedade permanente, temendo mesmo a própria sombra.
É evidente que esta técnica é muito eficaz e funciona para quem acredita nela. Tanto é assim que a liderança do MPLA continua a usá-la. O grande partido do povo exige o voto electrónico, reclama meios luxuosos para os deputados na capital e nas províncias, pede a transmissão em directo dos debates parlamentares, solicita o crédito bancário indiscriminado, reivindica o uso da energia solar e o fim do recurso aos combustíveis fósseis. Mas quando isso é instalado, já Eduardo dos Santos, opta por deputados a andar de bicicleta para se poupar a camada de ozono e defende a cozinha à lenha.
Parece anedótico e caricatural, mas não, é a pura verdade. O discurso político do MPLA, tal como no tempo do partido único, é errático e resume-se, em poucas palavras, a uma vontade de Eduardo dos Santos de desejar ao mesmo tempo, e de imediato, para o nosso país, os benefícios da modernidade, da pós-modernidade e da tradição – e depois de os obter, recusá-los todos.
Já aqui defendemos que as sociedades contemporâneas são feitas hoje de um amálgama desses três conceitos, o que não esperávamos era que houvesse alguém que erigisse a defesa de um e outro a ideário político conforme as conveniências. Recordamo-nos que as pressões internacionais já passaram por essa fase de critérios variáveis: quando criámos o Tribunal de Contas, este já não servia, o melhor era uma Alta Autoridade contra a Corrupção; quando foi nomeado o Provedor de Justiça, já o MPLA queria um Provedor do Cidadão.
Na sector dos “media”, a brincadeira é a mesma: os bons profissionais de jornalismo não precisam de nenhum pacote para exercerem a profissão, mas o MPLA mete-se no assunto e fala em nome dos jornalistas, pedindo algo de urgência discutível, que depois, evidentemente, irá questionar.
No final de contas, o que temos com isto é a confusão e o caos de que fez alarde o líder do MPLA no dia 31 de Agosto de 2012 e contra o qual a Oposição vem respondendo com a melhor estabilidade, moderação e civismo possível.
Este é o momento ideal de fazermos votos para que o conflito social que atravessa a França, por causa de um projecto de reforma laboral, não degenere em nenhuma confusão que possa colocar em causa as contas bancárias dos sipaios do MPLA e seus familiares, sem que isso seja objecto de nenhuma crítica nem entendido como megalomania.
A estratégia da liderança do MPLA é manhosa e só engana os mais desprevenidos. Mas como disse Abraham Lincoln, “podeis enganar toda a gente durante um certo tempo, podeis mesmo enganar algumas pessoas todo o tempo, mas não vos será possível enganar sempre toda a gente”.
O que realmente o líder do MPLA quer é o poder eterno, mas para que isso aconteça é preciso que a mensagem que transmite tenha consistência e credibilidade e, mais do que isso, consiga conquistar os votos do eleitorado… de uma forma livre e consciente.