Organizações Não-Governamentais (ONG) angolanas condenaram hoje o ataque à caravana da UNITA na província do Cuando-Cubango, considerando que o acto “mancha” o processo de reconciliação nacional no mês do 22.º aniversário da paz. Mas desde quando o MPLA está interessado na paz? Não nos esqueçamos que no MPLA ainda hoje, 22 anos depois, há gente que teme o fantasma de Jonas Savimbi e que, além disso, quer acabar o que (segundo eles) ficou por fazer em 1992.
A Omunga e a Associação Mãos Livres, ambas defensoras e promotoras dos direitos humanos em Angola, lamentaram o sucedido, precisamente no mês em que Angola celebrou os 22 anos de paz e reconciliação nacional, em 4 de Abril, exortando ao diálogo. Esquecem-se estas ONG de explicar ao MPLA que diálogo significa que os outros têm (ou deveriam ter) direitos.
Numa nota de repúdio, a Mãos Livres condenou com veemência o ataque contra a caravana de deputados da UNITA, maior partido da oposição que, a muito custo, o MPLA ainda permite, ocorrido na passada sexta-feira, referindo que o mesmo pode manchar o processo de reconciliação nacional. É claro que o MPLA não está preocupado com essa utopia da reconciliação, desde logo por que entende, continua a entender, que “o MPLA é Angola e Angola é do MPLA”.
A ONG instou a direcção da Assembleia Nacional (parlamento), o grupo parlamentar da UNITA e a Polícia Nacional do Cuando-Cubango para um esclarecimento público “para se evitar que situações idênticas voltem a ocorrer”. Certo é que situações destas só vão deixar de acontecer quando Angola for o que ainda não é: uma democracia e um Estado de Direito.
Para a Associação Mãos Livres, sejam quais forem as razões, “o melhor caminho é o diálogo franco e aberto para sanar os resquícios do passado”.
A polícia do Cuando-Cubango confirmou a existência de quatro feridos num ataque a uma caravana de deputados da UNITA, na sexta-feira, mas negou que o partido tenha solicitado escolta às autoridades.
A UNITA denunciou na sexta-feira um ataque a uma caravana de deputados que exerciam trabalho parlamentar naquela província, de que teriam resultado um morto e seis feridos, informação corrigida posteriormente para nove feridos, dos quais cinco graves.
A Omunga disse ter assistido ao que aconteceu com “muita pena”, referindo que os 22 anos de paz e reconciliação nacional deveriam significar convivência pacífica entre os angolanos, respeito pela diferença e respeito pelas instituições. Ou seja, a Omunga defende tudo aquilo que o MPLA não é e nem quer ser.
De acordo com esta organização, os acontecimentos de 12 de Abril no Cuando-Cubango são “prova inequívoca de que os angolanos ainda não estão reconciliados, apesar de tantas tentativas que de certa forma incentivaram o caminho da reconciliação nacional”.
“Urge a necessidade de trabalharmos todos na cultura da paz entre os angolanos. Chegou o momento de construirmos um verdadeiro Estado de direito e democrático”, defendeu a ONG.
Do ponto de vista da informação politicamente correcta, deve dizer-se que os autores do ataque à caravana de deputados e militantes da UNITA seriam alegadamente militantes do MPLA, no poder em Angola desde 1975. Do ponto de vista do jornalismo deve dizer-se, sem meias palavras, que os autores dos ataques eram mesmo militantes do MPLA.
O MPLA demarcou-se destas acções, pela voz do seu secretário-geral, Paulo Pombolo, que negou incitações à violência e à intolerância política.
“O MPLA pela sua dimensão, aliás, é o partido da paz. Somos nós, o MPLA, que lutámos para que esse país fosse pacificado. Nós é que demos termo à guerra”, disse Paulo Pombolo aos jornalistas, à margem do lançamento da campanha “Abril da Paz, do Amor e do Perdão-Mais Angola, Mais Cidadania”, citado pela agência angolana Angop.
Quando Pombolo mente ao dizer que o MPLA lutou para que o país fosse pacificado e que foi o MPLA que pôs termo à guerra, está a fazer tudo para atiçar os ânimos e não para defender a paz e a reconciliação. Mesmo sabendo-se que o secretário-geral do MPLA não sabe distinguir uma zebra de um burro de pijama às riscas, ele arrulha seguindo a partitura do seu patrão, o general João Lourenço…
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