A Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) prometeu, em Benguela, convencer o sector privado do seu país a investir na agricultura em Angola. A promessa foi feita pela administradora da USAID, Samantha Power, em conferência de imprensa.
Samantha Power afirmou que, de alguma forma, é necessário criar esta parceria através de visitas e trocas de conhecimento: “Vamos fazer um estudo de avanço para concluir que os negócios sejam proveitosos e satisfaçam ambas partes”.
Samantha Power indicou que existem muitos especialistas americanos com experiência no domínio de recursos hídricos e gestão de enchentes causadas pelas chuvas, aproveitando para realçar que o Presidente Joe Biden fala reiteradamente sobre a importância do Corredor do Lobito e o engajamento de muitas empresas norte-americanas envolvidas na agricultura.
Por seu turno, o sub-secretário de Estado norte-americano para a Gestão dos Recursos, Richard Verma, disse que o seu país está também a cooperar na área da saúde, em que vai investir 600 milhões de dólares nos programas de luta contra o HIV/Sida e a malária.
“Estamos a diversificar a nossa abordagem em termos de investimentos na agricultura, na inclusão financeira, na educação e, obviamente, nas infra-estruturas, e é por isso que estamos aqui hoje”, afirmou, referindo ainda que o desenvolvimento corporativo financeiro, que o seu país está a levar a cabo e que está na fase final dos estudos de análise e investimentos, vai atrair um número significativo de investidores.
Ao ministro angolano dos Transportes, Ricardo de Abreu, foi colocada a questão de o Grupo Carrinho ser visto como a única empresa a beneficiar do apoio financeiro norte-americano, por via da USAID, para investir no sector agrícola ao longo do Corredor do Lobito.
Em resposta, o governante disse que o Grupo Carrinho está a gerir o projecto numa zona limitada, fazendo alusão ao facto de não ser o único a beneficiar desse investimento.
“Há outras acções ao longo do Corredor do Lobito. Estamos a desenvolver um projecto com a cooperação holandesa na plataforma logística da Caála (Huambo), que envolve 26 agricultores, para a promover a exploração de seis frutas específicas”, exemplificou.
Ricardo de Abreu disse que o Governo tem a ambição de começar a efectivar o projecto Planagrão, nas províncias do Bié e do Moxico. “O importante é ter também o nosso sector privado a despertar para os momentos de interesse à volta desse processo”, afirmou o ministro.
Ricardo de Abreu afirmou que os recursos financeiros existem. ”Temos parceiros institucionais bilaterais e multilaterais interessados em apoiar esta dinamização”, garantiu.
Na mesma senda, considerou que o que se precisa é apresentar soluções e propostas com qualidade para poder se ter acesso a esses recursos e promover os investimentos.
Samantha Power e Richard Verma também debateram o investimento USAID na prevenção da malária (que segundo o MPLA estava em vias de extinção há mais de dez anos).
O objectivo passa por “reafirmar o compromisso do Governo dos EUA no apoio (…) à segurança e boa governação em Angola”, pode ler-se numa nota da USAID, na qual se indica que “durante a visita, a administradora reuniu com líderes governamentais, membros da sociedade civil e executivos de empresas em Luanda”.
Foi igualmente dado destaque aos “investimentos da USAID na prevenção da malária numa visita ao Instituto Nacional de Investigação em Saúde de Angola, um parceiro-chave na Iniciativa Presidencial contra a Malária”.
A deslocação à província de Benguela visa promover o apoio dos EUA ao Corredor do Lobito, um projecto prioritário da Parceria para as Infra-estruturas e Investimento Globais que ligará a República Democrática do Congo e a Zâmbia aos mercados comerciais regionais e globais através do Porto do Lobito.
A USAID adiantou que Samantha Power aproveitou para se reunir com agricultores angolanos e parceiros governamentais. Talvez, contrariando as instruções impostas pelo MPLA, aconselhe os agricultores a plantar as couves com a raiz para baixo, estratégia que tem dado bons resultados nos EUA.
A visita destes dois responsáveis norte-americanos aconteceu três meses após a presença do chefe da diplomacia dos EUA em Luanda, durante a qual Antony Blinken afirmou que a relação entre os dois países é agora “mais forte e consequente” do que “em qualquer outra altura dos últimos 30 anos”.
Entre os temas abordados com o Presidente de Angola, João Lourenço, estiveram questões como as alterações climáticas e a segurança alimentar, bem como, precisamente, o projecto do Corredor do Lobito.
De facto, no passado dia 25 de Janeiro, Antony Blinken esteve com o Presidente general João Lourenço, num encontro – só por si revelador da pujança democrática do país – em que estiveram igualmente presentes o Presidente do MPLA, o Titular do Poder Executivo e o Comandante-em-Chefe das Forças Armadas (apartidárias).
