Enquanto América, Europa, Ásia e Oceânia se desenvolveram, industrializaram-se e consolidaram suas economias, a África permanece, para muitos, o eterno fornecedor de matérias-primas.
Por Lukamba Gato
Um continente rico em recursos naturais, culturas milenares e diversidade humana, mas marcado por séculos de exploração colonial, divisões artificiais e dependência externa.
A história do continente africano não é de inferioridade ou incapacidade, mas de um projecto histórico exógeno. Desde a partilha decorrente da Conferência de Berlim em 1885, passando por um colonialismo violento, e depois pelo neocolonialismo disfarçado em acordos económicos e alianças militares, a África foi mantida em posição subordinada para servir os interesses das potências estrangeiras.
Mas isso é destino, ou consequência histórica e política?
A resposta encontra-se na resistência de seus povos e na luta de líderes visionários como Kwame Nkrumah, Sekou Touré, Jonas Savimbi, Thomas Sankara, etc., que cada um a seu jeito, sonharam com uma África soberana, unida e independente, desenvolvida e solidária.
Nos tempos atuais, o que se passa no Burkina Faso, Níger e Mali reacendeu o debate sobre o pan-africanismo. Regimes militares assumiram o poder nesses países, romperam com a potência neocolonial, a França, expulsaram tropas estrangeiras e firmaram a Aliança dos Estados do Sahel (AES). Mais do que golpes de Estado convencionais, essas transições reflectem a insatisfação popular com anos de submissão política e económica e o desejo de retomar o controle sobre os próprios recursos e destinos.
Lideranças como Ibrahim Traoré, Assimi Goïta e Abdourahamane Tiani têm se apresentado como herdeiros do legado de resistência africana. Mesmo que eles tenham de enfrentar desafios gigantescos, como insurgências armadas, isolamento internacional, crises humanitárias, etc., a simbologia de soberania e autodeterminação que carregam, tem inspirado jovens e movimentos civis pelo continente.
O pan-africanismo, que nos anos 60 e 70 buscou unificar os países africanos para romper com a lógica colonial, renasce nos discursos e redes sociais, na recusa de moedas como o Franco CFA e na proposta de integração económica regional.
O futuro da África não está definido como sendo mero fornecedor das matérias-primas para os outros continentes. Ele será definido pela capacidade das lideranças africanas de se organizarem, reivindicarem novos rumos e resgatarem a dignidade histórica, cultural e económica do continente.
O caminho não será simples, mas os sinais de insatisfação e resistência mostram que o continente começa a revisitar os sonhos interrompidos dos seus grandes líderes e a traçar rotas alternativas de forma a irmos um pouco para lá das nossas danças e crenças religiosas, decidindo e comandando o nosso próprio destino, uma Africa forte, unida e desenvolvida.