POUCOS COM MILHÕES, MILHÕES COM POUCO… OU NADA

O novo Aeroporto Internacional Dr. António Agostinho Neto (cuja designação é uma homenagem do MPLA ao genocida que mandou matar milhares e milhares de angolanos nos massacres de 27 de Maio de 1977) e o Corredor do Lobito estiveram em destaque, em Lisboa, num evento destinado à apresentação das potencialidades de projectos e oportunidades de negócios a empresários de países da lusofonia. Previsivelmente lá para 2050 falar-se-á dos mais de 20 milhões de pobres que Angola tem em… 2024.

Os dois empreendimentos foram realçados no decorrer do “Doing Business Angola 2024”, organizado pelo Jornal Económico, a Forbes Portugal e Países Lusófonos (publicações que privilegiam a razão da força e não a força da razão), para explicar aos empresários as potencialidades dos respectivos projectos e a oportunidade de negócios que representam.

O evento, que contou com a presença, entre outros, do ministro angolano dos Transportes, Ricardo de Abreu, e do presidente do Conselho de Administração da Agência de Investimento Privado e Promoção das Exportações (AIPEX), Arlindo das Chagas Rangel, reuniu num dos hotéis de Lisboa diplomatas e homens de negócios portugueses e angolanos de diferentes ramos de actividade, tendo homenageado o empresário luso-angolano Jaime Freitas, pela sua forte presença empresarial em Angola.

Ao intervir no encerramento do certame, o ministro Ricardo de Abreu destacou a importância do Plano Nacional do Sector dos Transportes, no qual se destaca o Corredor do Lobito.

Segundo o governante, o projecto insere-se numa dinâmica de activação das infra-estruturas na economia global, através da arrecadação de receitas que resultam da cobrança de taxas de concessão aos grandes investidores internacionais, resultando, até agora, na entrada de 380 milhões de dólares para o Orçamento Geral do Estado (OGE).

O ministro disse também que a extensão do Corredor do Lobito até à Zâmbia, através do Caminho-de-Ferro de Benguela, permite promover o emprego, através do sector privado, para a mão-de-obra das diferentes indústrias que podem ser criadas ao longo da linha férrea. Só mesmo um perito do MPLA conseguiria descobrir que o Corredor do Lobito permitirá investimentos ao longo da linha férrea…

Ricardo de Abreu sugeriu que o Governo português crie uma linha de crédito específica para apoiar empresas lusas que queiram aproveitar as potencialidades económicas criadas pelo Corredor do Lobito. Bem sugerido, desde logo porque o índice de bajulação tuga ao MPLA é de tal ordem que qualquer sugestão é entendida como uma ordem.

Quanto ao novo Aeroporto Internacional (genocida) Dr. António Agostinho Neto, anunciou-se que as operações de voos comerciais arrancam a 13 de Outubro.

Segundo Paulo Nóbrega, director do Gabinete Operacional do Novo Aeroporto Internacional de Luanda, encarregue da apresentação, 13 de Outubro foi a data estabelecida para o arranque das operações, o que vai obrigar a um enorme esforço logístico para colocar tudo a funcionar, de modo que a data seja cumprida.

Sobre esta infra-estrutura, o ministro Ricardo de Abreu disse que um dos grandes objectivos do novo aeroporto é fazer de Angola uma placa giratória da aviação entre a Europa e outros destinos intercontinentais, entre os quais África.

Actualmente, a principal placa giratória para a aviação em África está sedeada em Joanesburgo, mas o titular dos Transportes acredita que o facto de Angola estar três horas mais perto da Europa poderá ser determinante para o alavancar das operações no novo Aeroporto Internacional de Luanda.

Com estes e outros investimento megalómanos, o MPLA, partido que só está no poder desde a independência, saúda – entre outros – os 20 milhões de pobres criados a partir do momento, histórico, em que se trocaram os colonialistas portugueses pelos colonialistas do MPLA.

