MAIS HOSPITAIS SEM MÉDICOS? ASSIM NÃO!

No Dia do Médico Angolano, a ministra da Saúde, Sílvia Lutukuta, anuncia a construção de mais unidades hospitalares em todo o país até 2027. Médicos respondem para lembrar que “construir unidades hospitalares sem apostar na formação de mais médicos de especialidade e na melhoria das condições salariais e de trabalho dos profissionais do sector, nunca se vai conseguir alcançar a melhoria da oferta de serviços de saúde a população ambicionado pelo Executivo”.

Por Geraldo José Letras

A melhoria dos serviços de saúde prestados à população não passa unicamente pela construção de unidades hospitalares pelo país. É preciso acompanhar ao mesmo ritmo o programa de construção de unidades hospitalares com a melhoria das condições salariais e de trabalho dos profissionais da saúde, bem como investir com seriedade e rigor na formação de médicos de especialidade, porque “o número de médicos especialistas ainda está longe de satisfazer metade das necessidades do país”.

De acordo com os médicos ouvidos pelo Folha 8, por ocasião do Dia do Médico Angolano assinalado nesta sexta-feira, 26 de Janeiro, “Angola forma mais enfermeiros que médicos de especialidades”, e “dos médicos formados, a maioria são da área de medicina geral”.

Na visão do médico e docente, Luzitu Tussamba (foto), o Estado através do Ministério da Saúde deve apostar em bolsas de estudo internas e externas para “fomentar a especialização dos médicos gerais”.

Luzitu Tussamba reconhece que “há, entre a classe médica, profissionais que têm pecado no atendimento humanizado dos que buscam pelos serviços de saúde nas unidades hospitalares”, contudo, alerta a Ministra do sector (enquanto auxiliar do Titular do Poder Executivo) para a necessidade de defender a melhoria dos salários e condições de trabalho dos profissionais da classe que, “muitas vezes, se vêem em situações difíceis de trabalho. Sem materiais gastáveis nem medicamentos para exercer a profissão em auxílio do cidadão que acorre para as urgências da unidade hospitalar”.

Por ocasião da efeméride, a Ministra da Saúde, Sílvia Lutukuta, reconheceu limitações no sector, segundo ela, “próprias do actual contexto”, porém disse observar “avanços substanciais nos serviços de saúde oferecidos às populações”.

“Nos últimos cinco anos (2018-2023), o número de profissionais do Serviço Nacional de Saúde cresceu a todos os níveis de prestação de serviços, permitindo o incremento de 40,5% do total da força de trabalho do sector, 80% dos quais estão colocados nos municípios, no intuito de fortalecermos o primeiro nível de atendimento em saúde, constituído pelos cuidados primários de saúde”, fez um balanço antes de se comprometer em continuar a investir no sector de Saúde do país. Não apenas no domínio das Infra-estruturas “onde o país se dotou nos últimos 5 anos, de mais unidades hospitalares de terceiro nível, com equipamento e tecnologias de ponta, para um atendimento especializado de excelência, mas também no capital humano, onde já está em implementação um projecto ambicioso de formação de cerca de 38.000 profissionais de saúde das diferentes carreiras dos regimes especial e geral, entre os quais 3 mil médicos até 2027”.

“Esse investimento, em infra-estruturas e em capital humano, apenas terá os almejados frutos junto das nossas populações se os profissionais de saúde em geral e os médicos em particular continuarem na senda do compromisso incondicional com a ética e deontologia médicas, resultando num atendimento tecnicamente competente e humanamente solidário e compassivo. Tal como provas dadas no passado, contamos hoje como ontem e amanhã, com os médicos angolanos nessa nobre e ingente missão”, diz Sílvia Lutukuta.

O Dia do Médico Angolano passou a ser assinalado desde a proclamação da Ordem dos Médicos de Angola, a 26 de Janeiro de 1991, para aprofundar a reflexão sobre o exercício e o papel da actividade do profissional de medicina na sociedade angolana.

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