CHINESES TOMAM CONTA DA FAZENDA LONGA

A Empresa de Gestão de Terras Aráveis em Angola (Gesterra) e a empresa chinesa GUANG WEN firmaram esta quinta-feira, em Luanda, um memorando de parceria para a exploração da Fazenda Longa, localizada no município do Cuito Cuanavale, província do Cubango.

Numa primeira fase, será realizada uma avaliação técnica detalhada da fazenda para definir os investimentos necessários ao desenvolvimento do empreendimento, com uma área total de cinco mil hectares, de acordo com o PCA da Gesterra, Carlos Paim.

A Fazenda Longa é uma moderna unidade agrícola especializada na produção de arroz, equipada com um sistema de irrigação composto por sete pivôs centrais e oito lineares, cobrindo uma área de 1.180 hectares.

A fazenda possui ainda silos de armazenamento com capacidade total de nove mil toneladas, secadores de grãos, uma unidade de processamento de arroz com capacidade para 100 toneladas por dia, além de um parque completo de máquinas e equipamentos agrícolas.

O arroz é uma das culturas prioritárias definidas pelo Executivo, no âmbito das políticas que visam atingir a auto-suficiência e segurança alimentar, sendo que a produção quintuplicou em dois anos, passando para 50 mil toneladas em 2024, contra as dez mil produzidas em 2022.

O Executivo do MPLA (no Poder há 50 anos) tem intensificado os esforços para recuperar terras agrícolas ociosas em todo o país. Em 2024, a Gesterra recuperou 27 mil hectares de terras subutilizadas.

Em Fevereiro de 2024, o então ministro da Agricultura e Florestas, António de Assis, reiterou, em Malanje, a necessidade de o país atingir a produção anual de 10 milhões de toneladas de milho, para a satisfação dos níveis de consumo do grão. Há quantos anos ouvimos esta tese?

O governante fez essa afirmação no acto de abertura da campanha de colheita de milho na Fazenda Quizenga Lutete, no município de Cacuso, realçando que a produção do país era de apenas 4 milhões e 500 mil toneladas/ano, cifra que não cobre as necessidades do mercado.

António de Assis precisou que tudo tem sido feito no sentido de se alcançar essa cifra ano após ano, com previsões de se chegar a seis milhões de toneladas nas próximas colheitas.

Malanje é considerada a capital do milho a nível do país, na escala empresarial, pelo facto de as maiores fazendas de produção se encontrarem nesta província, em particular no município de Cacuso, com destaque para a Quizenga Lutete, Gesterra, Pipe e outras, segundo o ministro.

O ex-ministro fez saber que para a campanha então aberta, esperava-se uma colheita de 10 toneladas de milho por cada um dos mil e 200 hectares plantados, na Fazenda Quizenga Lutete.

Referiu também que com essa safra, o país sairia a ganhar significativamente na produção dessa cultura e estava entrar no mundo do milho, a produzir para a auto-suficiência alimentar e quiçá para exportação.

Destacou, por outro lado, os passos que Malanje estava a dar na produção de arroz, na região Songo, sobretudo no município de Luquembo, onde se faz também o cultivo de soja de forma experimental.

António de Assis apontou a província do Huambo como a maior na produção do milho no sector familiar, daí que o referido cereal constitui a cultura de eleição da região sul, incluindo a produção feita em Benguela e Cuanza-Sul.

Por sua vez, o director da Fazenda Quizenga Lutete, Félix Tchissapa, disse que comparativamente com a campanha agrícola 2022/23, em 2024 estimava-se um aumento dos níveis de produção, sendo que tinham sido colhidas 7,5 contra as 10 toneladas por hectare, esperadas.

O acto de lançamento da colheita de milho culminou com a entrega de títulos de concessão de exploração de terras a 17 jovens para produção de batata-rena, feijão e milho.

Os mesmos beneficiaram de dois hectares e cinco milhões de kwanzas cada, para além de assistência técnica e de sementes para garantir o êxito da produção, geração de renda e de postos de trabalho. Afecta ao Ministério da Agricultura e Florestas, a Fazenda Quizenga Lutete ocupa uma extensão de 5 mil hectares.

Em Julho de 2023, Isaac dos Anjos, secretário do Presidente João Lourenço para o Sector Produtivo e hoje ministro da Agricultura e Florestas, reforçou, na província do Bié, a aposta do Governo no sector da agricultura, tal como o MPLA promete há 50 anos. O milho começou logo a crescer de forma vertiginosa…

Isaac dos Anjos, que também já fora ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, em 1994, num governo de José Eduardo dos Santos, referiu também que o objectivo do Executivo é “acabar com a importação de alimentos nos próximos tempos” (talvez antes de o MPLA completar 100 anos de governação ininterrupta), essencialmente milho, arroz, batata-rena, trigo, mandioca, soja, entre outros produtos que podem ser produzidos nas terras férteis do país.

O MPLA descobriu a pólvora 50 anos depois de estar no Poder. Recorde-se que em 13 de Abril de 2023, Isaac dos Anjos afirmou que Angola dispunha de condições favoráveis para deixar de importar milho e outros cereais até 2024. Os portugueses já tinham descoberto isso há mais de 50 anos, mas…

Por sua vez, no dia 3 de Fevereiro de 2023 o director nacional da Agricultura e Pecuária do Ministério da Agricultura, Manuel Dias, explicou que a produção angolana de trigo, arroz e cevada regista um défice de 80%, sendo a oferta insuficiente para atender à procura de mercado. Por mera curiosidade registe-se que, enquanto província ultramarina de Portugal, até 1974, Angola era auto-suficiente em termos agrícolas, entre outros.

