O ex-coordenador do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, apelou hoje, em Luanda, ao “bom senso” das autoridades angolanas no caso dos 15 activistas detidos, alertando que a greve de fome de um destes, Luaty Beirão, é uma “urgência humanitária”.
O político e académico português falava à margem de uma formação que está a ministrar numa universidade privada em Luanda, tendo sublinhado o estado de saúde de Luaty Beirão, de 33 anos, um dos 15 detidos desde Junho por suposta suspeita de preparação de um golpe de Estado e que cumpre uma greve de fome, em protesto, há 24 dias.
“Há uma urgência humanitária absolutamente decisiva. É preciso salvar a vida deste jovem, Luaty Beirão, e conseguir a libertação de todos os outros presos para que possam aguardar o julgamento e as acusações que sob eles impendem, e que são muito frágeis. Mas o tribunal que o diga”, afirmou o ex-dirigente do Bloco de Esquerda (BE), o único partido português que diz as verdades que o regime não gosta de ouvir.
Francisco Louçã, um dos autores do livro “Os donos angolanos de Portugal”, sublinha que tem o “respeito e a prudência” para não intervir activamente, em termos políticos, em Angola, mas sublinha que o “respeito humano ultrapassa qualquer fronteira”.
“Esta situação, de levar até à beira do risco de morte uma pessoa, como este jovem, que é muito conhecido na juventude angolana, é evidentemente muito perigoso do ponto de vista político, muito arriscado do ponto de vista democrático e indigno do ponto de vista humano”, sublinhou o ex-dirigente do BE.
Louçã, que entretanto visitou em Luanda Mónica Almeida, a mulher do luso-angolano Luaty Beirão, insiste que está em causa fazer algo “para evitar que ele morra” e que os restantes jovens activistas tenham um “julgamento justo”.
“Espero que as autoridades angolanas tenham o bom senso de tomar uma atitude cuidadosa para evitar o agravamento de uma crise que leva a esta hostilidade, que é prejudicial”, disse ainda.
“Que possam salvar a vida do Luaty Beirão. Por ele, em primeiro lugar, mas também por tudo o que ele representa de contributo de uma opinião livre para a democracia entre todos os que somos irmãos nesta preocupação com a Humanidade”, acrescentou, sublinhando o papel daquele jovem activista na “defesa da democracia em Angola”.
Além de Luaty Beirão, permanentemente invocado em várias acções de solidariedade um pouco por todo o mundo, também é conhecido o caso de Nélson Dibango, outro dos 15 detidos neste processo, e que iniciou igualmente uma greve de fome há uma semana.
Em causa está a situação de um grupo de 17 jovens – duas em liberdade provisória – acusados formalmente, desde 16 de Setembro passado, de prepararem uma rebelião e um atentado contra o Presidente Eduardo dos Santos (no poder há 36 anos sem nunca ter sido nominalmente eleito), mas sem que haja uma decisão do tribunal de Luanda sobre a prorrogação da prisão preventiva em que se encontram.
Denunciando que por esse motivo está detido ilegalmente – esgotado o prazo máximo de 90 dias de prisão preventiva sem nova decisão -, Luaty Beirão entrou em greve de fome.
A família de Luaty afirma que ele corre “risco de vida”, face à frágil situação de saúde, sendo, por isso, o foco principal destas vigílias, mas as autoridades angolanas desvalorizaram esse cenário, garantindo que está a receber acompanhamento médico, desde sexta-feira, na prisão hospital de São Paulo, em Luanda.
Luaty Beirão é um dos rostos mais visíveis da contestação ao regime angolano e já chegou a ser preso e agredido pela polícia do regime em manifestações de protesto.
É filho de João Beirão, já falecido, que foi fundador e primeiro presidente da Fundação Eduardo dos Santos (FESA), entre outras funções públicas, sendo descrito por várias fontes como tendo sido sempre muito próximo do Presidente angolano.