O limite de levantamento nos ATM passou de 60 para 120 mil Kz e, nos próximos dias, vai aumentar para 180 mil kwanzas. Isso pode parecer um benefício, mas é um sinal claro de desvalorização do kwanza e de perda do poder de compra das populações. Estamos com mais notas nas mãos, mas elas valem menos.
Por Mwata Santos
A inflação está a subir, e o BNA tem tentado conter os efeitos com medidas como o aumento das taxas de juro e injecções de divisas, mas será suficiente?
Nos últimos tempos, assistimos a um aumento sucessivo e acelerado do limite de levantamento diário nos ATM’s, passando de 60 mil para 100 mil, para 120 mil kwanzas há 3 meses e agora, em Fevereiro, vai passar a 180 mil kwanzas, segundo Maria Pereira, vice-governadora do BNA, que falou durante a Conferência de Imprensa que seguiu a 121.ª Reunião do Comité de Política Monetária, no dia 21 de Janeiro último. A responsável asseverou também, mas de forma contraditória, que têm estado a desenvolver acções para a redução do uso de dinheiro físico entre os agentes económicos para melhorar a eficiência do sistema financeiro. Mas o que esse aumento no limite de levantamento diário realmente significa para o bolso dos angolanos? Será apenas uma medida de conveniência ou estaremos a enfrentar mais um reflexo da constante desvalorização do kwanza?
A realidade que enfrentamos aponta claramente para uma tendência de desvalorização da nossa moeda, acompanhada de uma subida nos preços dos bens e serviços. Este aumento no limite de levantamento pode ser visto como uma resposta às necessidades do consumidor, mas também carrega sinais preocupantes sobre o poder de compra e a saúde da nossa economia.
O valor do kwanza vs custo de vida
Com a inflação a afectar os rendimentos e a moeda nacional a perder valor face ao dólar, o aumento no limite de levantamentos parece um paliativo para uma verdadeira crise de poder de compra. Afinal, estamos a lidar com mais notas nas mãos, mas a realidade é que essas notas valem cada vez menos no mercado.
Este aumento pode ser uma resposta do sistema financeiro para ajustar a liquidez disponível ao cidadão comum, face à crescente pressão de um mercado inflacionário. Contudo, é importante não perder de vista o impacto que esta situação tem na vida diária: enquanto os limites de levantamento aumentam, os preços nos supermercados, nos serviços e nas bombas de combustível continuam a disparar.
O papel do BNA e a Política Monetária
Se olharmos para a intervenção do BNA nos últimos tempos, a qual fiz questão de mencionar recentemente num post nas Redes Sociais, vemos uma tentativa de mitigar os impactos da desvalorização, seja por meio da injecção de moedas no mercado ou pela tentativa de controlar a inflação através do aumento das taxas de juro. Estas medidas, embora possam, têm efeitos colaterais.
O aumento das taxas de juro, por exemplo, encarece o crédito, o que pode desincentivar o consumo e o investimento. Já a injecção de moedas, que tem o objectivo de estabilizar o mercado, já vimos não ser suficiente para contrabalançar a pressão que o kwanza enfrenta no mercado internacional, particularmente face ao dólar e ao euro.
O impacto no bolso do consumidor
Para o cidadão comum, o aumento do limite de levantamento pode ser percebido como um benefício imediato, mas, na verdade, é um sintoma de fragilidade económica. Se há alguns meses, 60 mil kwanzas cobriram as necessidades diárias de muitas famílias, hoje, 120 mil podem não ser suficientes para o mesmo propósito. O que realmente está a acontecer, é uma perda de valor real do dinheiro no nosso dia-a-dia.
Que medidas devem ser tomadas?
A solução para esta situação vai além de simples ajustes nos limites de levantamento. É necessário um esforço concertado para estabilizar a economia, criar condições para um crescimento sustentável e reverter a desvalorização do kwanza. O papel do BNA é crucial, mas é igualmente importante que haja uma sinergia entre as políticas fiscais e monetárias para se alcançar resultados concretos a longo prazo.
Enquanto cidadãos, a compreensão destes movimentos económicos ajuda-nos a tomar decisões mais informadas, seja na gestão das nossas finanças pessoais, seja nas escolhas de consumo e poupança.
Assim, o aumento do limite de levantamento não deve ser visto como um benefício em si, mas como um alerta para a necessidade de uma gestão mais eficaz da nossa economia, que preserve o valor do nosso dinheiro e, consequentemente, o bem-estar da população.
Precisamos repensar Angola, mas juntos.