Manuel Dias foi orador no painel “O Desafio da Auto-suficiência”, apresentando o tema “Planagrão e Planapecuária”, no 1.º Fórum Nacional da Indústria e Comércio, organizado pelo Ministério do Comércio e Indústria.

Segundo Manuel Dias, a produção total de trigo, arroz e cevada atinge as 30 mil toneladas, sendo a importação superior, representando um “défice enorme” para o país. “Quer o trigo, quer o arroz, quer a cevada, o défice anda por volta de 80%, quer dizer, o que nós produzimos não chega, 10 mil toneladas não é nada”, frisou.

O responsável salientou que face a este quadro, o Governo pensou (pelos vistos a equipa de João Lourenço… pensa) na produção em grande escala, com uma maior produtividade, com maior profissionalismo.

“As necessidades são imensas, nós temos desafios, temos choques da pandemia, climáticos, e precisamos de avançar o mais rapidamente possível”, frisou o responsável, indicando que 80% da farinha usada para a produção de pão é importada.

Por sua vez, o moderador do debate, Fernando Pacheco, considerou que o que estava previsto no Planagrão 2023-2027 para o trigo “é inviável”: “Não há nenhuma hipótese de nós atingirmos essa meta, porque nós não temos experiência suficiente de produção de trigo, que nos permita atingir essa meta. O Brasil que está muito mais adiantado que nós – não há comparação sequer -, só agora começa a ter resultados na produção de trigo, de modo a acabar com a importação nos próximos anos”.

“Nós dificilmente conseguiríamos fazer isso e, na minha opinião, o esforço quer técnico quer financeiro a fazer no trigo deveria ser dado à produção de milho e arroz”, opinou Fernando Pacheco.

De acordo com o Planagrão, a produção de milho entre 2017 e 2021 terá aumentado 25%, já o arroz teve uma produção, em 2017, de 8 mil toneladas, ficando um pouco abaixo deste valor em 2021.

Na sua apresentação, Manuel Dias destacou que a importação de milho, nos últimos quatro anos, registou uma taxa de redução de 25%, por outro lado, o arroz, o trigo e a soja verificaram aumento.

Em 2021, Angola gastou cerca de 73 milhões de dólares (67 milhões de euros) na aquisição de milho, 263 milhões de dólares (241,7 milhões de euros) para importar arroz, 305 milhões de dólares (280,3 milhões de euros) para o trigo e 149 milhões de dólares (136,9 milhões de euros) para a compra de soja.

Manuel Dias informou ainda que o défice de milho, na campanha agrícola 2020/2021, situou-se em 16%, de arroz 89%, trigo 81% e soja 84%.

Relativamente ao Planapecuária 2023-2027, Angola tem um efectivo bovino de cerca de três milhões, seis milhões para o caprino, dois milhões de suínos e três milhões de aves de capoeira.

O executivo aprovou em 2022, o Plano Nacional de Fomento da Produção de Grãos em Angola (Planagrão) para o aumento significativo de arroz, trigo, soja e milho sobretudo nas províncias do leste do país, prevendo recursos avaliados mais de três mil milhões de dólares (2,7 mil milhões de euros).

Também foi aprovado o Plano Nacional de Fomento da Pecuária (Planapecuária), que visa o aumento da produção nacional de carne bovina, caprina, suína e a produção de ovos e leite, no valor de cerca de 300 milhões de dólares (275,7 milhões de euros).

Por mera curiosidade registe-se que, enquanto província ultramarina de Portugal, até 1974, Angola era o segundo produtor mundial de café Arábico; primeiro produtor mundial de bananas, através da província de Benguela, nos municípios da Ganda, Cubal, Cavaco e Tchongoroy. Só nesta região produzia-se tanta banana que alimentou, designadamente a Bélgica, Espanha e a Metrópole (Portugal) para além das colónias da época Cabo-Verde, Moçambique, Guiné-Bissau e Sã Tomé e Príncipe.

Era igualmente o primeiro produtor africano de arroz através das regiões do (Luso) Moxico, Cacolo Manaquimbundo na Lunda Sul, Kanzar no Nordeste Lunda Norte e Bié.

Ainda no Leste, nas localidades de Luaco, Malude e Kossa, a “Diamang” (Companhia de Diamantes de Angola) tinha mais 80 mil cabeças de gado, desde bovino, suíno, lanígero e caprino, com uma abundante produção de ovos, leite, queijo e manteiga.

Na região da Baixa de Kassangue, havia a maior zona de produção de algodão, com a fábrica da Cotonang, que transformava o algodão, para além de produzir, óleo de soja, sabão e bagaço.

Na região de Moçâmedes, nas localidades do Tombwa, Lucira e Bentiaba, havia grandes extensões de salga de peixe onde se produzia, também enormes quantidades de “farinha de peixe”, exportada para a China e o Japão.

Assim, Angola em 1974 era o terceiro maior produtor mundial de café; o quarto maior produtor mundial de algodão; era o primeiro exportador africano de carne bovina; era o segundo exportador africano de sisal; era o segundo maior exportador mundial de farinha de peixe; por via do Grémio do Milho tinha a melhor rede de silos de África…

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