LEITURA À MEDIDA DA DITA DURA

Para (supostamente) promover a massificação da leitura no seio da população e contribuir para o desenvolvimento humano, foi aprovado o projecto de Decreto Presidencial sobre o Plano de Leitura 2024-2027 (PLANALEITURA) pela Comissão para a Política Social do Conselho de Ministros, numa reunião orientada pela ministra de Estado para a Área Social, Maria Bragança.

No final da reunião, a ministra da Educação, Luísa Grilo, disse que o Plano de Leitura é o resultado da auscultação sobre a sua importância, feita aos professores, editores e académicos.

Um dos aspectos fundamentais do plano, acrescentou, é encontrar e definir um conjunto de obras literárias que devem ser lidas em cada um dos níveis e subsistemas do ensino e produzir espaços para que possa haver leitura em todos os momentos.

O plano perspectiva um conjunto de projectos e de actividades que permitirão o aumento contínuo dos níveis de literacia, nomeadamente, o aumento de infra-estruturas como bibliotecas e mediatecas por toda extensão territorial, apetrechamento de escolas nos mais variados níveis de ensino e capacitação e a formação de mediadores de leitura, professores, entre outros intervenientes, com métodos eficazes de promoção da leitura e de selecção de materiais adequados.

Luísa Grilo elucidou que será acautelado, também, dentro deste Plano a massificação daqueles que escrevem diversas obras.

A ocasião serviu, igualmente, para a ministra da Educação informar que foi realizado, nos dias 12 e 13 do corrente mês, pela primeira vez, o exame de acesso no Ensino Técnico Profissional.

“É muito importante esta ferramenta para termos uma ideia efectiva de qual é o universo de jovens que procuram o Ensino Técnico Profissional, para que nós possamos ver para onde devemos direccionar o Ensino Técnico Profissional”, afirmou.

De igual modo, anunciou a introdução no Ensino Primário de um modelo de orientação curricular baseada na interdisciplinaridade, a partir da 5.ª classe, e da língua francesa.

“Nós pretendemos, e já está articulado com o Plano Nacional de Leitura, que as crianças, ao concluírem a 1.ª Classe, sejam capazes de ler textos simples e fazer cálculos matemáticos também de base”, reforçou a ministra da Educação.

Mais do mesmo, seis por meia dúzia

Em 2018, o Presidente de Angola (não eleito), general João Lourenço, em conjunto com o Presidente do MPLA e com o Titular do Poder Executivo, anunciou a criação de uma comissão, mais uma, multissectorial para o acompanhamento e implementação da Política Nacional do Livro e da Leitura, coordenada pela então ministra da Cultura, Carolina Cerqueira.

Segundo uma nota de imprensa da Casa Civil do Presidente da República, a comissão visava, entre outras metas, elaborar e submeter propostas de actos normativos e administrativos de competências do Titular do Poder Executivo, propor e implementar o Plano Nacional de Leitura com o envolvimento dos departamentos ministeriais competentes, assim como apoiar iniciativas que visam conferir ao livro infantil prioridade na política livreira, desde o processo de criação ao de distribuição.

Por outro lado, iria também avaliar e propor medidas que visassem o crescimento da indústria livreira, estimular o uso da capacidade gráfica nacional disponível e a concorrência.

Além do Ministério da Cultura, a comissão integrava também os departamentos governamentais da Indústria, Comércio, Turismo, Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação, Comunicação Social, Educação, Acção Social, Família e Promoção da Mulher.

Os secretários do Presidente da República para os Assuntos Sociais, de Comunicação Institucional e de Imprensa, bem como o director do Gabinete de Quadros também faziam parte da comissão.

A comissão integrava ainda os directores-gerais da Biblioteca Nacional de Angola e do Instituto Nacional das Indústrias Culturais e Criativas, representantes da União dos Escritores Angolanos (UEA), da Academia Angolana de Letras (AAL), das entidades de gestão colectiva, das associações de editores, livreiros, distribuidores de livros, produtos livreiros e afins, das instituições de ensino médio e superior no domínio das letras, ciências sociais e artes, das associações religiosas e responsáveis das autoridades tradicionais.

A comissão seria (foi, é) apoiada por um grupo técnico, integrado pelos representantes dos departamentos ministeriais e tem um mandato de cinco anos, contados a partir da sua entrada em vigor.

Ainda antes deste anúncio, a ministra da Educação defendeu que uma implementação de uma política do livro poderia revolucionar os aspectos fundamentais relacionados com a melhoria da qualidade do processo de ensino e aprendizagem em Angola.

A governante esperava que, através de um espírito de diálogo e cooperação, se pudesse enriquecer o conteúdo da política do livro escolar, permitindo que a sua vigência sirva para o aumento dos níveis de literacia dos alunos e, consequentemente, na valorização do capital humano nacional.

Para a então Ministra da Educação, Maria Cândida Teixeira, os livros escolares desempenhavam um papel “preponderante”, pois contêm conteúdos científicos relevantes, previamente seleccionados em conformidade com a sua política curricular.

“São os recursos didácticos que propiciam as condições de aprendizagem dos alunos e facilitam essas condições e facilitam também o trabalho docente”, sustentou.

Por falar em livros

Estudantes da Escola Superior de Hotelaria e Turismo de Angola manifestaram-se no dia 13 de Agosto de 2018 preocupados com a falta de infra-estruturas adequadas para o curso e a inexistência de estágios internos, recebendo (sem nada pagar em troca, recorde-se) garantias do Governo de que iria tomar “medidas práticas”.

A então ministra do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação, Maria do Rosário Sambo, considerou “legítimas” as preocupações dos estudantes, tendo apontado “medidas práticas” para inverter a situação.

“As medidas práticas para inverter esta situação são precisamente aquelas que têm a ver com a criação de maiores oportunidades de estágios, como locais privilegiados para que a formação desses estudantes não seja meramente teórica”, adiantou.

“Todas as unidades que existem e que estão ligadas ao turismo no seu todo, e desde que a Universidade Agostinho Neto (UAN) apresente propostas, no quadro da sua autonomia, devem criar condições para que a formação dos estudantes possa ser melhorada”, assegurou.

Para responder às preocupações dos estudantes, a reitora em exercício da UAN, Antonieta Baptista, prometeu apoiar os alunos com 15 livros sobre gestão de turismo, bem como instalar naquele estabelecimento uma biblioteca virtual. Quinze livros. A UAN não se poupa a esforços. É algo nunca visto… É que não são dois ou três, são um montão deles: 15!

É claro que há livros e livros, há leitores e leitores. Livros são os escritos por Agostinho Neto. Leitores a sério são todos aqueles que lêem este autor e nada mais do que isso. Leitores menores são os que, por exemplo, gostam de ler Gene Sharp.

E depois ainda nos admiramos de Angola ter tantos analfabetos funcionais. Ou seja, até têm diplomas de cursos superiores, sabem ler e escrever, mas não lêem nem escrevem. E, é claro, acabam por ser dirigentes partidários, deputados, governadores, generais e até membros do Governo.

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