EM QUALQUER PARTE DO MUNDO

O livro “Eu e a UNITA” está já à venda nas grandes plataformas digitais, disponível em todos os continentes, na versão EPUB (digital), tornando-se, assim, mais fácil ser adquirido. No sentido de testemunhar este trabalho do nosso director adjunto, Orlando Castro, apresentamos quatro testemunhos de quem já o leu: Paulo de Morais, Malundo Kudiqueba, Osvaldo Franque Buela e Eugénio Costa Almeida.

PAULO DE MORAIS

Paixão e Desilusão são os matizes que dominam esta obra imperdível para quem quer conhecer a Angola contemporânea. Ao longo de cada frase do livro respira-se a paixão do autor, o jornalista e escritor Orlando Castro, pelo seu país, Angola. Foi Angola que o viu nascer e é Angola que ocupa hoje o seu coração, apesar de estar radicado em Portugal, no Porto, há décadas.

A Pátria, a ”alma mater” de Orlando Castro está em Angola, no Huambo, onde formou a sua personalidade. Foi aí que germinou também a sua formação política, desde cedo. Logo no ano da independência, 1975, fica ligado à UNITA e aí também nasce uma profunda admiração de Orlando Castro pelo seu líder histórico, Jonas Savimbi. Nesse longínquo ano de 1975, Orlando Castro sonhava com um país livre, desenvolvido e achava então que sua formação académica e profissional poderia vir a contribuir para uma Angola moderna, com progresso e qualidade de vida. Esse sonho nunca se realizou e por isso a desilusão, o desalento, a desesperança até, contribuem para a escrita triste que domina esta obra.

Quando, em 1975, Orlando Castro e outros jovens quadros da UNITA ouviam o apelo de Jonas Savimbi – para que se formassem em Portugal e regressassem mais tarde para apoiar o futuro dos angolanos – não imaginaria a situação a que se chegou nestes anos 20 do século XXI. Orlando Castro denuncia com mágoa que cerca de 70% da população é afectada pela pobreza, que “a taxa de mortalidade infantil é das mais altas do mundo, com 250 mortos por cada 1000 crianças”, que “apenas 38% dos angolanos tem acesso a água potável”.

Orlando Castro apresenta-nos um resultado rigoroso da situação actual do país e identifica as suas causas, denuncia os responsáveis, os carrascos do povo angolano.

Pela leitura que fiz deste livro, identifico no pensamento do seu autor três principais razões para a situação dramática em que o povo angolano se encontra.

A primeira de todas é um poder corrupto exercido pelo MPLA e pelos seus dirigentes. Sucessivos Presidentes da República, Agostinho Neto, Eduardo dos Santos e João Lourenço, exerceram, exercem, um poder feroz que domina todas as facetas do país. A classe dirigente enriquece de forma imoral, à custa das riquezas naturais do país, deixando os angolanos numa profunda miséria. O MPLA domina absolutamente Angola, a cleptocracia é a sua marca. Orlando castro explica como poucos sabem fazê-lo a degradação do regime.

Em segundo lugar, também aqui se percebem as razões do inêxito da UNITA, quando o movimento almeja exercer o poder. Desde o fim da guerra, desde a morte do seu carismático líder Jonas Savimbi, a UNITA não conseguiu chegar ao poder em Angola. Não o logrou com Isaías Samakuva, em momentos de esperança, não o conseguiu ainda com Adalberto Costa Júnior.

Orlando Castro analisa a evolução política da UNITA ao longo dos anos. O autor denuncia, com uma coragem ímpar, também todos aqueles que se transferiram para o poder e subjugaram aos “donos de Angola”, ao MPLA, e que desta forma contribuíram para alguns dos fracassos da UNITA.

Finalmente, o livro descreve uma teia de cumplicidades com o poder corrupto do MPLA, destacando-se a subserviência dos políticos portugueses ao poder de Luanda. Os grandes grupos económicos portugueses estão conluiados com os dirigentes do MPLA em negócios que extraem as riquezas a Angola. E são estes mesmos grupos que dominam a classe política em Portugal.

Orlando Castro denuncia a bajulação do actual presidente português ao Presidente angolano, o servilismo dos maiores partidos políticos de Portugal a José Eduardo dos Santos, ao longo de décadas e, mais tarde, a João Lourenço e seus próximos, como Manuel Vicente.

Muito, muito mais este livro nos ensina sobre Angola e a sua estrutura de poder. “Eu e a UNITA” é imprescindível para compreender Angola, é simultaneamente um manual de História, um compêndio de filosofia política e um modelo de coragem. Aliás porque “Orlando Castro” é sinónimo de “coragem”.

