UM MILHÃO DE LITROS DE VINHOS DO ALENTEJO. SÓ?

Angola é actualmente o quinto mercado de destino dos vinhos do Alentejo (Portugal) que exportaram para o nosso país um milhão de litros em 2023, anunciou a Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA).

Francisco Mateus, presidente da Direcção da CVRA, citado no comunicado, afirma que “com 30% da produção de vinho da região do Alentejo a ter como destino a exportação, Angola tem ocupado um lugar de destaque nos mercados internacionais. Actualmente, é o 5.º mercado de destino dos vinhos alentejanos”.

Em termos de valor, as exportações para Angola representaram um total de 3,8 milhões de euros, correspondentes a 3,4 mil milhões de kwanzas.

A CVRA promoveu uma formação e um jantar vínico, em Luanda, para “promover a qualidade dos vinhos alentejanos, potenciar as relações comerciais e criar novas oportunidades de negócio no mercado angolano”, destaca a nota de imprensa.

A região do Alentejo é líder de vendas (em valor) no mercado português e encerrou o ano de 2023 com uma quota de mercado superior a 35%.

Francisco Mateus assinalou que este é o regresso das acções da CVRA a Angola, território onde pretendem “reforçar o investimento e a presença dos vinhos alentejanos, bem como potenciar parcerias e oportunidades de negócio”. Está previsto para Junho, a realização de uma nova sessão de formação e um jantar vínico.

Criada em 1989, a CVRA é responsável por garantir o controlo da origem e qualidade dos vinhos da Região do Alentejo, e pela sua certificação com Denominação de Origem Controlada (DOC) ou Indicação Geográfica Alentejano

Vinho é o que mais falta (nos) faz

Recorde-se que a Lusovini – Vinhos de Portugal anunciou já na era de João Lourenço (14 de Setembro de 2018) que ia montar um campo de ensaio de produção de doze variedades de uvas de mesa na região de Viana, em Angola, ainda durante aquele ano.

Campo de ensaio? Não bastaria ver o que se fazia, nesta matéria, antes da 1975, ou consultar o general Higino Carneiro?

“O campo de ensaios representa um investimento de meio milhão de dólares (427 mil euros) para, ao longo de dois anos, estudarmos o comportamento das videiras que queremos plantar neste ‘terroir’”, explicou na altura o presidente da Lusovini, Casimiro Gomes.

Com sede em Nelas, no distrito de Viseu, este grupo produtor e distribuidor de vinhos portugueses tem empresas próprias nos Estados Unidos da América, em Angola, em Moçambique e no Brasil e um escritório de representações na China (Macau).

“Quando passarmos para a produção em larga escala, e se o mercado da exportação responder bem, o nosso investimento neste projecto agrícola poderá ir até aos dez milhões de dólares (8,5 milhões de euros)”, avançou Casimiro Gomes.

O campo de ensaio foi montado em Kikuxi, uma zona agrícola situada na província de Luanda, e serviu para testar o comportamento das uvas e dos porta-enxertos neste clima subtropical.

Depois de estudadas e apuradas as variedades que dão melhores resultados, a Lusovini “plantará e explorará vinhas em grande escala numa herdade de 800 hectares nas margens do Rio Lwei, afluente do Rio Kwanza”, que é propriedade de um parceiro local.

O grupo português está em Angola desde 2010, através Lusovini Angola, uma empresa distribuidora de direito local.

Segundo Casimiro Gomes, “a Lusovini mantém uma relação de grande estabilidade e confiança com o mercado angolano e com os seus agentes”.

“Nunca parámos de investir, mesmo nos anos difíceis e, sobretudo, estivemos sempre empenhados em criar estruturas e serviços para servir com mais qualidade os clientes de Angola, que são cada vez mais sofisticados e exigentes”, frisou.

A Lusovini manteve o fornecimento normal à distribuição, restauração, hotelaria, cafés e similares em todo o território e, apesar dos anos difíceis, afirmou vários dos seus vinhos junto do público consumidor, destacando-se as marcas Pedra Cancela (Dão) e Sericaia (Alentejo).

No Verão de 2018, criou uma nova empresa, a Lusovini Agro, para desenvolver os investimentos agrícolas do grupo no país.

