NASCER COM FOME, MORRER COM FOME

A World Vision Angola apoiou mais de 980 mil crianças vulneráveis, durante 2024, em 16 províncias do país, com a implementação de vários projectos de resposta a emergências, anunciou hoje esta organização não-governamental de ajuda humanitária. Mais uma prova da criminosa incompetência de quem está no Poder de um país rico há 49 anos.

Numa nota sobre a resposta da World Vision Angola à seca e malnutrição (forma eufemística de dizer fome) em Angola, esta organização referiu que o sul de Angola continua a sofrer com a seca severa causada pelo fenómeno meteorológico El Niño de 2023/2024.

De acordo com organização, o sul de Angola enfrenta secas já há cinco anos consecutivos “e muitas famílias esgotaram os seus alimentos e reservas vivas, como gado e pequenos animais (principalmente cabritos e galinhas)”.

Para fazer face à situação, “muitos recorreram a outras actividades geradoras de renda, como a produção de carvão e a colecta de lenha”. Relembre-se que estamos a falar de um país independente há 49 anos e que, ainda hoje, não conseguiu atingir os valores de desenvolvimento económico e social (entre outros) que Angola atingiu em 1974.

“A falta de produção agrícola foi exacerbada pelos altos preços dos alimentos básicos, como farinha de milho, feijão e óleo vegetal, que chegam a estar três vezes mais caros do que no mesmo período do ano passado. Isso também está impactando as comunidades urbanas e periurbanas”, sublinha-se no documento.

Ao longo de 2024, a World Vision Angola implementou projectos de resposta a emergências com o financiamento de vários parceiros, cujas acções se basearam na identificação de crianças com malnutrição aguda severa e moderada, por agentes comunitários de saúde, encaminhando-as para unidades de saúde para tratamento com suprimentos terapêuticos e suplementares.

Durante o ano que agora finda, foram também distribuídos vales alimentares e cestas básicas para famílias com crianças afectadas pela malnutrição aguda severa e moderada, para garantir que os suprimentos terapêuticos e suplementares não sejam compartilhados entre as crianças da família.

As acções incluíram ainda a reabilitação de pontos de água, alimentados por energia solar em comunidades rurais, para garantir o acesso à água potável às famílias e seu gado, tendo também distribuído uma mistura de milho/soja com óleo vegetal e açúcar, para crianças de até dez anos, em Centros de Alimentação Comunitária.

Para a resiliência das comunidades, a World Vision Angola apoiou Escolas de Campo para Agricultores, treinando-os em diferentes técnicas de agricultura de conservação, uso de variedades de sementes de ciclo curto e resistentes à seca, e com técnicas para regeneração de áreas desmatadas, entre outras.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) tratou 100.000 crianças angolanas desnutridas (com fome, em bom português), de três províncias, com a administração de suplementos nutricionais, afirmou no dia 27 de Maio o chefe de secção de Saúde e Nutrição desta agência da ONU.

Segundo Frederico de Brito, prelector do tema “O Impacto da Desnutrição na Vida das Crianças”, no ‘workshop’ promovido pela (onde todos estão mais do que bem… nutridos) Assembleia Nacional de Angola, alusivo ao Dia Internacional da Família, as intervenções foram realizadas, em 2023, nas províncias da Huíla, Benguela e Cunene, zonas afectadas pela seca e por 49 anos de uma governação criminosa e incompetente.

“Esta é uma intervenção que estamos a fazer com apoio dos nossos parceiros, a USAID [Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional] e a União Europeia, no âmbito das respostas às mudanças climáticas à zona sul de Angola”, referiu Frederico de Brito, em declarações à imprensa.

Frederico de Brito disse que as intervenções foram feitas em hospitais, quer com a mobilização de nutrientes, leites terapêuticos e produtos terapêuticos para consumo imediato, seguindo um protocolo de tratamento, “que faz com que elas sejam rapidamente tratadas”, salvando as crianças “de uma progressão de desnutrição grave”.

O apoio envolve também a formação de mães, para assegurar que a partir de alimentos existentes na comunidade seja dada alimentação adequada às crianças.