MALUNDO KUDIQUEBA

A grandeza de um partido não pode ser subjugada pela pequenez de um homem. No momento em que um líder tenta colocar-se acima da própria organização, manipulando o que os seus membros podem ou não ler, torna-se claro que a sua prioridade não é a unidade, mas o controlo absoluto. Adalberto Costa Júnior demonstrou esse desvio autoritário ao “proibir” os militantes da UNITA de adquirirem e lerem o livro “Eu e a UNITA”, de Orlando Castro.

Esta atitude não só revela uma liderança frágil e insegura, mas também expõe um partido que se afasta dos seus princípios fundadores. A UNITA sempre se apresentou como um movimento de resistência, de liberdade e de combate à opressão, mas hoje parece encurralada numa bolha de censura e medo interno, uma contradição gritante para um partido que tem a palavra “União” no seu nome.

A UNITA de Jonas Savimbi não tem nada a ver com a UNITA actual. O partido que outrora se afirmava como um bastião da resistência transformou-se numa sombra de si próprio, sem rumo, sem ambição política e sem a força mobilizadora que outrora o distinguia. Hoje, assiste-se a uma UNITA enfraquecida por dentro, onde a perseguição substituiu a luta por um projecto nacional.

Adalberto Costa Júnior revelou-se ser um líder pequeno num partido grande. A sua decisão de “proibir” os membros da UNITA de comprarem e lerem o livro “Eu e a UNITA”, de Orlando Castro, é uma evidência clara da fragilidade da sua liderança. Proibir um livro é sintoma de medo, de insegurança e de uma visão tacanha do papel do conhecimento e da crítica dentro de um partido político. Jonas Savimbi, apesar de todas as suas controvérsias, era um líder carismático, um estratega que não temia o debate nem a contestação. Já a UNITA de hoje parece um exército sem general, um corpo sem alma, refém das vontades e inseguranças de um homem que não suporta ser questionado.

O líder da UNITA mostrou que só se pode ler o que ele quer, que só se pode pensar o que ele dita. Se hoje escolhe os livros que os militantes devem ler, amanhã poderá decidir o que devem comer, onde devem ir, o que devem dizer. A pequeneza desta atitude choca com a grandeza do partido. Uma UNITA refém do medo é uma UNITA condenada à irrelevância. E um líder que teme um livro não pode liderar uma mudança para Angola.

A grandeza de um partido mede-se pela capacidade de abraçar a crítica, de fomentar o debate, de crescer com as divergências. Mas a UNITA actual asfixia quem pensa diferente e, pior ainda, desperdiça as oportunidades de se afirmar como uma verdadeira alternativa ao regime do MPLA.

Savimbi, goste-se ou não, era um líder com uma visão clara e uma personalidade avassaladora. Mobilizava multidões, impunha respeito e tinha um sonho – mesmo que, por vezes, conduzido por métodos discutíveis. Hoje, a UNITA parece perdida num mar de incertezas, sem direcção, sem coragem, sem uma estratégia que vá além da sobrevivência política.

A UNITA continua a ser um partido grande, mas com um líder pequeno. Adalberto Costa Júnior não é conciliador, não é unificador – é um divisor num partido onde a primeira letra do nome significa União. A UNITA foi criada para unir, não para desunir. Como pode um partido que carrega o nome de União viver num estado permanente de fragmentação e conflito interno? A falta de grandeza de um líder pode ser a ruína de um partido que, historicamente, se apresentou como a grande esperança de mudança em Angola. Se a UNITA quer continuar a ser relevante, precisa de um líder à altura da sua história, e não de alguém que transforma a política numa questão de egos e disputas mesquinhas.

Se Adalberto da Costa Júnior continua a agir como um pequeno chefe num partido grande, a UNITA corre o risco de se tornar apenas mais uma peça descartável no xadrez político angolano. A grandeza exige visão, coragem e capacidade de unir, e sem isso, a UNITA será apenas um nome sem substância no cenário político do país.

OSVALDO FRANQUE BUELA

Editado em Portugal, o livro do jornalista luso-angolano, é como um romance entre um casal desiludido, porque do meu ponto de vista, é preciso reconhecer que a UNITA nunca viu com bons olhos a alma crítica de um jornalista que tanto amava este partido e gostaria de ver concretizado o sonho do seu fundador. E esse é talvez o pecado de Orlando Castro perante a UNITA pós-Jonas Savimbi.

De fácil leitura e repleta de realidades e experiências, mas não de anedotas ficcionais, é uma obra que traça não só uma reflexão sobre a própria identidade do autor que desde muito jovem se deixou seduzir pelo projecto político da UNITA de uma Angola para os angolanos, mas também uma relação profunda e pontual, alimentada sobretudo por experiências pessoais vividas pelo autor.