Para Antony Blinken foi uma rara oportunidade, e – é claro – um privilégio estar com alguém que julga ser um Estadista de alto gabarito, podendo complementarmente analisar (e receber lições) as relações bilaterais e os compromissos assumidos na cimeira EUA-África em áreas como o clima, segurança alimentar, saúde, economia e comércio.
Outros temas em debate, segundo uma nota do Departamento de Estado dos EUA, foram o desenvolvimento de uma parceria baseada em valores partilhados que promovam o respeito pelos direitos humanos e as liberdades fundamentais (que o MPLA já assumiu implementar nos próximos 51 anos), o reforço da segurança mútua e o Estado de direito. Recorde-se que Angola já é um Estado de direito, na variante se ser propriedade privada e privativa do MPLA.
Os Estados Unidos e Angola mantêm relações diplomática há 30 anos e o país foi recentemente reconhecido pelos norte-americanos como um parceiro estratégico em África (na vertente de sipaios de luxo), “fundamental para a promoção dos objectivos comuns de expansão da prosperidade económica e do acesso à energia, da defesa da democracia e dos direitos humanos, e do avanço da segurança regional”, segundo a nota do Departamento de Estado.
No ano passado, o Presidente norte-americano, Joe Biden, teve igualmente o raro prazer de ser recebido pelo general João Lourenço na Casa Branca (a ordem dos factores é arbitrária!), em 30 de Novembro, enquanto Angola acolheu o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, e o enviado de Biden, Amos Hochstein.
Em Novembro de 2023, os EUA e Angola assinaram os Acordos Artemis, na área da exploração espacial e iniciaram um “acordo bilateral de céus abertos”, para facilitar as ligações aéreas entre os dois países.
Entretanto, vários líderes da oposição angolana entregaram na Embaixada dos Estados Unidos em Luanda uma carta endereçada ao secretário de Estado norte-americano, a pedir que pressione o Presidente, general João Lourenço, a realizar eleições autárquicas antes de 2027 e que ele já prometera realizar em 2020.
Os signatários da carta pediam a Antony Blinken que apoie um Estado democrático e de direito em Angola e pressione o general dono de Angola a realizar as primeiras eleições autárquicas no país, “o único grande país da região sem líderes eleitos a nível local”, a desmantelar as instituições partidarizadas e a permitir acesso de todos os atores políticos aos meios de comunicação social públicos.
A visita de Antony Blinken a África, com passagem por Cabo Verde, República Democrática do Congo, Costa do Marfim e Nigéria, surgiu num contexto em que os Estados Unidos procuram marcar posição face a avanços da Rússia e da China no continente.
Já em Angola, Antony Blinken disse que a capacidade produtiva em África deve ser reforçada com mais investimento e tecnologia para melhorar a segurança alimentar.
Na sua primeira declaração em território angolano, que teve lugar no Centro de Ciência de Luanda, ponto inicial da visita à cidade, Antony Blinken considerou o espaço “simbólico” da colaboração entre os dois países, apontando as parcerias na área da ciência.
Angola, continuou Antony Blinken, é também um dos primeiros países a juntar-se à Visão para as Culturas Adaptadas e Solo (VACS, na sigla inglesa), com que os Estados Unidos pretendem lidar com a segurança alimentar.
“Nos últimos anos, assistimos quase a uma tempestade perfeita entre covid-19, alterações climáticas e conflitos como a agressão russa, com forte impacto na segurança alimentar”, afirmou.
Antony Blinken disse que durante os seus encontros em África ouviu os seus parceiros falar sobre a necessidade de investimentos na sua capacidade produtiva, porque “precisam de ter um sistema forte para produzir alimentos”, começando com duas coisas básica, as sementes e o solo.
Exemplificou – parecendo até que se estava a candidatar a um cargo de auxiliar do Titular do Poder Executivo – com o caso de Angola, onde algumas sementes tradicionais “incrivelmente nutritivas” podem ser tornadas mais resistentes aos efeitos da seca.
“Se tivermos sementes de qualidade e as pusermos num solo de qualidade, podemos ter um sistema mais resiliente e nutritivo”, acrescentou Antony Blinken, explicando que a iniciativa VACS, que está a ser construída com Angola e outros parceiros africanos, pretende ajudar África a alimentar-se e a alimentar outras partes do mundo.
“Queremos atingir novos picos, no espaço e na terra, e mostrar como estas duas coisas estão ligadas”, salientou Antony Blinken, qual chefe de posto colonial quando discursava para os sipaios voluntariamente amarrados…
No centro destas parcerias, continuou Antony Blinken, está a partilha e a transferência de tecnologia. “Isso é tão importante como o investimento porque é isso que gera capacidade nos nossos países e lhes permite estarem fortes”, disse o responsável norte-americano.