O QUE SERIAM OS EUA SEM O MPLA?

O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, encontra-se hoje com o Presidente angolano, general João Lourenço, num encontro – só por si revelador da pujança democrática do país – em que estarão igualmente presentes o Presidente do MPLA, o Titular do Poder Executivo e o Comandante-em-Chefe das Forças Armadas (apartidárias).

Para Antony Blinken é uma rara oportunidade, e – é claro – um privilégio estar com alguém que julga ser um Estadista de alto gabarito, podendo complementarmente analisar (e receber lições) as relações bilaterais e os compromissos assumidos na cimeira EUA-Africa em áreas como o clima, segurança alimentar, saúde, economia e comércio.

Outros temas em debate, segundo uma nota do Departamento de Estado, serão o desenvolvimento de uma parceria baseada em valores partilhados que promovam o respeito pelos direitos humanos e as liberdades fundamentais (que o MPLA já assumiu implementar nos próximos 52 anos), o reforço da segurança mútua e o Estado de direito. Recorde-se que Angola já é um Estado de direito, na variante se ser propriedade privada e privativa do MPLA.

Além do encontro com João Lourenço, Antony Blinken, que chegou na quarta-feira à noite a Luanda, vai estar também com o chefe da diplomacia angolana, Téte António, num dia que começou com uma visita ao Centro de Ciência de Luanda, seguindo-se um encontro na operadora de telecomunicações com capitais norte-americanos, Africell.

Os Estados Unidos e Angola mantêm relações diplomática há 30 anos e o país foi recentemente reconhecido pelos norte-americanos como um parceiro estratégico em África (na vertente de sipaios de luxo), “fundamental para a promoção dos objectivos comuns de expansão da prosperidade económica e do acesso à energia, da defesa da democracia e dos direitos humanos, e do avanço da segurança regional”, segundo a nota do Departamento de Estado.

No ano passado, o Presidente norte-americano, Joe Biden, teve o raro prazer de ser recebido pelo general João Lourenço na Casa Branca (a ordem dos factores é arbitrária!), em 30 de Novembro, enquanto Angola acolheu o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, e o enviado de Biden, Amos Hochstein.

Em Novembro de 2023, os EUA e Angola assinaram os Acordos Artemis, na área da exploração espacial e iniciaram um “acordo bilateral de céus abertos”, para facilitar as ligações aéreas entre os dois países.

Na terça-feira, vários líderes da oposição angolana entregaram na Embaixada dos Estados Unidos em Luanda uma carta endereçada ao secretário de Estado norte-americano, a pedir que pressione o Presidente, general João Lourenço, a realizar eleições autárquicas antes de 2027 e que ele já prometera realizar em 2020.

Os signatários da carta pedem a Antony Blinken que apoie um Estado democrático e de direito em Angola e pressione o general dono de Angola a realizar as primeiras eleições autárquicas no país, “o único grande país da região sem líderes eleitos a nível local”, a desmantelar as instituições partidarizadas e a permitir acesso de todos os atores políticos aos meios de comunicação social públicos.

A visita de Antony Blinken a África, com passagem por Cabo Verde, República Democrática do Congo, Costa do Marfim e Nigéria, surge num contexto em que os Estados Unidos procuram marcar posição face a avanços da Rússia e da China no continente.

Já em Angola, Antony Blinken disse que a capacidade produtiva em África deve ser reforçada com mais investimento e tecnologia para melhorar a segurança alimentar.

Na sua primeira declaração em território angolano, que teve lugar no Centro de Ciência de Luanda, ponto inicial da visita à cidade, Antony Blinken considerou o espaço “simbólico” da colaboração entre os dois países, apontando as parcerias na área da ciência.

Destacou a adesão recente aos Acordos Artemis para o uso pacífico da exploração espacial e sublinhou a utilização dos dados recolhidos na investigação espacial para responder a preocupações como a mitigação dos efeitos da seca e o uso eficaz da água.

Angola, continuou Antony Blinken, é também um dos primeiros países a juntar-se à Visão para as Culturas Adaptadas e Solo (VACS, na sigla inglesa), com que os Estados Unidos pretendem lidar com a segurança alimentar.

“Nos últimos anos, assistimos quase a uma tempestade perfeita entre covid-19, alterações climáticas e conflitos como a agressão russa, com forte impacto na segurança alimentar”, afirmou.

Antony Blinken disse que durante os seus encontros em África tem ouvido os seus parceiros falar sobre a necessidade de investimentos na sua capacidade produtiva, porque “precisam de ter um sistema forte para produzir alimentos”, começando com duas coisas básica, as sementes e o solo.

Exemplificou – parecendo até que se estava a candidatar a um cargo de auxiliar do Titular do Poder Executivo – com o caso de Angola, onde algumas sementes tradicionais “incrivelmente nutritivas” podem ser tornadas mais resistentes aos efeitos da seca.

“Se tivermos sementes de qualidade e as pusermos num solo de qualidade, podemos ter um sistema mais resiliente e nutritivo”, acrescentou Antony Blinken, explicando que a iniciativa VACS, que está a ser construída com Angola e outros parceiros africanos, pretende ajudar África a alimentar-se e a alimentar outras partes do mundo.

“Queremos atingir novos picos, no espaço e na terra, e mostrar como estas duas coisas estão ligadas”, salientou Antony Blinken, qual chefe de posto colonial quando discursava para os sipaios voluntariamente amarrados…

No centro destas parcerias, continuou Antony Blinken, está a partilha e a transferência de tecnologia.

“Isso é tão importante como o investimento porque é isso que gera capacidade nos nossos países e lhes permite estarem fortes”, disse o responsável norte-americano.

Folha 8 com Lusa

Artigos Relacionados

Leave a Comment