Orlando Castro é o tipo que não esconde de vez em quando uma certa desilusão com esta UNITA, mas também com Angola. Não mede as suas palavras nesta obra e critica severamente as divisões internas da UNITA e do MPLA por um lado e da própria Angola por outro, e do seu compromisso pessoal com Angola, hoje submetida à governação desordenada do MPLA.

Orlando Castro fala com a sua alma de uma Angola que teria sonhado diferente da que hoje conhecemos, de uma Angola multirracial, de camponeses, citadinos, operários, gente simples, de uma Angola que ele descreve com tinta firme e eloquente. Não agrada nem ao MPLA, nem aos novos ricos da UNITA, que preferiram trocar a mandioca pela lagosta, mas que gostariam de ver governar este grande país que parece caminhar directamente para o abismo, dada a sua enorme potencial económico.

Para alguém que vive longe da sua terra natal durante décadas, Orlando é um homem cujo conhecimento de cantos e recantos desta Angola estão para sempre gravados na sua memória, e que os descreve como se lá voltasse todos os dias.

Longe das fileiras de bajuladores e outros propagandistas que procuram agradar, este livro é a história de um homem com o coração ferido pelo amor inestimável à sua pátria. Convido-o fortemente a lê-lo.

EUGÉNIO COSTA ALMEIDA

Em Dezembro de 2023, depois de um extraordinário e sepulcral silêncio literário – estava a ser bem levedado e melhor (redundância, porque nunca conheci o menos melhor) escrito – surgiu o mais recente e sempre actual livro de Orlando Castro, «Eu e a UNITA» sobre a sua ligação ao movimento do Galo Negro e como Orlando Castro conheceu bem a visão Kwacha que espontava em Angola, e, no caso dele, na cidade o Huambo, na província do Huambo, a que era, então, a Nova Lisboa, que Norton de Matos queria que fosse a capital o Império.

Sobre esta obra, poderia ficar, somente, pelas palavras de William Tonet, que prefacia, nomeadamente, com os 2 primeiros parágrafos, ou, melhor, com as duas inicias linhas que dizem tudo da obra «O livro começa, quando a leitura nos aloja nas nuvens! (§) É uma sublime lufada de ar fresco de e para Angola!» (pág. 5). E Tonet, mais adiante, sobre o autor e a sua proverbial frontal escrita acrescenta e bem «Um verdadeiro selo de povoamento [minha nota pessoal: nada tem a ver com o antigo selo de povoamento], parido nas entranhas da rua 66, zona alta de Nova Lisboa (Huambo), onde estão enterradas as secundinas de autor, sob o olhar cúmplice do “gavião” que não as consegue resgatar» (pág. 5).

Pois foi isto que Orlando Castro, neste seu livro de 2 (duas) partes procura tentar fazê-lo: resgatar um pouco das secundinas que estavam enterradas não na rua 66, mas nas gavetas o seu juízo e crítico cérebro.

Se na primeira parte, o autor, que conheço há bué de anos e que me fez o favor de eu ser seu Amigo, “vaga” pelo período negro da nossa História – a guerra de 1975-2002 – e como alguns se aproveitaram do final da guerra para optarem por lagosta bem suada em detrimento dos ideais que nortearam os primeiros 6 magníficos de Muangai de 1966, e, em particular, as linhas-mestras que Jonas Malheiro Savimbi sempre fez por divulgar, mas que fizeram deixar vilmente depositadas em Lucusse, no Moxico, em Fevereiro de 2002.

Na segunda parte, Orlando Castro opta por, sem deixar de ser o jornalista que sempre norteou pela verdade frontal nua, crua e directa – ou, talvez, por isso mesmo, – parece criar um contínuo paralelismo entre o passado bélico do período com a realidade política actual. Algo que, diga-se, também se verifica na primeira parte.

Ou seja, Orlando Castro, com a habitual mestria que lhe é e sempre lhe foi reconhecida, faz-nos navegar e vagar por uma leitura transversal de factos da História de Angola que muitos persistem em “guardarem” em ocultas, fétidas e bem esconsas gavetas cerebrais em favor daqueles que consideram os mais adequados para serem servidos, após lautos, mas discretos, faustos repastos do bom marisco nacional, pelo areópago popular.

Ser-me-ia fácil descrever algumas passagens deste seu magnífico livro de 119 e “inacabadas” páginas. Mas isso tiraria verdade ao que Orlando Castro quer dizer no «Eu e a UNITA» e que defino de “o meu (seu) profundo sentir”.

Inacabadas porque, certamente, Orlando Castro tem muito mais no seu sublime e profícuo cérebro, muito mais páginas para nos falar deste assunto que lhe é – e que os é – muito querido.

Ficamos à espera Orlando. Até lá Twapandula!

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