POLÍTICA MONETÁRIA – AJUSTES TÉCNICOS OU SOLUÇÕES REAIS?

Decorreu hoje a 121.ª Reunião Ordinária do Comité de Política Monetária do Banco Nacional de Angola (BNA), que trouxe à tona questões cruciais sobre a economia angolana e o panorama internacional. Apesar dos avanços apresentados, surgem dúvidas sobre a profundidade das acções do BNA frente aos desafios estruturais do país.

Por Mwata Santos

O Governador do BNA, Manuel Tiago Dias, comemorou o crescimento de 4,4% da economia em 2024, impulsionado pelo sector petrolífero (3,6%) e pelo não petrolífero (4,8%). Contudo, esta narrativa positiva não deve obscurecer os problemas subjacentes, como a dependência persistente do sector petrolífero e a inflação acumulada de 27,5%, que continua a corroer o poder de compra dos cidadãos, segundo alguns estudiosos.

“As taxas de inflação mensal caíram desde os picos de Abril e Julho, mas o nível actual ainda compromete o acesso a bens e serviços básicos”, afirmou o Governador. A análise levanta a questão: o abrandamento da inflação é suficiente para aliviar a pressão sobre os mais vulneráveis, ou é apenas um reflexo de factores temporários?

O BNA manteve a taxa básica de juro em 19,5% e reduziu o coeficiente de reservas obrigatórias para 20%. Estas medidas, embora tecnicamente adequadas, levantam dúvidas sobre o impacto real no crédito às pequenas e médias empresas e na geração de empregos.

“Ao reduzir o coeficiente de reservas, há uma tentativa de flexibilizar a liquidez. Mas será que os bancos comerciais estão a canalizar esses recursos para sectores produtivos, ou estamos apenas a perpetuar um sistema financeiro voltado para as elites?” questionam alguns cidadãos que assistem à conferência.

KWIK: Inclusão Financeira ou Retórica?

A Vice-Governadora Maria Juliana Pereira destacou os avanços do programa KWIK, que, segunda esta, transaccionou cerca de 18 mil milhões de kwanzas em Dezembro e abriu 2 milhões de contas. Embora os números sejam impressionantes, é fundamental questionar a profundidade do impacto, sendo que grande parte da população angolana é analfabeta ou não tem acesso aos serviços de internet.

“Com 29 participantes na EMIS e apenas 13 a realizarem pagamentos instantâneos, há um longo caminho até que a inclusão financeira seja verdadeiramente abrangente. O programa precisa de maior integração com zonas rurais e de políticas que incentivem a adesão entre os segmentos mais pobres”, argumenta um especialista.

A “Febre Trump” e a Conjuntura Internacional

Domingos Pedro, Vice-Governador do BNA, minimizou o impacto das políticas do ex-presidente Donald Trump, afirmando que o BNA ajusta as suas estratégias com base em análises globais.

“O FED é independente e continuará a conduzir a sua política monetária, independentemente das medidas da Administração Trump”, afirmou. Contudo, esta abordagem ignora as implicações indirectas que mudanças na economia americana podem ter nos mercados emergentes, como o aumento dos custos de financiamento externo.

Perspectivas Futuras: Sustentabilidade em Foco?

Pela leitura que é feita em meio a muitas opiniões, embora o BNA projecte confiança, a sustentabilidade do crescimento económico depende de reformas estruturais mais robustas. A diversificação económica, a redução da dependência do petróleo e um combate mais eficaz à inflação são desafios que exigem acções concretas e não apenas ajustes técnicos.

O caminho para um progresso sustentável em Angola passa por uma análise crítica das políticas actuais e um compromisso real com o desenvolvimento inclusivo e equitativo.

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