Ou seja, são tratadas as crianças que nem peixe podre e fuba podre têm, enquanto os dirigentes do regime, tanto a nível municipal, provincial e nacional se alimentam de trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas e umas garrafas de Château-Grillet 2005…

“Foi um grande sucesso esses resultados, salvamos vidas, mas com a participação do Governo”, frisou Frederico de Brito, escondendo que, na realidade, aos nossas criança são geradas com fome, nascem com fome e morem pouco depois com… fome.

Durante a sua apresentação, o responsável manifestou preocupação com a falta de dados estatísticos sobre a desnutrição em Angola, tendo baseado a sua apresentação em informação do Instituto Nacional de Estatística (INE) angolano, de 2015. Se a incompetência fosse comida… não haveria fome em Angola.

“De facto, há um desafio muito grande de dados a nível de Angola, porque sem dados concretos é difícil focalizar as intervenções. Os dados que nós usamos são do Governo, foram produzidos em 2015, e estamos felizes por ver que há um novo estudo que vai sair no próximo ano”, disse Frederico de Brito, salientando que a Unicef também participou do estudo para assegurar que as metodologias usadas seguiram os padrões internacionais.

Baseando-se nos dados de há quase dez anos e na situação do país no decorrer deste período, Frederico de Brito disse que a percepção da Unicef “é que a questão da desnutrição ainda continua crítica em Angola”. Claro que continua. Importa, contudo e em abono do Governo do MPLA (no Poder há 49 anos), alertar que quem analisar as estatísticas deve, obrigatoriamente, fazer médias analíticas. Isto é. Se o João (neto do Presidente João Lourenço) comer por dia um cordeiro assado com cogumelos, e o Miguel (filho da Maria zungueira) nada comer, em média o Miguel comeu meio cordeiro assado com cogumelos…

De acordo com o chefe de secção de Saúde e Nutrição da Unicef, de 2015 para cá, Angola registou vários choques, como a questão macroeconómica do país, com a redução do poder de compra das famílias, as mudanças climáticas, que afectaram sobretudo a zona sul do país, e a pandemia da covid-19, que também criou grande desestabilização a nível das famílias. Há, contudo, outras razões ocultas, verdadeiros segredos de Estado (corrupção, cleptocracia, esclavagismo etc. etc. etc.).

“Leva a crer que a situação ainda permanece. Esta é a razão pela qual, no ano passado, 100.000 crianças foram tratadas por causa da desnutrição no sul do país”, referiu Frederico de Brito, sublinhando que as crianças tratadas correspondiam a 5% do universo de menores nessa região.

“O estudo de 2015 mostrava que 5% das crianças eram desnutridas, então isso leva-nos a crer que há uma manutenção desse problema, sobretudo na zona sul – ainda não temos entendimento do país no geral -, mas a nível do sul do país ainda se mantém a situação”, vincou.

Recorde-se que, em Julho de 2008, os líderes das oito economias mais industrializadas do mundo (G8), reunidos no Japão numa cimeira sobre a fome, causaram espanto e repúdio na opinião pública internacional, após ter sido divulgada aos órgãos de comunicação social a ementa dos seus almoços de trabalho e jantares de gala.

Reunidos sob signo dos altos preços dos bens alimentares nos países desenvolvidos – e consequente apelo à poupança -, bem como da escassez de comida nos países mais pobres, os chefes de Estado e de Governo não se inibiram de experimentar 24 pratos, incluindo entradas e sobremesas, num jantar que terá custado, por cabeça, a módica quantia de 300 euros.

Trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e uma selecção de queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas eram apenas alguns dos pratos à disposição dos líderes mundiais, que acompanharam a refeição da noite com cinco vinhos diferentes, entre os quais um Château-Grillet 2005, que estava avaliado em casas da especialidade on-line a cerca de 70 euros cada garrafa.

Não faltou também caviar legítimo com champanhe, salmão fumado, bifes de vaca de Quioto e espargos brancos. Nas refeições estiveram envolvidos 25 chefs japoneses e estrangeiros, entre os quais alguns galardoados com as afamadas três estrelas do Guia Michelin.

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