O MPLA (e certamente os acólitos políticos de Portugal) encoraja o seu Presidente, igualmente Presidente da Re(i)pública e Titular do Poder Executivo (não nominalmente eleito), general João Lourenço, “a continuar a implementar medidas de políticas que visam melhorar o Índice de Desenvolvimento Humano, impulsionar o aumento da produção, o crescimento económico e a prosperidade da nação”.

“O MPLA expressa-se optimista com as acções empreendidas pelo executivo angolano, que visam intensificar os esforços para a materialização do direito ao emprego digno e de qualidade, a qualificação profissional e o estímulo ao empreendedorismo especialmente para a juventude, tendo como base a aposta séria num Sistema Nacional de Formação Profissional”, dizem os sipaios do regime.

O MPLA homenageia igualmente os que pagaram “com a própria vida o empenho directo e abnegado na luta de libertação” e reafirma-se como “vanguarda da promoção e reinserção política, económica e social de todas as forças vivas da nação, combatendo as várias formas de injustiça e discriminação”.

Já agora, alguém ouviu, leu ou viu os ditos jornalistas portugueses referirem que 68% da população angolana é afectada pela pobreza, que a taxa de mortalidade infantil é das mais altas do mundo, com 250 mortes por cada 1.000 crianças, que apenas 38% da população angolana tem acesso a água potável e somente 44% dispõe de saneamento básico?

Alguém ouviu, leu ou viu os ditos jornalistas portugueses referirem que apenas um quarto da população angolana tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade, que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos?

Alguém ouviu, leu ou viu os ditos jornalistas portugueses referirem que 45% das crianças angolanas sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos, que a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos?

Alguém ouviu, leu ou viu os ditos jornalistas portugueses referirem que o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder, que Angola é um dos países mais corruptos do mundo e que tem 20 milhões de pobres?

“Muitos governantes que têm grandes carros, numerosas amantes, muita riqueza roubada ao povo, são aparentemente reluzentes mas estão podres por dentro”. Esta foi e é, por muito que nos custe, a realidade do nosso país.

Alguém do MPLA, ou de Portugal, se recorda, por exemplo, o que D. José de Queirós Alves, arcebispo do Huambo, afirmou em Julho de 2012 na comuna de Chilata, município do Longonjo, a propósito das eleições?

O prelado referiu que o povo angolano tinha muitas soluções para construir uma sociedade feliz e criar um ambiente de liberdade onde cada um devia escolher quem entender.

“Temos de humanizar este tempo das eleições, onde cada um apresenta as suas ideias. Temos de mostrar que somos um povo rico, com muitas soluções para a construção de uma sociedade feliz, criar um ambiente de liberdade. É tempo de riqueza e não de luta ou de murros”, frisou.

”Em Angola, a administração da justiça é muito lenta e os mais pobres continuam a ser os que menos acesso têm aos tribunais”, afirmou em 2009 (nada de substancial mudou até agora), no mais elementar cumprimento do seu dever, D. José de Queirós Alves, em conversa com o então Procurador-Geral da República, João Maria Moreira de Sousa.

D. José de Queirós Alves admitia também (tudo continua na mesma) que ainda subsiste no país uma mentalidade em que o poder económico se sobrepõe à justiça.

Importa ainda recordar, a bem dos que não têm força mas têm razão (e que, por isso, não são do MPLA), que numa entrevista ao jornal português “O Diabo”, em 21 de Março de 2006, D. José de Queirós Alves disse que “o povo vive miseravelmente enquanto o grupo ligado ao poder vive muito, muito bem”.

Nessa mesma entrevista ao Jornalista João Naia, o arcebispo do Huambo considerou a má distribuição das receitas públicas como uma das causas da “situação social muito vulnerável” que se vive Angola.

D. Queirós Alves disse então que, “falta transparência aos políticos na gestão dos fundos” e denunciou que “os que têm contacto com o poder e com os grandes negócios vivem bem”, enquanto a grande massa populacional faz parte da “classe dos miseráveis”.

Imagem: Criação tendo por base um cartoon de Sérgio Piçarra publicado no Novo Jornal

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