O QUE A POLÍTICA DIVIDE O SOFRIMENTO UNE

Membros do MPLA e da UNITA estão divididos por questões políticas mas estão unidos pelo sofrimento. As siglas MPLA e UNITA não importam e fica demonstrado que o sofrimento em Angola é transversal e não apenas um conceito relativo como alguém tentou insinuar. Se há algo que une todos os angolanos, independentemente das suas afiliações políticas, é o sofrimento.

Por Malundo Kudiqueba

A realidade do dia-a-dia no nosso país é uma experiência que transcende partidos, crenças e ideologias. Quer você seja um fervoroso membro do MPLA ou um convicto adepto da UNITA, a verdade é que as dificuldades não fazem distinção.

Ninguém deve ser criticado por continuar a demonstrar lealdade política ao MPLA, assim como ninguém deve ser idolatrado por apoiar a UNITA. Os membros destes dois partidos políticos têm tido um comportamento semelhante aos adeptos fanáticos de futebol. Criticar alguém pelas suas preferências políticas é como criticar aquela mulher vítima de violência doméstica que não quer abandonar o relacionamento. Por outro lado, idolatrar alguém pelas suas afiliações políticas é colocar expectativas irreais em pessoas que, no fundo, são tão humanas quanto qualquer um de nós. Maldito o homem que confia no político.

Quando enfrentamos as dificuldades diárias da vida em Angola, fica claro que não importa a cor da sua bandeira política. Todos nós queremos as mesmas coisas: melhores condições de vida, acesso adequado a serviços públicos e um futuro melhor para os nossos filhos. Quando estamos doentes, frequentamos os mesmos hospitais e não importa a nossa filiaçao partidária. Todos enfrentamos as longas filas, a falta de medicamentos e a mesma expressão de cansaço dos profissionais de saúde. E quem nunca teve uma consulta marcada para as 10h que só aconteceu às 15h? O sofrimento na sala de espera é uma verdadeira aula de paciência e resistência.

A rivaldade entre os membros de MPLA e da UNITA não faz sentido. O sofrimento é transversal e não escolhe filiação partidária. Todos nós estamos no mesmo barco do sofrimento. Fico desiludido quando escuto muitos de vocês dizerem que são do MPLA ou da UNITA, como se a vossa identidade estivesse intrinsecamente ligada ao partido no qual militam. No entanto, gostaria de lembrar a todos que vocês não são propriedade de nenhum partido político. Vocês estão no MPLA ou na UNITA hoje, mas amanhã podem decidir mudar de partido ou até mesmo abandonar a política partidária. A lealdade partidária, embora importante, não deve sobrepor-se à vossa identidade e aos vossos valores como cidadãos angolanos.

A história política está repleta de exemplos de pessoas que mudaram de partido político quer por convicções ou circunstâncias socio-políticas. Isso demonstra que a filiação partidária é temporária e sujeita a mudanças. Portanto, ninguém deve identificar-se completamente com um partido, pois essa filiação pode ser passageira.

Estar num partido político não significa renunciar à flexibilidade de pensamento e à capacidade de questionar e evoluir. É essencial que vocês mantenham as vossas próprias convicções e estejam abertos ao diálogo e ao aprendizado contínuo.

É triste observar-vos a colocarem os vossos partidos acima do país. Gostaria de vos recordar que Angola nunca será extinta mas o mesmo já não posso dizer dos nossos partidos políticos. Já que vocês amam tanto os vossos partidos políticos aconselho-vos a irem criar novos países denominados MPLA e UNITA.

A verdadeira riqueza de uma nação não se mede pelo número de milionários que possui, mas pelo nível de desenvolvimento sustentável que proporciona a todos os seus cidadãos. Isso inclui acesso à educação de qualidade, serviços de saúde eficientes, infra-estruturas adequadas e oportunidades de emprego.

Os membros destes dois partidos políticos são para todos efeitos angolanos. Esta é a vossa verdadeira identidade, que não pode ser mudada ou trocada. Independentemente de estarem no MPLA ou na UNITA, a vossa lealdade maior deve ser para com Angola. O interesse nacional deve sempre prevalecer sobre os interesses partidários. É crucial que vocês, como membros de partidos políticos, se lembrem de que acções e decisões devem sempre visar o melhor para o país.

Portanto, é hora de transcender as rivalidades políticas e cultivar um espírito de colaboração e compreensão mútua. Juntos, podemos construir um futuro melhor para Angola, baseado na solidariedade, no respeito às diferenças e no compromisso com o bem-estar de todos os cidadãos, independentemente da filiação política. Os partidos políticos existem para servir ao povo e não o contrário. O MPLA e a UNITA devem estar a serviço dos angolanos, buscando soluções para os problemas do país e trabalhando pelo desenvolvimento e pela justiça social.

Vocês não devem aceitar ser meros instrumentos de partidos políticos. Vocês são cidadãos com direitos, deveres, respomsabilidades e uma identidade que transcende qualquer filiação partidária. Hoje, vocês podem estar no MPLA ou na UNITA, mas é como angolanos que devem sempre posicionar-se e agir. Acho redutor e limitador quando vocês se apresentam e se identificam como sendo deste ou daquele partido político. Vocês dizem “sou do MPLA ou sou UNITA” quando o certo seria dizer “estou no MPLA ou estou na UNITA”.

O futuro de Angola depende da capacidade do seu povo, independentemente de sua filiação partidária, de colocarem o bem-estar do país acima de interesses pessoais e partidários. Vocês, membros do MPLA e da UNITA, têm uma responsabilidade enorme nas mãos. Lembrem-se sempre de que são angolanos antes de qualquer coisa, e que a vossa lealdade maior deve ser para com Angola e o seu Povo.

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