No seu recente comunicado à nação, o presidente José Eduardo dos Santos transmitiu a ideia de que as Forças Armadas Angolanas e a Polícia Nacional devem produzir a sua própria comida e os seus próprios uniformes, como forma de fazer face à presente crise económica.
N enhuma referência foi feita a alternativas, porventura mais práticas. Uma forma óbvia de resolver este problema seria gastar menos em equipamento militar.
Durante muitos anos (em tempos de paz) Angola gastou mais em equipamento militar do que qualquer outro país da África subsaariana.
Temos de nos questionar sobre por que motivo tem Angola de manter um exército composto por 100 mil soldados e não, por exemplo, 50 mil ou 25 mil.
Mesmo não estando sob qualquer ameaça militar – próxima ou longínqua – o presidente deu prioridade à aquisição de equipamento militar, colocando em segundo plano a alimentação e o vestuário dos seus soldados e polícias.
Em alguns países africanos, isto mesmo foi receita para golpes de Estado! É importante colocar a despesa militar angolana em perspectiva. Desde o final da guerra civil, em 2002, que as despesas com o exército dispararam, ao ponto de o país gastar mais em defesa do que qualquer outro na África subsaariana.
Em 2010, Angola gastou $3.5 biliões de dólares em defesa. Quatro anos depois, o orçamento do exército praticamente duplicou, passando para $6.8 biliões de dólares, e as projecções indicam que deverá atingir os $13 biliões durante os próximos três anos.
Comparemos estas despesas com as de outros países africanos. Tome-se a Nigéria como um exemplo instrutivo. A população da Nigéria é 8.5 vezes maior do que a de Angola e tem sofrido ataques devastadores, perpetrados pelo Boko Haram quase diariamente. No entanto, o seu orçamento militar considerado na totalidade é inferior ao do estado angolano!
Na verdade, desde o final da guerra civil, em 2002, Angola tem despendido em defesa uma percentagem maior do seu PNB do que aquela que lhe consagram os EUA, a China, a Rússia e o Reino Unido. Porquê?
Para começar a responder a esta questão, é necessário colocar uma outra: quais são, a existir, as reais ameaças internacionais que Angola enfrenta? Existe alguma ameaça, presente ou futura, colocada por algum país africano, ou mesmo de outro continente?
Só em caso sério de paranóia poderia alguém argumentar que Angola enfrenta uma qualquer ameaça, vinda seja de onde for, num futuro próximo ou longínquo.
Uma das estratégias a que José Eduardo dos Santos tem recorrido para se manter tão longamente no poder consiste em mimar os seus oficiais seniores do exército com fartas recompensas oriundas da compra de armas para os generais – assumindo, correctamente, que estes não virão a morder a mão que os alimenta.
Como consequência interna directa dessa estratégia, verifica-se o inevitável emagrecimento dos orçamentos da saúde, da educação e da agricultura, que no seu conjunto se vêem esmagados pelo da defesa.
A questão resume-se, ao fim e ao cabo, a prioridades e valores. As opções do presidente Dos Santos têm praticamente escrito o seu epitáfio: “Preferiu sempre dar prioridade à compra de equipamento militar dispendioso (e às suas lucrativas recompensas) a alimentar o seu próprio povo.”