Com os investimentos agrícolas então anunciados para a província de Luanda, a Lusovini quer produzir uvas de mesa em duas vindimas por ano que ocorram nos meses em que não há uvas nem no hemisfério Norte, nem no hemisfério Sul, ou seja, Maio, Junho e Julho, e Novembro, Dezembro e Janeiro.

“As primeiras produções terão como destino o mercado de Angola, mas, se tudo correr bem, como esperamos, rapidamente passaremos a exportar boa parte na produção”, avançou Casimiro Gomes.

A procura pela oportunidade nos mercados internacionais é, segundo o presidente do grupo, uma das razões para que os investimentos sejam feitos na província de Luanda, “devido às melhores condições logísticas e à proximidade do porto e do aeroporto de Luanda”.

A maior parte das exportações será feita em contentores refrigerados. No entanto, em alturas como, por exemplo, o Natal, o transporte por avião “poderá tornar-se viável e competitivo”.

O vinho sempre foi uma atracção fatal para os angolanos. Recorde-se, por exemplo, que o general Hélder Vieira Dias, “Kopelipa”, na altura também responsável pelos serviços secretos da Angola, pagou um milhão de euros por duas quintas no Douro (Portugal) para produzir vinho e exportar.

E o general também faz… vinho

No final do Fórum Empresarial Angola-Portugal, realizado no dia 23 de Junho de 2015, no Hotel Epic Sana, em Luanda, foi apresentado o primeiro vinho “made in Angola”, o Serras da Xxila, que – como é tradição – é produzido nas “modestas” propriedades de um… general.

Como se calcula e elogia, durante a guerra que quase nos destruiu por completo, houve tempo para os generais do regime se especializarem noutras áreas que não as bélicas. Assim, o general Higino Carneiro não só se preparou para ser ministro e governador provincial como, no intervalo das batalhas, amealhou o necessário para, neste caso, ser dono do chamado Rancho de Santa Maria e aí, a partir da casta Muzondo Menga Ixi, produzir o Serras da Xxila.

Com a marca ‘Feito em Angola’, este é um vinho de 2013, com uma acidez de 4.19 e com um teor alcoólico de 15%. Fez o seu estágio em barrica de carvalho francês e americano durante um ano e é frutado com notas de framboesa, amoras e especiarias.

Num pequeno texto escrito no rótulo da garrafa, Francisco Higino Lopes Carneiro reconhece ter sido um sonho, para si e para a sua família, a produção de um vinho de qualidade em Angola. “Espero que tenham tanto prazer em bebê-lo como tivemos em produzi-lo”, escreveu o general.

O Povo agradeceu enquanto, reconhecido, continua a saborear – quando consegue – um apetitoso manjar que dá pelo nome de pirão.

Mas, como em qualquer batalha, a luta continua e o general prometeu na altura lançar um vinho tinto de reserva 2013, em estágio há três anos, produzido a partir das castas europeias Touriga Nacional, Malvechet, Alicante Bouchet, Pinot Noir e Cavenet Bavignon.

Com um investimento que rondou os 16 milhões de dólares desde 2008, outros produtos vinícolas, produzidos no Rancho de Santa Maria, foram apresentados ao mercado. Deles fazem parte um vinho branco de 2014, aguardentes e licores que, para já, serão de laranja, limão, café e maracujá. Estava prevista também a curto prazo a plantação de oliveiras com o objectivo de produção azeite.

Higino Carneiro, é um dos generais mais ricos, fruto certamente do seu esforço militar, empresarial e político. Foi, com certeza, recompensado pelo esforço e dedicação à causa do regime, mesmo sabendo-se que esta causa nunca levou em consideração a tese do primeiro Presidente da República, Agostinho Neto, que dizia que o importante era resolver os problemas do povo.

Sempre foi visto como um “buldózer” que, certo das suas convicções, levava tudo à frente. Esta qualidade foi bem visível como militar, onde não olhava a meios para atingir os seus fins, mas também como ministro das Obras Públicas, governador provincial e empresário.

No mundo empresarial teve, ou tem, negócios com parceiros nacionais, portugueses, brasileiros e outros. Dos seus negócios privados fazem ou fizeram parte 12 hotéis dispersos pelo país, grandes fazendas (a Cabuta é uma delas), bancos (Keve e Sol), uma companhia de aviação dispondo de uma frota de 14 aeronaves, Air Services.

A realidade de Angola demonstra que o sucesso nos negócios privados é inseparável, mais uma vez, do poder dos generais.

Folha 8 com Lusa

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