QUANDO A ERA DIGITAL DEPENDE DE UM… MINISTRO

28 anos depois do acesso à internet em Angola, a era digital continua ser um negócio de subsistência! Desde os primórdios da transformação do mundo, vivemos várias eras! Entre elas a era das cavernas, electricidade, aviação, “fast food”, moda, automobilismo…, actualmente vivemos a era digital. Afinal, o que é uma era?

Por Tomás Alberto

Uma era é uma época notável em que se estabelece uma nova ordem de coisas. Em que o uso da mesma no contexto, é indispensável. Esta mesma era, proporciona desenvolvimento económico, financeiro e social sustentável para o país.

No caso em específico, era digital, quase tudo que fazemos é por intermédio destas ferramentas que estão divididas entre software e hardware, em que uma não tem utilidade sem a outra.

Hardware: smartphone, tablete e computadores. Software: websites e aplicativos.

É de facto nestes dois elementos onde tudo acontece, desde a produção, distribuição e consumo.

Esta nova era transformou os nossos smartphones, tabletes e computadores em ferramentas de trabalho. A facilidade de acesso e uso dos aplicativos e websites ao nosso dispor, dá-nos a sensação de que o digital é muito fácil e económico! A aglomeração de utilizadores em plataformas angolanas, ou sediadas em Angola, que é um processo adquirido através de tempo e com funcionalidades específicas que geram dependência de uso, continua ser um desafio que não recebe apostas.

Os países para não serem ultrapassados pela era, foram forçados a adaptar-se. Ao invés do foco ser direccionado aos dois elementos, por conveniência, e fruto da complexidade em aglomerar utilizadores, atacou-se a coisa mais fácil. Só que é no mais difícil e complexo, onde está o segredo económico, financeiro e social, de modo a não excluir nenhum estrato social que possui um destes equipamentos que hoje são ferramentas de trabalho.

Nesta era, e como em qualquer era que existiu ou existe, quem não produz, compra. Ou seja, quem não rentabiliza gasta.

Na era digital, em que tanto o hardware (smartphone, tablete e computadores) como o software (websites e aplicativos) estão ao alcance de milhões de pessoas, se o serviço que é consumido localmente em grande escala, também não for produzido e distribuído localmente, isso trás prejuízos económicos e financeiros em divisas e exclusão digital comercial. Pois quando um serviço é prestado por plataformas situadas fora de Angola, a moeda de pagamento é em divisas.

Não sei se temos tantas divisas para o pagamento que são e serão feitas pelos angolanos na solicitação destes serviços digitais indispensáveis nos dias de hoje.

A era digital teve início nos anos de 1950 e 1970, em Angola o acesso à internet registou-se por volta dos anos de 1996.

Nos últimos 5 anos, o Ministério das Telecomunicações, Tecnologia de Informação e Comunicação Social e não só, devido à transversalidade da era digital, têm recebido verbas do OGE (Orçamento Geral do Estado). A par das verbas, também têm recebido investimentos e doações de outras instituições públicas e privadas.

Até aos dias de hoje não conhecemos nenhuma plataforma digital angolana prestadora dos serviços digitais que seja conhecida por pelo menos 10% dos mais de 11.000.000 de utilizadores de internet que Angola possui. Um sector que tem tudo para dar certo, por conta de serem as plataformas digitais situadas fora de Angola a prestarem esses serviços em espaço angolano de forma virtual , em que o pagamento é feito em divisas através de um cartão visa, o que se perspectivava ser uma solução, passou a ser mais um problema económico e financeiro em divisas, e social.

Tudo que conhecemos em Angola, são páginas ou contas que estão dentro das plataformas digitais que não estão situadas em Angola, como Facebook, Instagram, YouTube, Tik Tok, ou seja, ainda somos distribuidores destas plataformas, e vivemos na total dependência delas.

Por serem as plataformas digitais situadas fora de Angola a prestarem estes serviços em grande escala, e o pagamento pela solicitação de serviços serem pagos em divisas através de um cartão visa, quem não tem um cartão visa, está excluído de usar a sua ferramenta de trabalho (smartphone, tablete ou computadores) de modo a ter um emprego ou auto-emprego sustentável.

Noutras partes do mundo onde a competência está acima da conveniência, o sector digital é de facto uma indústria de produção de hardware, e prestação de serviços de software que impulsionam a economia, finanças, gera impostos, empregos, auto-empregos e é um orgulho nacional. Ao passo que aqui em Angola representa prejuízos económicos e financeiros em divisas, e alguns ganhos individuais, porque o mesmo é visto apenas como negócio de subsistência.

Aqui no nosso país, caso o assunto não for do interesse do Ministro, nada será feito. Todo o ecossistema, povo e o Estado ficam reféns do entendimento de uma só pessoa, que não nos tira do problema com todos os meios e recursos ao seu dispor, e ao mesmo tempo impede quem tem capacidade de contribuir, levando a crer que o limite do saber e executar são as suas crenças. O progresso do país e de milhões de pessoas é novamente adiado por conta de uma única pessoa, o ministro.

Era digital, uma solução que se transformou em problemas económico e financeiro em divisas, e de exclusão digital comercial, 28 anos depois mais de 11.000.000 de utilizadores de internet, e o digital continua sendo um negócio de subsistência.

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